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“Uma pessoa pode descobrir que as suas atrações se expandem ou mudam à medida que envelhece ou adquire diferentes experiências de vida” – Sari van Anders

 

Shawn Mendes trouxe recentemente para a praça pública (de novo…) o que tem sido viver com questionamentos constantes sobre a sua sexualidade. O cantor de 26 anos, como figura pública que é, tem sido sujeito ao que a imprensa e os fãs se sentem no direito de lhe exigir: uma definição clara do quem é, no que à sua orientação sexual diz respeito. Cansado de anos e anos de perguntas intrusivas, de comentários sobre as suas preferências sexuais, da sua forma mais ou menos feminina de ser, Shawn Mendes, falou sobre o assunto, abertamente, entre músicas num concerto dizendo: “Desde muito jovem, há essa coisa sobre a minha sexualidade, as pessoas falam sobre isso há tanto tempo… Eu acho isso não tem sentido, porque acredito que a sexualidade é uma coisa tão lindamente complexa, e é tão difícil de ser julgada. Isso sempre me pareceu uma intrusão em algo muito pessoal para mim. Algo que eu estava a descobrir em mim mesmo, algo que eu ainda tinha que descobrir e ainda tenho que descobrir”.

Com este tipo de discurso, Mendes, por um lado, mostra ao mundo como o perturba que mexam com algo tão íntimo, mas por outro lado, evidencia que, na sua cabeça, ainda não está clara a sua orientação sexual. E teria que estar? Eis a questão. Até que ponto a definição do que somos, no que diz respeito a orientação sexual, é imutável? Que papel tem um psicólogo ou sexólogo em situações como esta?

Nem sempre é fácil reconhecer quando o sexólogo é essencial na vida das pessoas. Muitas vezes, essa ausência de reconhecimento, acontece por questões culturais, desinformação e até mesmo medos relacionados com o que se sente relativamente à sexualidade. A atuação de um sexólogo é abrangente e relaciona questões de saúde, com a educação, até o tratamento de traumas e disfunções sexuais.

Mais do que visar o tratamento terapêutico de determinada sintomatologia o papel de um sexólogo é também promover uma compreensão mais profunda da sexualidade humana e melhorar o bem-estar emocional e psicológico dos indivíduos.

Para esta edição do jornal Milénio em que procuramos saber como agir quando alguém se encontra num processo de dúvida sobre a sua orientação sexual, conversámos com Sari van Anders, Professora de Psychology, Gender Studies, & Neuroscience na Queen’s University. Uma mulher que tem dedicado grande parte da sua vida académica a um programa de investigação que se centra na investigação sexual, género/sexo e diversidade sexual.

Milénio Stadium: É possível que a orientação sexual mude ao longo do tempo?
Sari van Anders: Uma pessoa pode experimentar mudanças na sua orientação sexual ao longo do tempo, mas as outras pessoas não podem mudar a orientação sexual de um indivíduo. Assim, uma pessoa pode descobrir que as suas atrações se expandem ou mudam à medida que envelhece ou adquire diferentes experiências de vida, mas as provas são claras de que as pessoas não podem conscientemente – ou inconscientemente – mudar a sua própria orientação sexual.

MS: Que tipo de perturbação mental pode ser desencadeada por dúvidas sobre a sexualidade? Estados de ansiedade, depressão, isolamento social…?
SvA: As pessoas que sofrem discriminação, preconceito e estigma em relação à sua sexualidade podem sofrer uma série de problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e isolamento social. Existe um fenómeno relacionado chamado “stress das minorias”, em que as experiências quotidianas de homofobia, bifobia e outros tipos de atitudes e práticas discriminatórias podem afetar a saúde mental e o bem-estar físico das pessoas, incluindo as que pertencem a minorias sexuais e/ou grupos LGBQ.

MS: Qual é o papel dos pais quando os filhos estão numa fase de indefinição da orientação sexual?
SvA: Os pais não podem influenciar a orientação sexual de uma criança; só podem influenciar o facto de uma criança sentir estigma ou apoio, vergonha ou positividade, e dor ou amor. A investigação é clara quanto ao facto de o apoio dos pais à orientação sexual dos filhos ser importante para que a criança seja capaz de viver a sua sexualidade de forma positiva ao longo da vida, para relações positivas entre pais e filhos e para diminuir o estigma desnecessário sobre as sexualidades minoritárias. Os pais podem deixar claro que apoiam os direitos das pessoas a viverem as suas vidas sem discriminação, podem partilhar material (por exemplo, livros, redes sociais, filmes) com uma representação LGBQ positiva e podem realçar o quanto amam os seus filhos e os apoiarão nas suas próprias relações e escolhas de parceiros, independentemente do género.

MS: E qual é o papel das escolas? Que tipo de aproximação junto das crianças e jovens pode acontecer ou é aconselhável que aconteça nesta área da sua intimidade?
SvA: As escolas têm um papel importante na educação das crianças sobre relações e sexualidade saudáveis e positivas. Isto inclui informação exata e factual que não ignore as pessoas que têm relações do mesmo género, a história da exclusão e do ativismo e dos ativistas LGBTQ, informação sobre saúde sexual que seja útil para todos e que não pressuponha a heterossexualidade, e a garantia de que a escola é um local livre de comentários homofóbicos, transfóbicos, bifóbicos e de outros tipos de ódio.

MB/MS

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