Temas de Capa

“Somos a única voz nesta cidade a falar contra a implementação de mais ciclovias em zonas cruciais da cidade” – Trevor Townsend

An adult female with colorful clothes riding a bicycle in a park at daytime

 

Trevor Townsend tem sido a voz dos que se opõem ao plano de aumentar, cada vez mais, o número de ciclovias na cidade de Toronto. A oposição, no entanto, foca-se naquilo que a Keep Toronto Moving (organização fundada por Townsend) apelida de “congestão de trânsito fabricada”, ou seja, na criação de ciclovias em artérias da cidade já por si muito marcadas por problemas de trânsito, que ficam com esses problemas muito mais acentuados com a redução a 50% do número de faixas de rodagem para acomodar os desejos de “2,5% da população de Toronto”, que prefere usar a bicicleta para se deslocar na cidade.

A Keep Toronto Moving (KTM) tem promovido, aliás, pesquisas de opinião para avaliar o impacto que a política camarária nesta matéria está a ter, efetivamente, no comercio local. E os resultados, segundo a KTM, mostram de forma clara a oposição de uma maioria de população (os 97,5% que segundo a KTM não usam a bicicleta para se deslocar na cidade), que se sente “ignorada” por quem gere os destinos da cidade.

Trevor Townsend sublinha, no entanto, que a KTM nada tem contra as bicicletas “é saudável. É algo que queremos encorajar e que é bom para o ambiente”, mas defende que as ciclovias não devem existir em vias já por si bastante congestionadas. Nesta entrevista o fundador da Keep Toronto Moving não teme as palavras quando afirma de forma clara que a Cycle Toronto é uma organização que foi sequestrada por “ciclistas radicais” que só descansarão quando retirarem os carros da cidade de Toronto.

Milénio Stadium: A cidade de Toronto tem vindo a aumentar o número de pistas para bicicletas. Na sua opinião, que impacto tem tido este facto na forma como as pessoas se deslocam na cidade?
Trevor Townsend: O principal problema com a abordagem do departamento de transportes em relação à bicicleta, em poucas palavras, é que os dados do censo canadiano, que é feito de cinco em cinco anos para a área de Toronto, mostram que esta situação não é semelhante à de outras grandes cidades. Basicamente, menos de dois e meio por cento da população ativa utiliza a bicicleta em qualquer altura do ano. Não todos os dias, mas em qualquer altura do ano civil, dois anos e meio da população de Toronto usa a bicicleta para ir trabalhar. O problema é que a estratégia de ciclovias da cidade de Toronto, levou à redução das vias rodoviárias em 50% nas maiores artérias, como é o caso da Yonge Street e da baixa de Toronto, que passaram de duas vias em cada direção para uma via em cada direção, para passar a haver ciclovias. Assim, temos 97,5% da população que vai para o trabalho e volta e que estava a usar carros ou autocarros ou táxis para chegar ao trabalho e temos 2,5% da população a usar bicicleta, e a cidade de Toronto entregou 50% do pavimento aos ciclistas. E este número, 2,5% de ciclistas, é o número de 2021 de 2016 ou seja, não tem sofrido qualquer alteração, não muda. E, portanto, tudo o que se está a criar são apertos de garrafa nas nossas vidas, nas nossas principais artérias. Tudo isto está a impactar a economia do centro da cidade, porque quanto mais difícil for para as pessoas chegar ao centro da cidade, mais difícil é que essas pessoas queiram vir à baixa de Toronto. E o que sabemos, pelo que tem acontecido noutras cidades (nos Estados Unidos por exemplo) é que quando você mata a galinha dos ovos de ouro da comunidade económica, afastando as pessoas do centro da cidade, isso mata a capacidade de uma cidade permanecer dinâmica e de as empresas sobreviverem. Isso não é bom para o futuro económico da província ou do país. Esta é uma cidade importante, esta é a maior cidade do país e o Departamento de Transportes da Cidade de Toronto está conscientemente a tornar difícil a circulação, no centro da cidade, aos carros, veículos utilitários e de emergência, camiões que fazem distribuição de bens e serviços, para acomodar o desejo de 2,5% da população que usa a bicicleta para se movimentar na cidade. Não há nada de errado em andar de bicicleta e na Keep Toronto Moving, não somos contra a procura de terrenos para bicicletas, para as pessoas que querem andar de bicicleta. É saudável. É algo que queremos encorajar e que é bom para o ambiente, mas temos de ser inteligentes quanto ao local onde colocamos as ciclovias e não podemos colocar ciclovias nas estradas mais movimentadas da nossa cidade. Seja na Yonge, na Bloor, na Danforth, na Eglinton, seja na Shepard ou na University Avenue. Não podem escolher estas ruas da nossa cidade e criar aquilo a que eu chamo congestionamento fabricado, reduzindo as vias rodoviárias para 50% do que eram. Essa congestão manufaturada, não tinha que existir. Haveria sempre congestão, mas não ao ponto de agora. E, por isso, acho que a orientação da antiga e da atual Câmara Municipal e da Mayor, vai num sentido que a maioria silenciosa dos cidadãos de Toronto não é a favor – a existência de ciclovias nas estradas principais. E, por isso, os nossos eleitos não estão a representar a vontade pública, como deveriam e temos um departamento de transportes que está a ultrapassar em muito o seu mandato ao criar esta desnecessária congestão.

MS: O que pensa do dinheiro que tem sido investido no aumento do número de km’s e na manutenção das pistas para bicicletas na cidade?
TT: Toronto está numa situação em que… sabe o que temos? Temos uma crise nesta cidade com os sem-abrigo, sim, temos uma crise de habitação. Temos uma crise com a toxicodependência. Com o uso de drogas de rua. Temos um problema sério por não termos dinheiro para cuidar dos membros mais vulneráveis da nossa cidade. E quem governa a cidade opta por colocar dólares preciosos dos impostos, que não temos em áreas prioritárias como os cuidados de saúde e a habitação, na construção de ciclovias e a reconfigurar as ruas, para que haja mais conveniência nos modos de transporte para 2,5% da população.

 

 

MS: Os automobilistas queixam-se de que os ciclistas não respeitam as regras de trânsito e que não são devidamente policiados. Os ciclistas queixam-se exatamente do contrário. Qual é a sua opinião sobre este assunto?
TT: Não creio que haja uma resposta a preto e branco. Também acho que é importante reconhecer que o Cycle Toronto é uma organização de lobby que foi sequestrada por ciclistas extremistas. Devo dizer que muitos dos apoiantes da Keep Toronto Moving são ciclistas ativos, eu diria que mais de metade das pessoas que estão na nossa organização são ciclistas ativos, mas muitos ciclistas não apoiam a direção militante que o Cycle Toronto está a defender. Muitos ciclistas, não sentem que estas ciclovias sejam uma boa ideia. Quanto ao aspeto legal da questão, penso que há condutores que não cumprem as regras e acho que há ciclistas militantes que não seguem as regras. Acho que há condutores que precisam de estar mais conscientes e atentos, mas também acho que há ciclistas que não param nas intersecções. Eles têm todos os benefícios de estar na estrada, mas não querem seguir nenhuma das regras que acompanham o privilégio de poder usar as nossas ruas públicas. Por isso, não acho que seja preto no branco. Não acho que um dos lados seja o padrão, acho que existem aspetos negativos na comunidade ciclista e na comunidade condutora. Há condutores em ambas as categorias que causam condições de insegurança nas estradas. Mas penso que a direção militante da Cycle Toronto tem afastado os ciclistas mais razoáveis e não penso que o Cycle Toronto represente o ponto de vista de muitos ciclistas que gostavam de andar de bicicleta na cidade. Penso que foram sequestrados por um pequeno grupo de militantes que não se preocupam com mais nada para além de transformar as vias rodoviárias em ciclovias, na cidade.

 

 

MS: Na sua opinião, qual é o verdadeiro impacto económico de tornar Toronto mais ciclável? Existem números que demonstrem que esta decisão trouxe ganhos reais para a cidade? Ou é “apenas” uma questão de proteção ambiental e/ou de filosofia de vida?
TT: Impacto económico a curto prazo. Na Yonge Street, em 2023, quando finalizaram a colocação das pistas para bicicletas, nós fizemos um inquérito junto dos empresários entre a Yonge Street e a Crescent Avenue, onde foram introduzidas bike lanes. Mais de 90% dos empresários informaram-nos nesse inquérito independente (pode ser consultado na página web da Keep Toronto Moving) que a introdução das ciclovias tinha prejudicado os seus negócios, porque mais pessoas estavam a optar por não ir para a Yonge Street porque não queriam ficar presos no congestionamento de trânsito. Se formos para a zona oeste de Toronto, para Bloor West Village, há uma enorme oposição à introdução de ciclovias. E assim os proprietários de pequenas empresas que dependem das estradas circuláveis para as pessoas que vão às suas lojas, e que já se batem contra as grandes lojas como a Canadian Tire, a Costco e a Best Buy esse grande comércio, os proprietários de restaurantes … já têm bastantes desafios para superar e tentar prosperar, não precisam que as políticas da cidade os sufoquem mais. Portanto, o comércio local, onde se encontram as ciclovias, tem reportado, de forma esmagadora, que as ciclovias têm tido efeitos terríveis para os seus resultados comerciais.

MS: A Keep Toronto Moving tem tido oportunidade de fazer chegar à Câmara Municipal de Toronto a sua visão sobre este assunto?
TT: Somos a única voz nesta cidade a falar contra a implementação de mais ciclovias em zonas cruciais da cidade. Somos a única organização reconhecida pela cidade, que tem voz e fala em nome de todos os que se opõem à introdução de ciclovias nas principais vias da cidade. E, por isso, quando a Comissão da Câmara Municipal se reúne para tratar de questões relacionadas com as ciclovias, nós participamos. Ou seja, participamos naquelas reuniões em que o público participa, onde as pessoas podem expressar as suas preocupações e saber o que se está a passar. Mas nós somos uma organização voluntária, não recebemos quaisquer subsídios. A Cycle Toronto recebe do governo provincial, do governo municipal e do governo federal os dólares dos impostos que financiam as organizações. Não há um equilíbrio. Em termos de recursos, não estamos equilibrados, mas nós representamos as pessoas que não concordam com o que está a ser feito na cidade.
MB/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Não perca também
Close
Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER