Temas de Capa

Ser português, aqui.

Miguel Marques Dias nasceu no Canadá, é filho de pais portugueses, tem 31 anos e transporta na capa negra as tradições de um país.

Só aos 18 anos é que começou a falar português. Até então, como tantos outros lusodescendentes, percebia tudo, mas respondia à família na língua que se sentia mais confortável – o inglês.

Miguel sentiu mais necessidade e vontade de pôr em prática a língua materna da sua família, quando começou a fazer parte de projetos da comunidade – ao entrar para a Associação Portuguesa da Universidade York e para a Luso-Can Tuna – como o próprio diz, tinha que se “desenrascar” e, cá para nós, “desenrascou-se” muito bem, porque falámos durante 15 minutos em português e o Miguel “sacou” das suas palavras caras, que diz ouvir nas notícias portuguesas – Adorei!

As viagens a Portugal ajudaram muito a “desenferrujar” e a criar laços ainda maiores.
O jornal Milénio Stadium teve o prazer de conversar com o Miguel e perceber a perspetiva de um jovem lusodescendente sobre o que é isto de ser português, aqui do outro lado do Atlântico.

O que te fez pertencer a um organismo como a Tuna académica?
Eu não sabia o que era uma Tuna. Nunca tinha ouvido falar, não sabia que tradição era, nunca tinha visto nenhuma atuação. Mas quando entrei para a Associação Portuguesa da Universidade de York ofereceram dois bilhetes para ir a um festival internacional de Tunas no Canadá – um evento organizado pela Luso-Can Tuna – onde se recebe tunas da América Latina e Portugal, e eu resolvi ir! Mesmo sem saber o que era. Quando lá cheguei e assisti àquelas atuações e pensei “se houvesse um grupo aqui no Canadá eu até fazia parte disto, porque isto é fixe!”. Atras de mim tinha estudantes, todos vestido a rigor e perguntei-lhes de que Tuna eram e disseram-me que eram da Luso-Can Tuna… “e de que zona de Portugal são?”(risos) e eles olharam para mim e disseram “hmm somos aqui de Toronto”(risos). Comecei logo a falar inglês porque estava à rasca com o meu português! Perguntei logo quando ensaiavam e eles lá me disseram sítio e horas e convidaram-me para ir. Foi aí que tudo começou.

Que importância tem vestires o traje académico português, aqui no Canadá?
É muito importante para mim porque nós somos os únicos que vestimos o traje académico aqui no Canadá e somos nós a vanguarda dessa tradição aqui na América do Norte, porque não há mais nenhuma Tuna. Depois há outro fator: nós vamos a eventos, em universidades por exemplo, e outros jovens portugueses conseguem reconhecer-nos pela “diferença” – não há mais ninguém por aí a usar capa negra. Isso é bom, porque não há uma forma mais simples de saber quem é, realmente, português e assim eles vêm ter connosco!

Que significado que tem para ti a celebração do Dia de Portugal?
Para mim tem muito. O Dia de Portugal é um dia em que a comunidade toda se manifesta de forma mais evidente, efusiva, e todos saem de casa pela mesma causa. Não existe aquela típica divisão por regiões que acontece muito, e unem-se todos e saem à rua para mostrar até a outras comunidades que “estamos cá, somos portugueses, estas são as nossas tradições, celebrem connosco”. Essa união agrada-me muito. Há muita gente que por norma não sai de casa para outros eventos e nesse dia estão lá.

Sair à rua na parada de Portugal é, de certo modo, uma manifestação do orgulho nas tuas raízes?
Também. Mas penso que é mais um dever cívico e obrigação patriótica do que qualquer outra coisa. Acho até que toda a gente aqui, portuguesa, devia sentir um bocadinho mais a responsabilidade, a obrigação cívica de participar em celebrações deste género. Eu penso mesmo que quanto mais pessoas participarem e se unirem nessa parada, mais forte fica a nossa comunidade e, claro, melhor fica a festa!

Na tua perspetiva, que imagem tem hoje Portugal no mundo?
Eu acho que nos últimos 15 anos a opinião sobre a cultura portuguesa mudou muito. Antigamente a cultura portuguesa era vista um bocadinho como algo antiquado e não muito atrativa. No entanto, acho que hoje em dia se pode comprovar pelo turismo que Portugal está na moda! O mundo já está a olhar para a nossa cultura de forma diferente. Até podemos dar o exemplo do fado – antes talvez as pessoas ouviam o fado uma vez e pensavam que era algo um bocado “pesado”, “escuro” … Mas agora não! Agora compreendem o contexto! Acho que os espetáculos de pessoas como a Mariza tiveram um papel fundamental nessa mudança de perspetiva. Mas não só: temos as nossas praias, comidas, a hospitalidade com que o povo português recebe o “outro” – tudo isso faz de nós um país muito falado. Acho que o facto de sermos um mundo mais globalizado, onde existe uma maior vontade de perceber outras culturas, faz com que Portugal seja visto com uma luz um bocadinho mais brilhante e positiva.

Catarina Balça

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