Temas de Capa

“Sempre fomos assim, alegres, divertidos e muito unidos na música. Já vem de outras gerações.” – Teresa Lopes

TeresaLopes - natal - milenio stadium

 

“Estou aqui há 45 anos. Primeiro veio um tio meu – eu tinha uns 9 ou 10 anos – depois vieram os meus pais, os meus irmãos, o meu avô e depois eu vim cá ter com o meu marido. Então o primeiro Natal no Canadá foi uma reunião de família, já não os via há nove meses. Éramos uma família muito grande. E todos tínhamos o dom da música, então toda a gente cantava ou tocava um instrumento por isso era uma alegria quando nos juntávamos. Nós fomos viver para Kingsville, perto de Windsor, e até os portugueses daquela comunidade juntavam-se todos em nossa casa. Ensaiávamos o coro para as missas de Natal. Eu, os meus irmãos e a minha mãe chegávamos a ir cantar a três missas num único domingo. Éramos a alegria da comunidade. Depois criámos uma banda e animávamos a festa dos portugueses todos daquela zona, desde Windsor até London – íamos tocar aos casamentos, às festas, aos arraiais, a todos os eventos.

Ainda hoje, mantemos sempre as mesmas tradições. O nosso Natal não é à canadiana, é como fazíamos quando estávamos em Portugal. Só uma prendinha de lembrança, não há nada de espalhafatos. E juntamo-nos todos na noite de Natal, comemos as batatas com bacalhau, polvo e couves, temos arroz doce, temos rabanadas. E no outro dia de manhã, vem tudo tomar o pequeno-almoço – é sempre aqui em casa – e depois faz-se a roupa velha e come-se o que sobrou do dia anterior. E canta-se! Tenho três filhos e são todos músicos, até o meu marido. Tudo faz barulho! Já o meu pai tocava banjo numa orquestra em Lisboa.

Na nossa aldeia, na véspera do Natal, íamos a casa das pessoas – porque toda a gente fazia filhoses – então íamos de casa em casa a comer filhoses e beber abafado. Depois íamos para a capela e ficávamos a ensaiar até à hora da missa que era às 7 da manhã, portanto era sempre uma direta. Sempre fomos assim, alegres, divertidos e muito unidos na música. Já vem de outras gerações. Tinha um tio-avô que tocava pífaro – e que os fazia – e à noite juntávamo-nos à lareira em casa dos meus avós – um tocava pífaro, outro banjo, outro ferrinhos e cantava-se toda a noite. E se fossemos para a rua, ouvia-se na aldeia toda. Toda a nossa família tem essa tradição e evidencia-se no Natal. E o nosso Natal é muito ligado a Jesus.

 

[metaslider id=”102597″]

 

Veio-me à memória esta lembrança de quando era miúda: ainda em Portugal, tinha uns 4 ou 5 anos, e fazíamos o presépio e eu pensava que o menino Jesus devia ter muito frio, já que só tinha uma fralda, então pensava – se eu fizer sacrifícios, portar-me bem e rezar posso ir ao palheiro buscar mais palha para o aquecer. E lembro-me de fazer um enorme esforço de me portar bem só para ir buscar mais palha para a manjedoura do menino Jesus.
Na nossa aldeia uma grande tradição era no dia de Natal, um levava um bacalhau pendurado num cabo de uma vassoura, outro levava um cabrito, outro azeite, feijão, pão… e os pais levavam o filho mais novo ao colo… Levava-se os animais vivos e tudo o resto para o ofertório, depois da missa fazia-se um leilão na rua e o dinheiro ia para a igreja. E todos os anos fazia-se um vestido novo para o menino Jesus que agora estão em exposição em vitrinas.

Os rapazes roubavam lenha para fazer uma fogueira enorme, na parte da frente da capela, e ficava a arder desde o dia 24 ao dia 1 de janeiro. Naquela noite ninguém se deitava. Mas não conheço mais nenhuma aldeia que tenha essa tradição. Todos levavam alguma coisa para o menino Jesus. Tenho muitas memórias boas”.

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Não perca também
Close
Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER