Ter um primeiro-ministro em modo “pato manco” não coloca o Canadá numa posição muito forte face a Donald Trump – Daniel Béland
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Justin Trudeau cumpriu um dos mais longos mandatos de PM dos últimos 75 anos, como se pode ver no gráfico que publicamos nesta página. A sua liderança ficou marcada, pelo desafio significativo imposto pela pandemia de COVID-19 e a crise subsequente que levou a uma perda de confiança entre os canadianos de várias origens. Para além disso, questões fundamentais como a acessibilidade da habitação, o aumento do custo de vida e os elevados níveis de imigração contribuíram para uma desilusão generalizada. Esta frustração crescente levou a que os próprios apoiantes liberais de Trudeau começassem a pedir a sua demissão.
A demissão abrupta da Ministra das Finanças, Chrystia Freeland, a 16 de dezembro, veio complicar ainda mais o panorama político de Trudeau e desorganizar o seu Partido Liberal, reavivando os apelos à sua demissão.
Numa carta de demissão explosiva publicada online, Freeland disse que ela e o primeiro-ministro tinham ficado “em desacordo sobre o melhor caminho a seguir para o Canadá”.
Acresce que, no princípio de setembro, Jagmeet Singh já havia rasgado o acordo que permitiu a sobrevivência do Governo Liberal minoritário durante quase dois anos e meio e, cereja no topo do bolo, as sondagens começaram a mostrar de forma muito clara o caminho de derrota implacável nas próximas eleições.
Na segunda-feira, dia 6 de janeiro, depois de umas retemperadoras férias de inverno, Justin Trudeau falou ao país, comunicando a sua renúncia aos cargos de líder dos Liberais e primeiro-ministro do Canadá. Daniel Béland é professor no Departamento de Ciência Política da McGill University e aceitou partilhar a sua opinião sobre a situação política atual do Canadá.
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Milénio Stadium: Como avalia a atual situação política no Canadá? O que podem os canadianos esperar do futuro?
Daniel Béland: A situação atual é bastante incerta, porque ainda não sabemos quem será o próximo líder Liberal e, por conseguinte, primeiro-ministro, e quando se realizarão as próximas eleições federais embora seja cada vez mais provável a realização de eleições na primavera.
MS: Com a pressão a que tem estado sujeito dentro do seu próprio partido para se demitir, porque é que Trudeau demorou tanto tempo a abandonar a liderança dos liberais?
DB: Definitivamente, ele esperou demasiado tempo para se demitir, deixando muito pouco tempo para o seu sucessor liberal, ainda por selecionar, para se preparar para as próximas eleições. Penso que ele pensou que poderia ficar até às próximas eleições, mas a dramática demissão de Chrystia Freeland a 16 de dezembro e a multiplicação dos apelos à sua demissão por parte dos seus próprios deputados impossibilitaram-no de ficar.
MS: No meio de tudo isto, o Canadá tem estado a ser atacado pelo Presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Que consequências poderá ter a falta de liderança do país numa altura crucial da sua relação com o novo Presidente dos EUA?
DB: O facto de o Canadá ter um primeiro-ministro em modo “pato manco” e um parlamento em prorrogação até 24 de março não colocam o Canadá numa posição muito forte face a Donald Trump, que chama a Trudeau um “governador” e afirma nas redes sociais que o Canadá deveria tornar-se o 51º estado dos EUA.
MS: Quem, de entre os liberais, está em boa posição para assumir a liderança do partido? Chrystia Freeland?
DB: Chrystia Freeland e Mark Carney são os dois nomes mais frequentemente mencionados.
MS: O que é que o país pode esperar de Pierre Poilievre se for eleito Primeiro-Ministro do Canadá?
DB: Poilievre iria mudar as políticas públicas para a direita do espetro político, controlando a despesa pública, abolindo o imposto federal sobre o carbono, implementando respostas pró-mercado à crise da habitação e adotando uma abordagem “dura contra o crime”.
MS: O que é que o NDP ganha com a perspetiva de eleições antecipadas?
DB: O NDP está numa situação difícil, uma vez que os números das sondagens também são maus para eles e é pouco provável que ganhem alguma coisa com a perspetiva de eleições antecipadas.
MB/MS
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