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TIFF: A porta do cinema americano

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Arrancou um dos mais importantes Festivais de Cinema do mundo, o TIFF – Toronto International Film Festival. Os holofotes e o espírito de descoberta das novidades cinematográficas do ano viram-se para o Canadá, projetando Toronto como verdadeira meca do cinema, desde ontem (8 de setembro) até ao próximo dia 18. Reconhecido como um importante espaço de divulgação das grandes produções, como nos explicou o jornalista Mário Augusto, figura bem conhecida pela sua história de vida profissional ligada ao mundo do cinema, entrevistado no programa Aqui P’ra Nós da Camões Rádio, este Festival marca a diferença relativamente a todos os outros porque é o cenário escolhido para mostra dos filmes que almejam a nomeação para os tão ambicionados Óscares.

mario-augusto-jornalista-foto-antonio-jose-rodrigues-1 - milenio stadiumMilénio Stadium: Mário Augusto o nosso Festival de Toronto começou. O que é que esperas deste Festival? Que importância tem, por exemplo, para a Europa?
Mário Augusto: Ora bem, antes de mais há que referir que o Festival de Toronto tem uma particularidade: é que funciona em paralelo com o Festival de Veneza, que é um dos mais antigos festivais do mundo, talvez um dos mais importantes, a para de Cannes e de Berlim. O Festival de Toronto é muito mais recente, mas de qualquer maneira acaba por funcionar com importância muito grande, como porta do cinema americano. A partir desse certame que com os anos foi ganhando um lugar de destaque, as grandes produtoras e também alguns cineastas europeus aproveitam para desenvolverem e projetarem a sua nova cinematografia. E, na verdade, é um festival que tem uma importância crescente para o mercado, para o negócio do cinema. Mais até do que os outros europeus, inclusive, o que eu referi, o Festival de Veneza, porque é um festival que tem uma matriz cultural e artística ligeiramente diferente daquilo que se desenvolveu em Toronto. E isso faz com que a apresentação dos filmes em Toronto seja uma aposta crescente para o negócio, para as majors americanas e para os canais de streaming, que hoje são também players e, essencialmente, produtores. Por exemplo, não é um festival onde haja muito cinema independente, onde haja uma matriz tão artística como acontece em Veneza e mesmo em Berlim, e também um bocadinho em Cannes – se bem que Cannes tenha uma particularidade diferente, que é um festival dos mercados, dos novos realizadores, das novas tendências. Toronto acaba por ser um grande certame para promover a produção do continente americano. E, independentemente disso, há também espaço para novos cineastas e, mais uma vez, Portugal terá representação com algumas obras de curta-metragem. Mas não é essa a vocação deste festival: este festival é para mostrar os grandes filmes que vão tendencialmente marcar os Óscares, a partir de agora. Portanto, começa-se agora a fazer apostas e muitos dos produtores fazem questão de levar os seus filmes a Cannes, quando estão prontos, mas depois têm duas portas de acesso aos prémios que é o Festival de Veneza e o Festival de Toronto. E, curiosamente, as obras mais importantes acabam por passar quase em simultâneo nos dois festivais.
O Festival de Veneza arrancou na semana passada, o Festival de Toronto arrancou ontem (dia 8) e alguns dos filmes que vão fazer a história do Festival de Veneza vão também marcar presença no Festival de Cannes. Comparativamente a outros festivais que existem na América, no continente americano, o TIFF acaba por ser um festival que tem uma matriz muito própria, porque a par do Festival de Sundance – esse sim muito dedicado ao cinema independente -, é hoje a marca dos novos realizadores, das novas tendências de narrativas cinematográficas. E Toronto acaba por ter ganhado um lugar como o grande festival da indústria do cinema e das novas produções de cinema. Mais uma vez, lá estamos com a situação cada vez mais presente de termos o streaming: a Amazon Prime e a Netflix a mandarem nessas produções, portanto, é uma nova onda que está a acontecer.

MS: E que também já está a invadir então este mundo dos festivais. Este é um festival glamoroso, também. Quer dizer, a imagem que passa é daqueles festivais com grandes estrelas a circular?
MA: Sim, sim. Na verdade, tem essa matriz também, mas não tão focada como acontece, por exemplo, em Cannes, que tem uma passadeira vermelha, tem aquelas festas, tem o glamour, tem os iates, tem toda aquela forma de enaltecer as estrelas e o star system. Aí não é assim. Eu estive já duas vezes nesse festival: é um festival mais de indústria, um festival que mostra os filmes e discute, tem conferência de imprensa, mas não há propriamente aquela marca de glamour. Por exemplo, Veneza tem as gôndolas, tem os canais, tem tudo aquilo no Lido, onde permite esse glamour mais à tona da água, porque aquilo tem muita água à volta (risos)! Aí como vocês não têm água…

MS: Nós água temos, temos muita do lago, mas…
MA: Não é tão glamorosa para os iates e para as gôndolas como os outros têm (risos)!

MS: Mas podemos então concluir que é um festival mais virado para cinéfilos, para amantes mesmo de cinema puro e duro.
MA: Essencialmente para cinéfilos e para a indústria. É uma forma da indústria mostrar os seus filmes e influenciar a tendência de votantes para depois para a Academia, para os prémios mais importantes do cinema, que começam a fazer a sua corrida a partir do momento que passam em Toronto e em Veneza também. O Festival de Berlim acontece em fevereiro, portanto já está muito…

MS: Muito próximo dos Óscares e longe ao mesmo tempo…
MA: Exato! Cannes é em maio, portanto aí já se lançam algumas das peças fundamentais do cinema… Mas como isto está tudo a mudar nesta indústria do audiovisual, hoje já não se percebe. E aí Toronto, pela proximidade ao fim do ano que tem… estamos a quatro meses do final do ano e, como se sabe, os filmes para nomeação do Óscar têm que estar estreados na América, no continente americano, nomeadamente nos Estados Unidos, até o dia de Natal, dia 25 de dezembro. Portanto, a partir de agora começam todos a preparar-se para chegar à corrida dos Óscares. E uma das portas de entrada para as nomeações é, efetivamente, o Festival de Cinema de Toronto, que tem vindo a ganhar cada vez mais importância.

Madalena Balça/MS

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