Temas de Capa

Um feliz Dia do trabalhador!

É, de facto, o meu desejo para todos nós neste Dia do Trabalhador que se aproxima.

É um dia especial para todos aqueles que trabalham neste país gigante chamado Canadá.

Nós que escolhemos estas paragens para ganhar o pão, procurar uma vida melhor e um futuro risonho para os nossos filhos e família.

A nossa vibrante comunidade celebra afincadamente este dia, vários sindicatos e associações não se cansam de apregoar e anunciar nos meios de comunicação um dia cheio de alegria.

São vários os locais de celebração e sempre com um programa recheado de acontecimentos para os seus associados que fielmente representam, mediante o pagamento das devidas cotas. Sim porque muitas vezes os trabalhadores são meros números que são representados e defendidos, apenas e só, mediante dedução pecuniária do seu cheque semanal.

A última década trouxe melhorias significativas nas condições de segurança conseguidas pelos trabalhadores apoiados pelos seus sindicatos e por muitas empresas anónimas, que sem muito alarmismo ou publicidade têm melhorado os seus locais de trabalho, quer a nível da segurança, quer em benefícios sociais adquiridos para os seus trabalhadores.

De facto, existem várias empresas na nossa comunidade e não só, que tem gosto, orgulho, respeito e admiração pelo sacrifício e dedicação dos seus funcionários durante uma vida inteira.

É com muita admiração e respeito que olho para os meus colegas que me rodeiam na Companhia onde trabalho e que contam com 10, 20, 30 e mais anos de serviço – isto mostra que, de facto, a empresa cria e mantém boas condições de trabalho e segurança e mostra também o que é um verdadeiro trabalhador , sendo esta a correta e verdadeira definição da palavra pela sua atitude e dedicação.

A este grupo vasto de trabalhadores espalhados por todo o país vindos do exterior vou chamar de documentados, ou seja, aqueles que têm a sua situação legal neste país regularizada. São estes, juntamente com os demais canadianos, que contribuem economicamente para o país pagando as suas taxas, fruto do seu trabalho que nem sempre é reconhecido pelo governo e demais organizações e pessoas.

São estes os que têm feito as grandes conquistas laborais melhorando as suas condições de trabalho à custa de lutas, suor, sacrífico e vidas perdidas e são também estes que hoje gozam de alguma proteção, quer em temos sociais quer no que diz respeito à segurança no trabalho.

Mas e os outros? Sim, os outros.

Aqueles que não aparecem nas estatísticas do desenvolvimento, nas listas oficiais do governo e não aparecem também nos livros de contabilidade de muitas empresas, aqueles que se sujeitam a gravitar e sobreviver numa economia paralela chamada CASH!

Aqueles que recebem à volta de $500.00 dólares por semana por mais ou menos 60 horas de trabalho árduo sem qualquer segurança, apoio ou benefícios fiscais, e que para poder trocar o seu cheque ainda tem de pagar 2,5% e, muitas vezes, certas entidades patronais ainda exigem recibo. Enfim, são vários os expedientes utilizados por alguns empresários que eu nem lhe chamaria tal, diria antes que são simples exploradores de mão de obra para enriquecimento rápido e fácil.

A última vez que reparei, o ordenado mínimo na província era $14.00 por hora!

Todos nós conhecemos alguém, um vizinho, um conhecido ou mesmo um familiar que está nestas ou em outras condições ainda piores.

Que diriam os nossos Pioneiros que chegaram a este país e levaram uma vida inteira de sacrifícios para que pudéssemos hoje desfrutar de todos estes benefícios que agora percebemos que não chegam a todos os trabalhadores desta província?

Talvez corassem de vergonha por presenciar algumas destas atitudes.

Estas pessoas vêm também em busca do “El Dorado”, vêm em busca de um sonho mas, por qualquer motivo, não conseguem a sua documentação legal.

Estas pessoas são muitas vezes mal orientadas e pagam quantias astronómicas por promessas vazias de legalização feitas por variados pseudo para-legais ou chamados advogados de emigração – um fluxo de milhões de dólares corre debaixo da mesa dado a estas pessoas que em grande medida nunca atingem os objetivos esperados, levando por vezes a atitudes de desespero transformando um sonho num pesadelo. Pena é que aqueles que de facto tentam ajudar e tratar de toda a documentação necessária de forma correta e ordeira sejam medidos pela mesma bitola – sim porque temos também bons profissionais na nossa comunidade.

A esses  milhares nós chamamos Indocumentados, mas estas pessoas deitam o mesmo suor e passam pelos mesmos sacrifícios,  apenas com a diferença que muitas vezes são explorados por patrões oportunistas e sem escrúpulos que além de pagarem abaixo do valor real para a tarefa desempenhada usam de vários expedientes para manter essas pessoas debaixo de pressão, medo, insegurança e ameaçando mesmo com o repatriamento. Por vezes, em caso de acidentes de trabalho, muitos são deixados em casa à sua sorte sem emprego e/ou qualquer tipo de apoio.

Estes trabalhadores são alvos fáceis, uma vez que a sua voz não se ouve. Mas até quando?

Isto está a denegrir a imagem dos empreendedores e dirigentes de pessoas que acreditam que simplesmente o trabalho deve ser remunerado justamente e que todos deveriam ter direito a ser respeitados e ganhar a vida de uma forma justa e com tratamento igual atravessando todas as profissões e posições, pois todo o trabalho é válido e nobre quando encarado como tal.

As lutas laborais na nossa comunidade movimentam-se ao sabor de agendas políticas e conveniências diversas, o que torna tudo mais difícil.

Muitos de nós atravessámos já este deserto de aflições e angústias relacionado com a adaptação e problemas legais, mas hoje que estamos já em terra fértil com um bom trabalho, uma vida estável e uma família integrada nesta sociedade. Temos por isso a tendência para esquecer rápido  tudo o que passámos e ficamos a olhar para o nosso umbigo, como se só nós fossemos importantes e tratando por vezes todos os indocumentados com indiferença, criando até, às vezes, mais dificuldades.

Eu acho que grandes entidades empresariais, associações e empregadores em geral se poderiam e deveriam unir em torno deste problema que no fundo diz respeito a todos nós e criar mais pressão junto do governo e outras entidades para que as condições destes trabalhadores melhorem a todos os níveis e se fabriquem políticas duradouras e estáveis para tentar ao mesmo tempo diminuir esta falta de mão de obra gritante que existe em todos os setores de atividade, na nossa província em particular.

As vitórias que se têm conseguido na nossa comunidade à custa de muito sacrifício ao longo de todos estes anos têm-se perdido e diluído com o passar do tempo.

Hoje em dia o individualismo, separação, egoísmo e exploração do outro têm ganho terreno e só não vê quem não quer.

Será que toda esta indiferença se deve a nós termos, afinal, medo de perder o nosso lugar?

Comemorar o Dia do Trabalhador deveria ter sempre sabor a vitória por tudo o que se tem conseguido e não deveria ser sempre para uso e vanglorio de certas entidades ou elites.

Muito mais haveria a dizer acerca deste dia tão importante e carregado de significado para todos nós, os fabricantes deste Canadá à beira lago plantado. À custa de suor, lágrimas e vidas temos hoje um país do qual nos deveríamos orgulhar e chamar de nosso.

Talvez este Dia do Trabalhador seja o mote para os documentados darem voz aos indocumentados agarrando a sua bandeira e lutando pela causa para que todos possam usufruir um dia das mesmas condições e direitos a nível de trabalho.

Quando verdadeiras políticas de integração para os que cá estão sem documentação para os que chegam forem de facto implementadas e seguidas por todos, aí sim, o Dia do Trabalhador terá um significado mais verdadeiro e um travo mais doce.

Um bem-haja e Feliz Dia do Trabalhador para todos nós trabalhadores e respetivas famílias.

E façam o favor de trabalhar em segurança – a família agradece!

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