Temas de Capa

“Se a rádio não educa nem vale a pena ouvir”

Não se sabe ao certo a quem se deve a invenção da rádio – alguns estudiosos atribuem ao italiano Guglielmo Marconi e outros ao norte-americano Nikola Tesla. O certo é que este meio de comunicação que surgiu no século XIX mudou a nossa perceção sobre o mundo e, apesar de já terem antecipado o seu fim, ainda hoje se mantém vivo.

Em Toronto a primeira rádio portuguesa foi o Rádio Clube Português, que surgiu pela mão de Frank Nunes e que hoje existe como Asas do Atlântico. Em 1966, Johnny Lombardi criou a CHIN Radio, que só começou a emitir em português mais tarde, e em 1986 Frank Alvarez fundou a CIRV FM. Todas emitem em FM e ainda hoje continuam em atividade. Em 2013 Manuel DaCosta criou a Camões Radio, uma rádio online.

Esta semana fomos saber o que os ouvintes pensam sobre as rádios portuguesas da cidade.

Joana Leal

Maria Silva – 66 anos (nome fictício)

Onde é que ouve rádio?

Toda a minha vida ouvi rádio, mesmo antes de emigrar. A rádio é uma companhia, sobretudo para as pessoas mais velhas e acho que nunca vai desaparecer ao contrário de algumas vozes críticas. Só ouço rádio no carro, de manhã e ao final da tarde. A rádio melhora a minha boa disposição e, na minha opinião, a Camões Radio deveria estar na FM, porque não faz nenhum sentido ter uma rádio online.

Que tipo de programas é que ouve?

Ouço sobretudo música. Gosto muito de António Zambujo, Mariza, Carminho, Ana Moura, Sérgio Godinho, Amor Electro…e tantos outros. Aprecio alguns dos cantores da nova geração portuguesa, aqueles que têm voz para cantar, se é que me entendem… A nível de notícias gosto de estar atualizada sobre o que passa em Portugal e no Canadá, o problema é que algumas das notícias que os nossos locutores lêem já saíram há dois dias…

Qual é a missão da rádio?

A rádio, tal como os outros media, deveria educar, ajudar a formar opiniões. No entanto, aqui em Toronto, as nossas rádios portuguesas em vez disso deseducam. Alguns locutores não têm formação na área da comunicação social, não dominam a língua portuguesa, têm problemas de dicção, pouca cultura geral. Eu tenho duas filhas e elas não ouvem a rádio portuguesa. Para chegar às novas gerações teríamos de ter um projeto completamente novo, mas para isso acontecer temos de perceber o que eles gostam de ouvir.

Está satisfeita com a grelha de conteúdos?

Quando ouço entrevistas os convidados são sempre os mesmos e às vezes eles próprios nem dominam o assunto que está a ser discutido, o que é lamentável. Alguns programas são chatos, parecem missas. Se a rádio não educa nem vale a pena ouvir. Só devíamos ter uma rádio portuguesa que funcionasse 24 horas por dia, era preferível em vez de termos várias rádios com pouca qualidade.

Carlos Moreira – 54 anos

Onde é que ouve rádio?

Ouço rádio portuguesa todos os dias e admiro um locutor com alguma cultura e sensatez. A nível musical sou fã de música tradicional portuguesa, desde o folclore até ao fado. Acho que algumas das nossas rádios passam muita música pimba e praticamente não ouço fado tradicional de Coimbra nas nossas rádios. Ouço rádio sobretudo de manhã e em qualquer lado, em casa, no trabalho, no carro. Estou muito desapontado com o corte de horas na emissão portuguesa da CIRV Radio FM, creio que foi uma grande bofetada na nossa comunidade.
Alguns dos nossos locutores são parciais, eles não deviam ter clube, religião ou partido e o interesse público deveria estar sempre acima do interesse privado. Posso dizer que já fui censurado porque quando eles não concordavam comigo tiravam-me do ar.

Temos poucas rádios portuguesas?

Infelizmente a nossa oferta é muito pobre, pelo menos quando comparada com outros grupos étnicos. A CHIN está na FM, mas é muito pouco tempo de emissão. A CIRV antes era das 12h às 21h, mas agora é só das 18h às 21h, cortaram seis horas de emissão. Para além disso ainda passaram para HD, o que não dá jeito nenhum porque temos que comprar o equipamento para todos os rádios. Em relação à Camões Radio, acho que a internet deverá ser apenas um começo, além do mais a rádio online é boa para os jovens, mas não funciona com os mais velhos.
Na minha opinião deveríamos ter uma rádio portuguesa em Toronto na FM durante 24 horas. E temos de ser mais cuidadosos com a programação, porque eu tenho dois filhos e eles não ouvem a rádio portuguesa.

Qual é a missão da rádio?

A rádio é um veículo que ajuda a formar a opinião das massas que deveria servir também para promover a cultura portuguesa. Comecei a ouvir rádio quando emigrei para o Canadá em 1986 e posso dizer que 80% da música que está no meu iPod é portuguesa. O meu gosto musical é variado, vai desde Dulce Pontes até Xutos e Pontapés.

Está satisfeito com a grelha de conteúdos?

Falta programação voltada para os ouvintes mais jovens. Os programas deveriam ser mais informativos, deveriam falar mais sobre doenças, parentalidade, finanças, mercado imobiliário, culinária, etc.

Tânia Barbosa – 22 anos

Onde é que ouve rádio?

Gosto de ouvir rádio em casa, no meu computador, no final do dia, quando estou a estudar. Estou no terceiro ano de Ciências Forenses na Universidade de Toronto e a música ajuda-me a concentrar. Gosto da Camões Radio porque é online e tem muita diversidade a nível de programas. Eu sou fã de música brasileira e africana e à noite vocês têm o programa “Espaço Mwangolé”, com o Francisco Pegado. Infelizmente não consigo ouvir o “Mundo Mix”, com a Adriana Marques, mas adoro os ritmos brasileiros.

O que achas da programação?

É sempre difícil agradar a todos, mas acho importante apostarem na divulgação do fado e do folclore. “Raízes do nosso povo” e “Fados do nosso fado” são programas que mostram a riqueza da música portuguesa. Gostava de ouvir um programa só com artistas locais, penso que seria uma forma de incentivá-los a continuar na música. Adoro o Nelz, os Karma Band, o Paulinho do Minho, Decio Goncalves, Peter Serrado, e tantos outros. Acho que não me importava de fazer um programa de rádio só com música local.

Porque é que ouves rádio?

Gosto de ouvir as músicas novas, se estiver sempre a ouvir o meu iPod fico desatualizada. Quando estou em Portugal de férias ouço mais notícias do que aqui, não tenho nenhuma app de notícias no telemóvel. Como estudo crime costumava acompanhar o caso Bruce McArthur, o maior caso da história forense da polícia de Toronto. Mas de uma forma geral gosto de estar informada sobre tiroteios, atropelamentos, acidentes… Acho que as entrevistas da rádio deveriam ser curtas e acho interessante a Camões Radio ter uma roundtable, é bom poder ouvir pontos de vista diferentes.

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