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“Uma monarquia dá-nos um chefe de Estado apartidário”

Depois da Segunda Guerra Mundial na Europa sobreviveram 10 monarquias, uma delas foi a britânica, a que é agora acusada por Meghan Markle de ser racista. A Família Real prometeu analisar a situação longe dos holofotes, mas William, irmão de Harry, garantiu, numa das suas últimas aparições, que a sua família não é racista. Mas, afinal quais são as vantagens da monarquia e de que forma é que ela afeta a vida dos canadianos no dia a dia?

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No Canadá existe uma organização nacional cujo papel é promover a monarquia canadiana. A Monarchist League of Canada existe desde desde os anos 70 e atribui a si própria cinco grandes conquistas: conseguiu que a BC Ferries revertesse a sua intenção de remover as fotos da Rainha dos seus navios; impediu que o Governo de Mulroney abolisse a Victoria Cross da principal condecoração do Canadá; impediu a remoção da Rainha do Juramento de Cidadania; obrigou o Canada Post a emitir um selo postal de primeira classe da Rainha como um item obrigatório a ser vendido em todos os postos de correio do país e obrigou o Canada Post a reverter o cancelamento da emissão de um selo postal para homenagear o 100.º aniversário da Rainha.

A Liga argumenta em entrevista ao Milénio Stadium que ter um chefe de Estado apartidário é muito melhor do que ter um presidente político como chefe de Estado e dá alguns exemplos. “Acho que a última coisa de que precisamos no Canadá é outro político para ser franco. E digo isto com todo o respeito pelos meus amigos políticos. Por exemplo, a Rainha desempenhou um papel significativo usando a sua influência para acabar com o Apartheid na África do Sul. Ou o ex-vice-governador de Ontário, James Bartlemen, que usou a sua influência para garantir que as reservas remotas em toda a província recebiam livros. Ou, mais recentemente, o vice-governador de Newfoundland and Labrador que cedeu algum espaço nos terrenos da Casa do Governo para hospedar músicos locais e arrecadar dinheiro para ajudar durante a pandemia. Todos esses são exemplos do chamado poder “suave” que a coroa pode fornecer”.

Robert Finch é o presidente da Liga e garante que a maioria dos canadianos que defende que a monarquia britânica já não faz sentido, na realidade não sabe o suficiente sobre a monarquia. “A educação está no centro daquilo que fazemos e o nosso papel é informar os canadianos sobre a monarquia e como é importante mantê-la. Infelizmente, muitos canadianos não entendem o que é a monarquia, o que é que ela faz ou por que temos uma rainha. Segundo a minha experiência, quanto mais os canadianos aprendem sobre monarquia, mais gostam do conceito de tê-la”, conta.

A monarquia tem dois papéis diferentes no Canadá – o constitucional e o cerimonial -, mas embora as decisões sejam tomadas em nome da Rainha, ela não interfere diariamente na governação política. “O papel constitucional da monarquia gira em torno dos poderes da Coroa quando se trata de como governamos a nós mesmos. No Canadá, o poder executivo é formalmente conferido à Rainha. Isso não significa que ela esteja envolvida na tomada de decisões do dia a dia, é claro – isso é deixado para o Governo. O primeiro-ministro e o gabinete são nomeados pelo governador geral (como o representante da Rainha) e usam os poderes da Rainha na sua governação. Mas, a Rainha é a chefe de Estado. E, porque temos uma monarquia, temos um chefe de Estado apartidário”, explicou.

A monarquia carrega consigo simbolismo, história e cultura, e por isso funciona como um elemento agregador da identidade canadiana que promove a unidade coletiva nacional. “Uma monarquia dá-nos um chefe de Estado apartidário, somos capazes de manter a política e o patriotismo separados. Por outras palavras, alguém pode ser leal à Coroa – e por sua vez ao Canadá – mas não apoiar o Governo da época. Isso permite-nos comemorar o melhor do Canadá sem estar em dívida com o Governo. É por isso que homenagens como a Ordem do Canadá são dadas em nome da Rainha. Um bom exemplo do papel cerimonial da Coroa é uma Royal Tour. Vejam as multidões que vêm ver a Rainha ou um membro da Família Real. Eles têm idades e origens diferentes, falam línguas diferentes, praticam religiões diferentes, vêm de grupos socioeconómicos diferentes e têm pontos de vista políticos diferentes. No entanto, eles estão todos unidos pela Coroa”, informou.

A Liga defende que a entrevista de Harry e Meghan foi injusta e lamenta que as acusações não tenham sido apoiadas com provas. “Acho que não há muito mais a dizer sobre a entrevista. Sinto-me mal por eles e pelo resto da família. Raramente existem vencedores quando se trata deste tipo de entrevista. Suponho que o único ponto positivo é que gera uma conversa mais ampla sobre racismo e saúde mental. Então, é isso. Por outro lado, acho que foi totalmente injusto lançar acusações como essa e não apoiá-las com evidências ou contexto real”, lamentou.

Apesar disso, Finch considera que a entrevista não tem nenhum impacto na relação entre o Canadá e o Reino Unido nem no chamado Commonwealth. “A ligação dos dois países vai muito além da monarquia e o Commonwealth, uma organização internacional que reúne ex-colónias inglesas, é mais sobre cooperação global em comércio, defesa, desenvolvimento, direitos humanos, meio ambiente, etc.”, sublinhou.

A Rainha Elizabeth II é a monarca mais viajada da História e já visitou o Canadá em mais de 22 ocasiões, incluindo na abertura do St. Lawrence Seaway em 1959, no Centenário do Canadá e na Expo 67 em 1967, nas Olimpíadas de Montreal em 1976 e no patrocínio da Constituição canadiana em 1982. Durante estas viagens, a Rainha abriu o Parlamento pela primeira vez em 1957 e 20 anos depois proferiu o Throne Speech. A visita mais recente da Rainha ao Canadá foi em 2010, quando Elizabeth e o duque de Edimburgo celebraram o Dia do Canadá no Parlamento. Nesse mesmo ano, num jantar oficial que decorreu no Fairmont Royal Hotel em Toronto, o então primeiro-ministro Stephen Harper fez um discurso inspirado no hóquei e disse que a Rainha era como “o jogador mais valioso” do Canadá.

Desde meados da década de 1990 que vários elementos da Família Real visitaram o país, inclusive a província de Ontário. Visitas oficiais recentes incluem a visita de Charles e Camilla a Nunavut, Ontário e a Otava para assinalar os 150 anos da Confederação Canadiana em 2017. William e Catherine visitaram o país em 2011 e em 2016 trouxeram os filhos. Em 2017 foi a vez de Harry vir a Toronto na condição de patrono dos Invictus Games. Foi então a primeira vez que apareceu em público com aquela que é hoje a sua esposa. Agora as viagens foram suspensas por causa da pandemia, mas tudo leva a crer que numa era pós-pandémica a Família Real vai voltar a visitar o Canadá.

Joana Leal/MS

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