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Salvar vidas Uma forma de amor

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Fazer voluntariado foi a melhor decisão que tomei na minha vida. Poderia ser uma frase exagerada, mas não. É genuína. Sempre tive uma grande afinidade com animais e desde cedo senti vontade de os ajudar de alguma forma. Para mim trata-se de levar auxílio aos que não o conseguem pedir. Vim de um país onde, infelizmente, as taxas de abandono animal e os números de animais de rua são elevados.

Quando estava a estudar jornalismo fiz uma reportagem sobre o canil da cidade e fiquei sensibilizada com o que presenciei. Pouco tempo depois adotei o Zeppelin, que hoje é um cão muito feliz! Aqui no Canadá adotei dois gatos: primeiro a Rachel, que resgatei da rua, e o Mouse, da associação canadiana AVA (Action Volunteers for Animals). Cada experiência de adoção ia-me transformando mais e mais. De repente, eu queria dar uma família a todos eles! Sabia que era impossível, claro, então pensei no que eu tinha de valioso para oferecer. Não tinha como fazer um grande donativo ou lhes dar um lar. Mas podia oferecer o meu tempo, presença e trabalho. Candidatei-me para ser voluntária na AVA, que trabalha com gatos, e já lá vai quase um ano em que todas as semanas cuido deles por algumas horas. A AVA é um “no kill shelter”, o que significa que nenhum animal é abatido devido a sobrelotação do espaço, ao contrário do que acontece com o canil municipal.

Normalmente faço o turno de fim de tarde e noite. Quando chego troco informações com o voluntário do turno anterior. Fazemos uma atualização dos gatos que temos no momento, mudanças de comportamento, alimentação, eventuais problemas de saúde, medicação e outros detalhes. Começo por socializar um pouco com os animais. Eles são muito como nós, humanos. Cada um tem uma história de vida e percebe-se pela postura, pelo olhar, pela interação, que alguns já passaram por muito. Dezenas de pessoas passam pela vidraça para os admirar, mas apenas algumas batem à porta. “Como se faz para adotar?” – é a melhor pergunta que posso ouvir. Dou todas as explicações, falo sobre a personalidade de cada um e esclareço dúvidas que tenham sobre o processo de adoção. Entretanto chega a hora do “jantar”, ou seja, de lhes dar a refeição de comida húmida da noite. Há que pôr mais ração e água fresca nas taças, manter as caixas da areia sempre limpas, higienizar os compartimentos onde dormem, lavar a loiça do “jantar”, varrer o chão, levar o lixo e outras tarefas rotineiras. A melhor parte é sempre interagir com eles, vê-los progredir e aprender a desfrutar da vida num espaço seguro e acolhedor.

Foram muitos os momentos emocionais ao longo destes tempos. Um dos que mais me marcou foi o Porthos, um gato com 12 anos que a AVA resgatou de um abrigo sobrelotado no Quebec. O Porthos tinha o dia da sua eutanásia marcado, juntamente com três outros gatos. Eles não tinham qualquer problema de saúde. A única razão era por falta de espaço e porque eram os gatos mais velhos do abrigo. Quando cheguei ao meu turno e vi o Porthos pessoalmente, chorei. Chorei sozinha, enquanto varria o chão, trocava a água e todas essas coisas. Com uma pessoa, é crime. Um animal, não tem voz. Não é nada. É mais um número. De muitas histórias se faz o voluntariado. Histórias, vivências, gratidão e muita fé, é o que levamos connosco. No início tive receio. De não conseguir manter o compromisso, de não dar para conciliar com o trabalho em algumas semanas, de o meu inglês não ser suficientemente bom, de não conseguir lidar emocionalmente com alguns casos, de não conseguir cuidar de tudo sozinha… são muitas as dúvidas. Agora posso dizer que o grupo com quem trabalho é excecional, muito inclusivo e inspirador. Nunca falhei um turno, o meu inglês melhorou, fiz amigos e, claro, chorei algumas vezes, mas ri e sorri muitas, muitas mais. Ver os gatos a encontrar famílias é a melhor recompensa e tem sido uma sensação maravilhosa colaborar com pessoas que estão na missão de fazer o bem pelo bem, de forma desinteressada. Essa é a forma de amar mais bonita que existe.

Telma Pinguelo/MS

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