Temas de CapaBlog

Será que a China vai dominar o mundo?

Será que a China vai dominar o mundo - mileniostadium
China, Xinjuan (Zongnan Bao/ Unsplash)

 

O Presidente Xi Jinping, líder do Partido Comunista Chinês, já manifestou nos seus discursos o desejo de uma China rejuvenecida, capaz de ser uma potência relevante no sistema internacional. No entanto, os seus planos são apenas vagamente revelados, talvez isso faça parte do segredo para o sucesso.

Existem três fatores que determinam o crescimento económico de um país – a força da sua mão-de-obra, as suas infraestruturas e condições laborais e, por fim, a produtividade. E assim, surge a questão, será a China capaz de se tornar na principal potência económica do mundo?   

Certas medidas que a China tem adotado apontam o crescimento como principal objetivo. Xi Jinping adotou reformas que estimulem o crescimento populacional. Vendo que a sua política de filho único levaria a uma fertilidade baixa e, portanto, a uma estagnação e envelhecimento da população, a China decidiu mudar o seu rumo. Este ano, o governo chinês anunciou a permissão de até três filhos. Um dos elementos fulcrais para o sucesso da China é a sua produtividade, contudo ainda não é suficiente para se tornar na maior potência do mundo. Há quem considere que para atingir o sucesso, a China tem de abolir o sistema hukou – que obriga os trabalhadores a permanecer no seu local de nascimento – e reduzir as barreiras para a participação internacional.

Além disso, a China ainda enfrenta outros desafios como uma opinião pública negativa. Alguns veem no país a origem de uma pandemia mundial que afetou negativamente milhões de pessoas, outros consideram que a China não respeita os direitos humanos, nomeadamente com a questão de Hong Kong. Inclusive, alguns países europeus recuaram em vários acordos de investimentos e a Índia barrou a tecnologia chinesa do país. 

Quer controlar o sistema internacional ou garantir a sua segurança?

Primeiro que tudo, será que a China quer de facto dominar o mundo? O medo do Ocidente vai além da possibilidade de ver a China a governar o mundo. Prende-se pelo que a China representa – os valores do coletivo acima dos valores individuais. Se nos basearmos no percurso da China ao longo da história, vemos que as suas dinastias não eram violentas, apesar de recorrerem ao ataque em determinados momentos, nomeadamente quando o poder da China era contestado.

Será que a China tem pretensões de mudar o mundo? Afinal, foi o atual modelo que lhe permitiu uma ascensão e as próprias elites terão interesse em manter o status quo que tantos benefícios lhes trazem. Será difícil de responder a esta pergunta. Se fizermos uma analise histórica, já dizia Confucius: Se um homem superior vivesse entre eles, que grosseria haveria? Ou seja, a China sempre considerou que a sua cultura tinha o poder de transformar bárbaros numa civilização, portanto, mesmo não esperando que o seu modelo seja adotado pelo mundo inteiro, continuarão com a promoção da sua civilização. A pandemia de Covid-19 tornou este facto ainda mais evidente, a China tem utilizado as repercussões catastróficas da doença como forma de se mostrar superior ao Ocidente. Apesar de reconhecer que o atual sistema comercial permitiu o crescimento do país, não apoia os valores em que se baseia.  Portanto, poderá existir um desejo de mudança da ordem internacional, para que a China viva num panorama mais próspero e benéfico para a sua segurança.

Apesar dos Estados Unidos gostarem de se proclamar como os maiores defensores da liberdade, da democracia e dos direitos humanos, demonstram várias vezes uma certa hipocrisia ao ignorar certos comportamentos dos seus aliados. Inclusive, alguns desses valores não consegue sequer implementar dentro das suas próprias fronteiras, o que afeta a sua credibilidade.

E não sejamos ingénuos, uma grande parte dos países, se não mesmo a maioria, são não-democracias, portanto, apesar de os valores liberais dominarem o mundo neste momento, não significa que isso seja o desejo da maioria. Muitos países, e os seus líderes autoritários, prefeririam uma ordem mundial que lhes desse o direito de seguir com o seu modelo governamental, sem pressões internacionais para adotar determinados valores, sem interferências, onde a soberania nacional é completamente respeitada.

A China procura, acima de tudo, uma ordem mundial que lhes permita manter o seu sistema autocrático. O partido comunista quererá uma ordem onde os desejos universais não põem em causa a autoridade do partido comunista chinês. No entanto, mesmo que quisesse, será que a China teria capacidade para governar o mundo? A atual ordem política centra-se nas Nações Unidas, na Organização Mundial do Comércio, no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e no dólar como moeda global – todos eles mantidos pelos Estados Unidos. Com este sistema, os Estados Unidos da América garantem uma vasta lista de aliados.

Para uma nação dominar tem de ter capacidade e estar disposta a estabelecer um sistema internacional que reflita o seu estilo de vida e pelo qual se possa criar uma forte coligação de nações que mantenham esse sistema. Para a China se apoderar da ordem internacional, teria de aumentar a sua capacidade militar e criar alianças estratégicas. Ainda existem muitas incertezas, nomeadamente até que ponto a China permitirá a abertura financeira e até que ponto se quererá envolver em questões que vão além das que os afetam diretamente.

O investimento na construção naval, o impulso no envolvimento em organizações internacionais, a projeção do poder militar no Ártico e noutros pontos estratégicos, a procura do domínio da indústria tecnológica e a iniciativa Belt and Road que implica um investimento em 70 países provam que está em andamento um grande plano geopolítico.

Talvez o coronavírus enfraqueça a força dos Estados Unidos e a ordem liberal, dando lugar à ascensão da China. Ou talvez a China enfrente tantos problemas internos com as reformas domésticas, juntamente com o isolamento internacional, que o seu impulso pare e dê lugar a uma crise financeira.

O futuro é incerto, mas o foco não deveria ser em conter a China– já que vivemos num sistema económico interligado e, quer queiramos ou não, somos dependentes dela – mas sim, impedir que altere o sistema internacional.

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER