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Violência nas escolas – Vox Pop

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UM PESADELO CHAMADO ESCOLA

A violência nas escolas, exercida de diversas formas sobre professores ou outros profissionais da instituição de ensino, tem vindo a registar um considerável e assustador aumento no Canadá e especificamente na GTA. Apesar de não ser uma realidade exclusiva do país, tem vindo a causar uma cada vez maior preocupação: as ocorrências, que já se tornaram diárias – e acontecem desde os jardins de infância até ao ensino secundário -, levam muitas pessoas a perguntar “mas, afinal, onde é que isto vai parar?”. As ameaças têm-se transformado em agressões físicas, verbais e/ou psicológicas, que são praticadas não só por alunos mas também por parte dos pais ou encarregados de educação, resultando numa clara perda de autoridade por parte dos professores e auxiliares – muitos deles relatam sofrer de transtorno de stress pós-traumático e, como resultado, incapacidade de curto a longo prazo.

A comunicação social vai dando conta de diversos casos desta natureza, mas parece que nada nem ninguém – incluindo os vários níveis de governo – conseguem criar meios ou soluções para travar esta realidade. O jornal Milénio Stadium procurou ouvir a opinião de diferentes pais/encarregados de educação sobre a atual situação do sistema educativo: o que nos trouxe até aqui, quem é responsável, o que deve ser feito e quais as são consequências para todos os envolvidos neste pesadelo em que se tem tornado um local que deveria ser de alegria, partilha e aprendizagem.

Jéssica Marcelo

O que pensa sobre o que tem acontecido em algumas escolas da GTA – violência física e/ou psicológica sobre professores e educadores, ameaças várias?
Eu penso que esta situação se está a tornar catastrófica. Enquanto mãe e Registered Early Childhood Educator eu sinto que todos os dias são uma insegurança, quer ter os meus filhos na escola como também ir trabalhar.
Para além disso, eu vivo muito próximo de uma escola que se tem manifestado bastante problemática e inclusive já fui assaltada em outubro passado na área, o que me deixa ainda mais insegura em relação à segurança nas escolas e também quanto à segurança pública.

Acha que na base desta situação pode estar a perda de autoridade dos professores e educadores/assistentes perante os alunos?
Completamente! E também estou de acordo que hoje em dia os pais não têm a vida facilitada em termos laborais, o que os impede de passar mais tempo com as crianças e jovens e aperceberem-se de certos sinais chave bem como ter mais tempo para mostrarem o exemplo.
Como também acho que a situação pandémica da COVID influenciou no excesso de informação e desinformação devido às componentes on-line e também devido à privação de socialização dessas crianças e jovens.

Acha que as próprias escolas têm um certo grau de culpa para que a violência ocorra? Deviam, também elas, adotar medidas preventivas para evitar a situação e até oferecer acompanhamento (até em período pós-escolar) nos casos em que tal se revele necessário?
Não concordo que as escolas tenham a culpa maioritária, pois acredito plenamente que a educação e os modelos devem partir de casa. Contudo acredito que um plano preventivo ajudasse neste flagelo.

Qual é o papel/responsabilidade dos pais neste contexto de violência nas escolas?
Como referi, penso que os pais devem estar mais presentes e ter acesso ao dia a dia dos seus filhos, isto é, ter acesso às suas aplicações on-line, manter um diálogo estreito com a escola e professores e trazer e explicar assuntos sobre violência com os seus educandos.

Mas muitas vezes as ameaças ou agressões não são feitas apenas pelos alunos, mas também pelos próprios pais. Consegue perceber porquê?
Eu penso que é uma forma de os pais se camuflarem e não assumirem a sua culpa em relação à própria educação dos filhos.

Para além da própria escola, na sua opinião, o que mais poderia e deveria ser feito – e por parte de quem – para travar esta realidade?
Acho que poderiam ser criadas iniciativas como atividades para crianças e jovens em horário pós-letivo que fossem acessíveis a todas crianças e jovens.

Acha que tem sido dada, por parte do governo e das autoridades, a importância que o assunto merece?
Claramente que não! O governo tem falhado na educação em todos os aspetos! Falta segurança e motivação no trabalho, onde também não assumem a sua responsabilidade, o que aumenta e piora a situação que se está a manifestar!

Mandy Pereira

O que pensa sobre o que tem acontecido em algumas escolas da GTA – violência física e/ou psicológica sobre professores e educadores, ameaças várias?
É horrível e assustador. Não posso acreditar como as escolas estão fora de controlo neste momento. Também não são só as escolas secundárias. Está a acontecer nos níveis mais jovens.

Acha que na base desta situação pode estar a perda de autoridade dos professores e educadores/assistentes perante os alunos?
Parece que assim é. Penso que estar em casa, devido à pandemia, não ajudou. As pessoas esqueceram-se de como se comportar. Quem sabe o que as crianças estavam a passar em casa durante esse tempo, agora chicoteiam.

Acha que as próprias escolas têm um certo grau de culpa para que a violência ocorra? Deviam, também elas, adotar medidas preventivas para evitar a situação e até oferecer acompanhamento (até em período pós-escolar) nos casos em que tal se revele necessário?
Penso que as escolas assumem um grau de culpa por não acompanharem as consequências, mas sinto que todos têm tanto medo que não o fazem. As crianças podem ver fraquezas e vão aproveitar-se delas.

Qual é o papel/responsabilidade dos pais neste contexto de violência nas escolas?
Os pais têm o papel mais importante porque o respeito é ensinado em casa. No entanto, os pais não estão sequer a ser respeitosos com o pessoal da escola e por isso as crianças imitam isso.
Mas muitas vezes as ameaças ou agressões não são feitas apenas pelos alunos, mas também pelos próprios pais.

Consegue perceber porquê?
Essa é uma grande questão para a qual não tenho uma resposta.

Para além da própria escola, na sua opinião, o que mais poderia e deveria ser feito – e por parte de quem – para travar esta realidade?
Isto tem de ser tratado com a escola e a comunidade em geral. As escolas precisam de envolver social workers, o “board”, os pais, os líderes comunitários, todos, para que possamos voltar a ter isto sob controlo.

Acha que tem sido dada, por parte do governo e das autoridades, a importância que o assunto merece?
Não sei o que o governo pode fazer, a não ser dar dinheiro aos conselhos de administração para contratar pessoas para ajudar com o problema, mas dito isto, não, acho que ninguém está a levar isto a sério e as nossas crianças estão literal e figurativamente a sofrer na escola.
Em geral, tenho esperança de que isto seja um “blip”. Estamos num ponto em que as crianças estiveram em casa e fora de uma rotina durante muito tempo. Esqueceram-se de como se comportar em ambientes escolares. Temos pais que têm estado sob muito stress nos últimos anos (primeiro a pandemia e agora com a inflação e uma recessão). As pessoas perderam tanto nos últimos anos, que estão nos seus pontos de rutura.
Vemos que os problemas não se encontram apenas nas escolas. A violência nas nossas ruas aumentou e estamos a ter, o que eu considero, uma crise de saúde mental bastante grave. Dito isto, ainda tenho esperança de que isso passe, que as coisas melhorem e que todos possamos voltar às nossas vidas. Só precisamos todos de trabalhar em conjunto para garantir que isso aconteça.

Marilene Santos

O que pensa sobre o que tem acontecido em algumas escolas da GTA – violência física e/ou psicológica sobre professores e educadores, ameaças várias?
Penso que é terrível. As escolas deveriam ser sempre um dos lugares mais seguros, onde todos os alunos e professores se devem sentir confortáveis para se poderem concentrar no seu trabalho.

Acha que na base desta situação pode estar a perda de autoridade dos professores e educadores/assistentes perante os alunos?
Sim, sem dúvida! Há uma grande perda de autoridade em geral na nossa sociedade. Infelizmente, hoje em dia todos em cargos de autoridade têm medo de tomar decisões que possam ser mal interpretadas.
Vivemos numa sociedade onde tudo pode ser visto como demasiado e se a queixa for feita a pessoa pode perder o emprego. Temos um grande problema de pais que estão sempre prontos para apontar os dedos às pessoas de autoridade mas nunca assumem responsabilidade pelas ações dos seus filhos.

Acha que as próprias escolas têm um certo grau de culpa para que a violência ocorra? Deviam, também elas, adotar medidas preventivas para evitar a situação e até oferecer acompanhamento (até em período pós-escolar) nos casos em que tal se revele necessário?
Acho que as escolas não deveriam ter de se preocupar com estes acontecimentos, mas dado que o problema está presente e fora de controlo têm que fazer alguma coisa para resolver o problema. Acho que todas as escolas que estão com estes problemas deveriam ter alguma forma de segurança presente para patrulhar a escola e que seja responsável por estar de vigilância. O problema é que isto tem de ser acompanhado por regras rigorosas onde se alguém é encontrado com alguma arma ou a fazer algo que não deve, tem de ser punida gravemente para que sirva de exemplo para ninguém repetir. Também acho que as escolas têm de agir rápido logo que haja qualquer queixa para não deixar o problema ficar pior. O período pós-escolar deve ser da responsabilidade dos pais e não das escolas.

Qual é o papel/responsabilidade dos pais neste contexto de violência nas escolas?
Eu acho que a maior responsabilidade é dos pais. Os pais devem educar os seus filhos desde pequenos para respeitar as autoridades e todos em geral e fazê-los entender que violência não é aceitável de nenhuma forma.
A minha avó dizia: “é de verde que se verga a cana” ou “é de pequenino que se torce o pepino”. A educação vem de casa. Hoje em dia todos querem a solução da sociedade/do governo sem tomar responsabilidade própria.
Mas muitas vezes as ameaças ou agressões não são feitas apenas pelos alunos, mas também pelos próprios pais.

Consegue perceber porquê?
Não dá para perceber porquê, mas temos uma geração de pais que não quer acreditar que os filhos são capazes de errar e não aceitam que os seus filhos sejam punidos. Acham que é sempre culpa de outra pessoa.

Para além da própria escola, na sua opinião, o que mais poderia e deveria ser feito – e por parte de quem – para travar esta realidade?
Esta realidade só pode mudar quando o nosso sistema judicial mudar. Temos de ter leis mais rigorosas que punam qualquer indivíduo responsável por agressões e ameaças. Temos que mostrar que se alguém fizer estas coisas vai ser punido, para que haja respeito pela lei em geral.

Acha que tem sido dada, por parte do governo e das autoridades, a importância que o assunto merece?
Acho que agora estão todos em estado de pânico, a tentar encontrar resolução para um problema que se deixou ficar fora de controlo. Acho que temos que voltar a um sistema onde as autoridades não tenham medo de agir. Tem de haver leis rigorosas que devem ser exercidas sem medo de ofender ninguém. É lei, tem de ser respeitada.

Gilson Sobral

O que pensa sobre o que tem acontecido em algumas escolas da GTA – violência física e/ou psicológica sobre professores e educadores, ameaças várias?
A tendência com o aumento populacional desgovernado e o aumento da violência. Penso que esse tipo de problema tende a crescer por conta da permissividade da sociedade na qual vivemos.

Acha que na base desta situação pode estar a perda de autoridade dos professores e educadores/assistentes perante os alunos?
Os pais têm se preocupado em ser amigos dos filhos e têm abandonado a missão paterna. Esse tipo de comportamento dos alunos é fruto do convívio do lar.

Acha que as próprias escolas têm um certo grau de culpa para que a violência ocorra? Deviam, também elas, adotar medidas preventivas para evitar a situação e até oferecer acompanhamento (até em período pós-escolar) nos casos em que tal se revele necessário?
Não se repreende mais, não se reprova mais, não se combate o mau comportamento. As crianças de hoje não têm mais limites.

Qual é o papel/responsabilidade dos pais neste contexto de violência nas escolas?
Educar para que a criança não agrida jamais e de forma nenhuma aceite ser agredida, ou aceite ver, ou conviver com agressão.

Mas muitas vezes as ameaças ou agressões não são feitas apenas pelos alunos, mas também pelos próprios pais. Consegue perceber porquê?
Não consigo entender o porquê, mas em casos assim, acho que a polícia tem que ser acionada!

Para além da própria escola, na sua opinião, o que mais poderia e deveria ser feito – e por parte de quem – para travar esta realidade?
Educação familiar! Crianças de hoje não sabem ouvir não. Não sabem lidar com a frustração. Temo pelas próximas gerações.

Acha que tem sido dada, por parte do governo e das autoridades, a importância que o assunto merece?
Não. O governo está muito mais preocupado com agendas politicamente corretas! Acho que o futuro de tudo isso é muito ruim!

Inês Barbosa/MS

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