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Uma experiência fora deste mundo

mario ferreira - espaço - milenio stadium

 

Mário Ferreira tornou-se recentemente o primeiro português a voar para o espaço, o que fez dele, oficialmente, o primeiro astronauta português. O voo suborbital da cápsula que transportou o empresário português e os seus companheiros de tripulação subiu acima dos 100km de altitude, o limite considerado internacionalmente “espaço” e vale o título de astronauta a quem o ultrapassa.

Às 15:08, hora de Lisboa, do dia 4 de agosto, a cápsula da New Shepard tocou o solo do Texas em segurança e a 22.ª missão da Blue Origin, a sexta tripulada, foi completada na perfeição.

Até agora o empresário português, proprietário da Douro Azul (entre outras empresas), Mário Ferreira, faz parte de um grupo restrito de 35 pessoas que chegaram ao espaço nestas viagens consideradas turísticas ou de lazer, que começaram há apenas um ano. Há agora apenas três falantes de português nesta lista – dois brasileiros e um português.

No programa Aqui P’ra Nós da Camões Rádio, são diárias as conversas com portugueses que vivem e trabalham algures no mundo e, por isso, fez todo o sentido conversarmos com este português que conseguiu chegar mais alto e mais rápido numa só viagem.Numa entrevista exclusiva, Mário Ferreira contou-nos pormenores sobre essa viagem que ficará para sempre na história da sua vida e já faz parte também da História de Portugal.

 

mario ferreira - milenio stadium

 

Milénio Stadium: Há muitos anos que se estava a preparar para esta viagem, não é verdade Mário Ferreira?
Mário Ferreira: Exatamente. Foram 18 anos de espera. Eu inscrevi-me na Virgin Galactic, fui um dos primeiros e o primeiro email que lhes mandei foi em 2004. Por isso, foi muito tempo de espera, sim. Depois comprei o bilhete logo no início, fui dos primeiros clientes da Virgin Galactic e aquilo não funcionou, não andou para a frente. Agora vi que havia uma oportunidade de ir no voo da Blue Origin, do Jeff Bezos, e foi o que eu fiz.

MS: Mas já estava a perder um bocadinho a esperança de conseguir atingir esse objetivo? Ao fim destes anos todos…
MF: Já! Já há mais de cinco anos que não acreditava no modelo da Virgin. Todos os anos adiavam e eu já não estava a acreditar que fosse possível. Entretanto, apareceu esta oportunidade que eu agarrei com unhas e dentes. Achei que era seguro, achei e, aliás, acho que o modelo que a Blue Origin tem funciona e é muito seguro, amigo do ambiente, porque estamos a falar de um rocket que queima hidrogénio, com oxigénio, por isso o resíduo é vapor de água, não tem emissões de CO2, por isso tudo se juntou na perfeição para que cumprir o sonho.

MS: E porquê esse sonho? O que é que o fazia querer tanto ir ao espaço?
MF: Sabe que isso dos sonhos, vai evoluindo. Eu quando tinha menos de 20 anos o meu primeiro sonho era fazer uma circum-navegação – entrar num navio e dar uma volta ao mundo, começando num lado e acabando no mesmo.

MS: Qual Fernão de Magalhães…
MF: Exatamente. E tinha 20 anos quando consegui realizar este sonho. Por isso os sonhos vão evoluindo e só assim é que a espécie humana evolui. É preciso que as pessoas tenham ambições e sonhos e se vão esforçando por poder concretizá-los.

MS: Pode-se até dizer que a sua história de vida é um exemplo de que quando se quer muito, evidentemente que também é preciso que as coisas se conjuguem e o trabalho resulte, mas quando se quer muito pode conseguir-se atingir os objetivos.
MF: Sim as coisas podem acontecer. Exatamente, isso é verdade. A sorte dá um bocado de trabalho, mas… Por exemplo, estes não são propriamente os melhores tempos para a atividade que nós desenvolvemos, mas nem por isso vamos agora queixarmo-nos todos os dias.

MS: É preciso não baixar os braços, não ė?
MF: Exatamente! É o que nós fazemos.

MS: Antes de falarmos desse “não baixar de braços”, mais concretamente gostava de saber quais foram as sensações que teve quando, de repente, se viu naquele voo no espaço?
MF: Bem, o que lhe posso dizer… aquilo na verdade é uma experiência fora deste mundo (risos). Literalmente. Por isso é tudo muito intenso. Parece pouco tempo, mas todos os minutos, todos os segundos contam e é tudo muito intenso. É tudo muito rápido, estamos a falar em viajar a uma velocidade de 3600 kms/hora. Atenção – 3600kms/hora! Não só eu sou o português que voou mais alto, sou também o português que andou mais rápido.

MS: Uma coisa está ligada à outra, não é? (risos)
MF: Uma coisa está ligada à outra, sim (risos).

MS: Naquele momento, confesse lá, não teve medo?
MF: Tenho que lhe dizer que, por acaso, não. Confesso que não. Nós tivemos ali algum tempo de espera e, nessa altura, há tempo para pensar em muita coisa, como é óbvio e eu pensei que nos últimos minutos antes de partirmos se pusesse desenvolver um bocadinho de ansiedade, mas não. A verdade é que não. Sentia-me perfeitamente bem, sem ansiedade nenhuma, também porque confiei na tecnologia. Acreditei que aquela tecnologia funcionava e isso fez a diferença toda.

MS: E depois quando chegou ao ponto mais alto do voo, quando tirou aquela fotografia com a bandeira portuguesa…, o que é que via? Quer dizer olhando pela janela, deu para apreciar minimamente a “paisagem”?
MF: Sim. Como lhe disse aquilo acontece tudo muito rápido, mas sim, a resposta é sim. São momentos mágicos. Basta olhar lá para fora…, mas é difícil encontrar palavras para descrever. É muito difícil. Aquilo tem que se viver. O que lhe posso dizer é que é uma sensação boa, interessante, diferente, mas nós ficamos um bocado baralhados porque o facto de estarmos na ausência de gravidade baralha-nos um bocado o cérebro. O sangue está habituado a circular na cabeça tendo em conta a gravidade e quando não a temos o sangue começa a fluir de uma maneira diferente. (risos) Não sabe muito bem qual é o caminho (risos).

MS: Quando o Mário aterrou e, principalmente, no dia seguinte quando fez a sua primeira publicação nas redes sociais sobre a viagem, disse que acreditava no futuro destes voos e até no seu potencial de negócio relacionado com o turismo. Como grande empresário que é, era homem para investir neste tipo de negócio, para além dos negócios de barcos que tem?
MF: Sim, eu acho que um dos grandes negócios turísticos do futuro no mundo irá passar certamente pelo espaço. Não tenho dúvidas disso, mas eu já acho isto há muito tempo, não é de agora. Já digo isto há 18 anos. Aliás, tanto digo que nós ficámos representantes da Virgin Galactic para Portugal. Foi pena aquilo nunca ter acontecido, mas isto é só para lhe dar nota de quanto nós acreditamos que isto pode ser um grande negócio. Mas eu acho que aquilo que será o grande negócio, e que vai existir uma lista de espera substancial, serão os voos orbitais. Em que você vai para um resort orbital e poderá navegar (fazer a mesma coisa que lhe disse há pouco…), dar a volta ao mundo, mas no espaço. E isso permite-lhe ver 16 e 17 pôr do sol, num dia (24 horas). São momentos muito engraçados e acho que podendo… é para isso que também contribuem, neste momento estes voos, para que os preços possam ficar mais acessíveis, mais convidativos para que se possa democratizar mais as viagens até ao espaço. E se estas viagens não forem poluentes e tiverem a qualidade destas que a Blue Origin tem, acho que serão um produto turístico muito interessante.

MS: Portanto, não estamos a falar de algo que pertence ao mundo da ficção científica…
MF: Não. Isto já está a acontecer. Já existem neste momento três empresas que estão a desenvolver resorts orbitais.

MS: Conhecendo a história de vida (como empresário) do Mário Ferreira, podemos adivinhar que algum dia vamos ter um resort orbital da sua empresa?
MF: Não diria, se calhar, todo nosso, mas não estaria fora de questão, nós participarmos numa operação dessas.

Madalena Balça/MS

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