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“Temos que ser mais humanos”

A vida, como a conhecemos, está em pausa. Uma pandemia atacou o mundo e, num instante, ficámos reféns da insegurança que nos incomoda a todos. Chegou o tempo de reflexão sobre a sociedade que temos sido, o que somos hoje e o que seremos no futuro. O desafio é feito a todos e cada um – é necessário que percebamos que a vida pode trocar-nos as voltas de um dia para o outro e, em consequência, passemos a ser mais conscientes de quem somos e qual o nosso papel na sociedade onde nos inserimos.

Não há margem para egoísmos. Hoje já há sinais evidentes de que nada ficará igual quando a pandemia aliviar a pressão que tem exercido nos dias angustiantes que o mundo está a viver. Cristina Marques partilhou connosco a sua perspetiva sobre a realidade atual e teve a oportunidade de sublinhar que este é tempo de humildade e ajuda ao próximo.

Cristina Marques
Cristina Marques

Milénio Stadium: Como vê tudo o que se está a viver em todo o mundo em consequência da pandemia provocada pelo Covid-19?
Cristina Marques: É um caso muito complicado. Mas eu acho que as coisas acontecem por alguma razão, e talvez esta fosse a altura em que o mundo estivesse a precisar um bocadinho de humildade. E eu espero que se não for por mais nada, que sirva para as pessoas fiquem um bocadinho mais humildes e um bocadinho menos egoístas. Basta olharmos para o que aconteceu nos supermercados para se ver que as pessoas são super egoístas – não estamos a pensar no próximo quando compramos tudo e deixamos as prateleiras vazias para quem chega depois. Além disto, desejo também que esta situação seja capaz de unir mais as famílias.

MS: Com as quarentenas, isolamentos sociais forçados ou por vontade própria, com o terminar dos abraços ou até apertos de mão, como vai ficar a sociedade? Que pessoas seremos depois de tudo passar?
CM: Eu acho que vamos ter mais cuidado, o que não quer dizer que sejamos diferentes. Porque nós, pelo menos no meu círculo, estamos a ter cuidado de telefonarmos uns aos outros para sabermos se alguém precisa de alguma coisa. Eu, por exemplo, já fui levar compras a uma pessoa idosa que não pode sair de casa. E também já me pus à disposição para fazer algum trabalho voluntario nesse sentido – Eu sei que a Meals On Wheels está a precisar de pessoas para conduzir e eu já estive a falar com algumas associações e já me pus ao dispor. Penso que se todos nós fizermos um bocadinho, se todos nós pensarmos no próximo, vamos todos nós sair disto pessoas melhores.

MS:Com as empresas a atravessarem momentos particularmente difíceis, que as obrigam a repensar o seu próprio amanhã, o que se pode esperar do futuro económico do Canadá?
CM: Se eu fosse economista talvez tivesse uma resposta melhor para lhe dar, mas eu acho que o próximo ano não vai ser nada fácil. Mas não vai ser complicado só no Canadá, vai ser no mundo inteiro.

MS: O que pensa da forma como esta pandemia tem sido tratada pelas instâncias governamentais – quer ao nível da província, quer ao nível federal?
CM: Eu vou dizer-lhe que estou muito surpreendida, pela positiva, muito mesmo. Acho muito boa a forma como os três governos têm colaborado – a nível municipal, provincial e federal – têm cooperado bem e eu estou bastante impressionada com a forma como a liderança política se tem comportado. Eu considero que estamos neste momento apartidários e na minha opinião isso é muito bom. Na verdade, é a única forma de se lidar com esta situação e parece-me que também esta a acontecer o mesmo em Portugal e eu acho que isso é espetacular.

MS: Na sua opinião o Canadá está preparado para o que aí vem?
CM: Eu penso que o Canadá está mais preparado do que outros países. Nós, por exemplo, temos pelo menos um sistema de saúde que dá apoio às pessoas em geral e só aí já vemos que estamos mais bem preparados que os outros. Acho que isto vai mexer com todos nós, mas penso que sim, que o Canadá está um bocadinho mais bem preparado do que certos países, que não têm a mesma estrutura social, como é o caso dos Estados Unidos, por exemplo.

MS: Há notícias que apontam para um agravamento de casos de vítimas de violência doméstica e por outro lado, de idosos entregues à sua sorte. Como pode e deve a estrutura política e até a sociedade em geral enfrentar este tipo de consequências do Covid-19?
CM: A parte da violência doméstica assusta-me constantemente. E agora nesta fase, estamos a viver mais juntos, há uma tendência acrescida para que problemas surjam porque coisas que normalmente não nos incomodariam, podem começar a incomodar, porque estamos a viver 24 horas por dia juntos. Eu penso que só com paciência é que podemos ultrapassar isto. Posso até dizer-vos que eu e o meu marido optámos por fazer o seguinte: temos ficado com quatro netos, porque os nossos filhos estiveram até agora a trabalhar, e portanto o que acontece é que de manhã um de nós sai de casa, vai fazer a sua corrida ou a sua caminhada, quando chega a casa o outro sai também para espairecer um bocado! Isso é o que acontece na nossa casa, porque sempre fomos muito socialmente ativos e independentes. E a parte do exercício físico é muito importante! Especialmente para a saúde mental. E ler! Ler faz tão bem…
Agora em relação aos casos de violência doméstica, e especialmente aqueles que são mais agudos, espero que sítios como o Abrigo Centre possam ajudar pessoas nessas circunstâncias. Quanto aos idosos, eu acho que temos que pensar no próximo e, quem sabe, bater à porta daquele idoso que vive na nossa zona, ou telefonar, saber se está tudo bem, se precisa de alguma coisa… Isso é muito importante, porque é nestas alturas que temos que ser mais humanos.

Catarina Balça/MS

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