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Um sonho realizado

lenita lopes - milenio stadium

 

Ser mãe! O desejo de ser mãe vem desde sempre na vida de Lenita Lopes. A paixão por crian-ças foi determinando os seus caminhos profissionais. Ainda jovem estudante na High School e mais tarde como estudante universitária, Lenita já dava apoio voluntário em Day Care’s. Esco-lheu a educação como modo de vida e dedicou grande parte da sua vida, até agora, ao ensino. Sempre rodeada de crianças, a quem dava toda a sua dedicação profissional. Os filhos dos ou-tros davam-lhe a certeza de que um dia teria também ela um filho nos braços.

A vida foi-lhe adiando o sonho, mas nunca lhe apagou a esperança de um dia ser mãe. William Xavier nasceu no passado dia 3 de janeiro e cumpriu o sonho da sua mãe. Lenita é hoje uma mulher mais feliz e realizada e agora, com o seu filho ao colo enquanto falava connosco, transmitiu-nos a certeza de que tudo valeu a pena. O pequeno Xavier ainda não sabe que foi concebido de uma forma especial. Um dia saberá e vai orgulhar-se ainda mais da mãe que não desistiu de lhe dar vida.

A caminhada foi longa, dolorosa e dispendiosa, mas agora Lenita Lopes sabe que tudo valeu a pena! Xavier foi concebido através de uma fertilização “in vitro”, com dador. É filho de uma mãe solteira, que não tendo nenhum relacionamento na altura, decidiu enfrentar todas as eta-pas sozinha. No entanto, nunca lhe faltou o amparo e força da mãe e restante família e ami-gos. E continua a não faltar. Xavier é e será um bebé sempre envolto em amor. Muito amor mesmo. Sempre com a sua mãe, que não gosta da designação “single mom by choice” porque como a própria diz “não se tratou de uma escolha, mas sim da circunstância”.

Milénio Stadium: O que a levou a tomar a decisão de ter um filho (com dador) usando a técni-ca fertilização “in vitro” ou IVF em inglês?
Lenita Lopes: Eu sempre quis ser mãe e não estava num relacionamento com ninguém. Depois aconteceu que numa ida ao médico, descobriram que eu tinha “fibroids” (miomas) e atenden-do à minha idade na altura, fui aconselhada a tirar o útero. E eu quando os ouvi a falar assim fiquei um bocadinho em pânico e disse logo que isso não era uma opção. Então fui operada para tirar o mioma e logo a seguir fui encaminhada para uma clínica que era um Trial Facility, mesmo na baixa de Toronto, o que foi bom para mim porque era perto de casa. Todo o proces-so era feito de manhã muito cedo e isso ajudou-me porque também nunca quis pedir nada no trabalho. Mas este processo não se desenvolveu de repente. Nos primeiros tempos não estava a dar certo e não conseguia ficar grávida. Então decidi fazer um “break”, durante a pandemia, até para me reorganizar financeiramente e só quando me senti pronta, com a ajuda das assis-tentes sociais de lá, comecei o processo de novo. E graças a Deus veio este menino.

MS: Como foi o momento de saber que estava grávida?
LL: Foi feliz, mas eu estava com medo e então não contava a ninguém. Por isso, foi um mo-mento de felicidade, mas com muita cautela.

MS: Não sendo uma mãe jovem e sendo uma mãe solteira, que preocupações tem agora que tem o seu filho ao colo? Por exemplo, a idade é um peso?
LL: Não. Porque no processo aconselharam-me a ser acompanhada por uma psicoterapeuta e ela conseguiu que eu integrasse um grupo de mães que em inglês se chamam “singles by choi-ce”. Eu não gosto do nome, porque não foi escolha, foi circunstância. Mas essas sessões do grupo deram-me esperança porque eu era mais nova do que muitas do grupo (algumas com 48, 49 anos…). Para além disso, também fiquei com esperança de saber que muitas estavam a fazer todo o processo com óvulos doados e isso animou-me – ficar a saber que se não conse-guisse com os meus óvulos poderia ficar grávida com óvulos doados. Só fiquei preocupada por-que financeiramente ia encarecer todo o processo, mas felizmente não foi necessário. Assim ficou caro, mas ficou numa quantia que eu podia suportar.

MS: Essa também é uma questão importante – o processo todo, de vários anos – foi todo fi-nanceiramente suportado por si ou teve apoio de alguma instância governamental.
LL: No tempo em que comecei o processo eu tinha um bom seguro, com o governo federal. Aqui no Ontário cada mulher tem direito a um “egg retrieval” (retirada de óvulos) e só isso va-le mais ou menos 70 mil dólares, fora os medicamentos. O meu seguro cobriu cerca de 80% do valor dos medicamentos. Depois paga-se também para os óvulos serem congelados. A psicote-rapia também fui eu que paguei.

MS: Portanto, este é um procedimento que não é acessível a toda a gente.
LL: Não. Infelizmente, não. O Governo dá uma oportunidade (e mesmo assim não paga tudo). No Reino Unido, por exemplo, o Governo paga três tentativas e ainda paga também os medi-camentos. Por isso eu acho que aqui não há apoio suficiente. Deviam dar mais.

MS: E agora que tem um filho nos braços que tipo de apoio recebe? Pelo facto de ser mãe sol-teira tem mais apoio do que teria se tivesse engravidado tendo um relacionamento?
LL: Não, não tenho um apoio maior pela circunstância de ser solteira e ter feito a IVF com doa-dor.

MS: Mas considera isso justo?
LL: Acho que cada caso devia ser analisado individualmente. Não devia ser igual para todos, mas deviam olhar para cada pessoa e a sua circunstância.

MS: Como católica, muito religiosa, como enfrentou esta gravidez?
LL: Eu acho que a Igreja tem que evoluir e, portanto, eu não esperei que o Vaticano me disses-se o que eu devia fazer. Deus tem um plano e sabe. Isto é algo que fiz, em parte, com Deus. Ele esteve sempre ao meu lado nesta caminhada.

MS: E agora? O futuro?
LL: Por acaso antes de ele nascer eu já o inscrevi em alguns Day Care (que conhecia porque cheguei a trabalhar em alguns, voluntariamente quando estava no Liceu e na Universidade). Eu volto ao trabalho no próximo ano (dia 3 de janeiro) e nessa altura o Xavier irá para o Day Care. Estou a ver se consigo perto de casa para a minha mãe me ajudar.

MS: A sua família apoiou-a e apoia-a neste processo?
LL: Sim. Tenho a minha mãe, claro, que me apoia desde o início, levava-me à clínica logo de manhã, agora está sempre que preciso, vem ajudar-me de noite… tenho os meus irmãos, as minhas primas e amigas que se sentem tias. Este bebé, para além de mim, naturalmente, vai ter muita gente a amá-lo e a cuidar dele.

Madalena Balça/MS

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