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Ser senhorio em tempos de pandemia

Durante os últimos 13 meses a vida de todos tem sido uma constante aprendizagem e readaptação a uma realidade diferente. Com a pandemia veio também o desemprego e a dificuldade adjacente do pagamento das contas ao final do mês. Uma das principais preocupações, tanto da sociedade em geral, quanto do governo, tem que ver com a habitação. Se por um lado temos inquilinos preocupados com o valor que têm que pagar para conseguirem manter as suas casas, por outro temos os senhorios que continuam a ter que responder às despesas dos seus imóveis. O governo surgiu aqui com algumas medidas de forma a ajudar a combater estes problemas: criou o CERB, um apoio governamental para todos os que foram afetados financeiramente pela pandemia e, para proteger os arrendatários, modificou a lei que se refere à ordem de despejo – não permitindo aos proprietários que, devido às dificuldades económicas dos inquilinos, os expulsem das habitações.

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A este propósito, Dina Távora, proprietária de vários imóveis arrendados, conta-nos que tem se deparado com alguns desafios: “Tenho um apartamento com três quartos arrendado a três rapazes. Quando começou a pandemia e quando a lei começou a favorecer o rendeiro, eles simplesmente pararam de pagar. Foi uma situação muito crítica para mim. Eu fui lá e insisti que não saía sem que me pagassem. Tinha telefonado antes para a polícia que me tinha informado que neste caso não me podia ajudar, eu tinha que ir apresentar o caso ao departamento do Landlord & Tenant. Mas como eu fui até lá e lhes disse que não saía até que me pagassem, eles insultavam-me do lado de dentro, mas recusavam-se a pagar. Acabaram por chamar a polícia e aí a polícia já veio. Eu sinceramente acho que os inquilinos é que são os donos, eles é que põem e dispõem. O senhorio não tem os mesmos direitos dos inquilinos.” Dina Távora conta ainda que teve um caso ainda mais complexo, tendo inclusive que vender o imóvel já que a inquilina se recusava a sair. Segundo Dina Távora, é muito difícil lidar com situações sensíveis durante esta fase pandémica, já que, para além das alterações na lei, os senhorios se deparam com uma dificuldade acrescida: sempre que precisam resolver um caso mais complicado, a resposta por parte do departamento dedicado aos senhorios e inquilinos demora muito tempo, sendo que agora tudo se trata virtualmente.

Numa perspetiva mais otimista, Maria de Lurdes Ferreira, proprietária do Tivoli Towers, confessa não ter tido dificuldades acrescidas ao longo deste ano de pandemia: “Para ser sincera, não temos tido grandes problemas. Temos tentado ajudar as pessoas da melhor forma possível, em alguns casos reduzimos um bocadinho a renda por dois ou três meses. A Tivoli Towers é uma comunidade, são todos muito unidos, respeitamo-nos muito uns aos outros, e por isso fizemos algumas coisas para ajudar, mas em geral as pessoas naqueles prédios são muito especiais e não houve qualquer problema. Temos à volta de mil apartamentos e felizmente não temos mesmo problemas.”

É também verdade que agora, de uma forma quase generalizada a nível mundial, muitas pessoas estão mais tempo em casa devido à situação de lay off ou então por conta do teletrabalho. Há, por isso, consequentemente mais despesas no que à eletricidade e água diz respeito, por exemplo. Dina Távora admite que a situação ficou complicada: “Eu sempre fui uma pessoa que tentei sempre facilitar a vida aos meus inquilinos. Arrendava com tudo incluído. Neste momento tenho, por exemplo, três apartamentos na Brock – foi lá, aliás, que comecei com a minha primeira loja, em 1977 – e lá pagam a renda e não têm que se preocupar com mais nada. No entanto, agora com a pandemia, os preços subiram todos e os meus inquilinos não pagam nem gás, nem água, nem eletricidade – agora encontrei o meu erro. Um apartamento de 3 mil dólares a ser arrendado por 2 mil e ainda pago as contas. Por isso agora eu decidi falar com a pessoa que está encarregue desse meu prédio para que as pessoas comecem a pagar as suas contas da eletricidade, já que as rendas são muito antigas e não pude aumentar. Está a ser muito complicado para mim e por isso, se não aceitarem, vou ter que vender. Se eu vender, eles têm que sair. Eu fiz este comunicado no fim do mês passado e estou à espera da decisão deles.”

Inquilinos interessados em comprar

Entretanto, à medida que pandemia provocada pela COVID-19 continua, surgem novos estudos que nos mostram resultados interessantes. Segundo uma nova investigação, estes tempos de pandemia estão a começar a influenciar os comportamentos e intenções tanto daquele que é inquilino quanto do que é comprador – incluindo onde e como querem viver.

Os arrendatários de Ontário têm agora quase o dobro de probabilidade de expressar interesse em comprar uma casa devido à pandemia, de acordo com as novas descobertas da Nanos Research para o Pulse Check on Consumer Attitudes mensal da Ontario Real Estate Association.

Na verdade, devido aos efeitos da COVID-19, 25% dos arrendatários de Ontário afirmam estar mais interessados em comprar uma casa agora, em comparação com apenas 13% que afirmam estar menos interessados, enquanto 54 % relatam que estão tão interessados agora quanto estavam antes da pandemia.

A pesquisa descobriu que os arrendatários também estão agora mais interessados em procurar ativamente uma casa para comprar (63%) do que os que já são proprietários (47%), com a geração dos Millennials – aqueles com idade entre 18-34 (62%) e aqueles entre 35-54 (59%) – a procurar mais ativamente do que os mais velhos.

Esta pesquisa da Nanos acrescentou que as habitações estão agora a servir como um espaço multiuso, já que muitos ontarianos ainda trabalham em casa devido à pandemia, explicando que os moradores não estão apenas a dormir nas suas casas, mas também a trabalhar a partir de lá, razão pela qual mais pessoas estão à procura de casas fora do centro da cidade, com mais espaço, conforto e mais baratas.

Leia a entrevista com Krystle Ferreira, clique aqui.

Os resultados da pesquisa também estão de acordo com os dados mais recentes do Toronto Regional Real Estate Board (TRREB), que mostraram que os mercados suburbanos, especificamente aqueles na área “905”, ao redor de Toronto, estão agora a superar os da “416”.

De acordo com o mesmo relatório, grande parte da força na área “905” pode ser atribuída à demanda por residências unifamiliares e condomínios, onde as vendas totais do GTA aumentaram 13% e 12% ano a ano, respetivamente, ultrapassando os níveis anteriores à COVID-19.

Quanto ao que está a enfraquecer o mercado da zona “416”, o relatório sugere que as vendas de apartamentos em condomínio são a principal causa, já que caíram 21% em junho de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado.

Catarina Balça/MS

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