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Regressar à escola ou ensinar em casa até ver?

Impossível não pensar, com preocupação, no regresso das crianças à escola em setembro próximo. Sou avó de quatro netos em idade de frequentar a escola primária e, por essa razão, é natural que tenhamos tido muitas conversas em família, à volta da mesa, e colocado múltiplas questões para as quais se continua a não obter resposta satisfatória. Muito em breve os pais serão forçados a tomar a difícil decisão – levá-los para a escola ou continuar o ensino em casa.

 

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Foto: DR

 

O Governo do Ontário decidiu que se regresse à escola sem ter tomado, com a devida antecedência, as precauções no arranjo das salas de aula, na redução do número de alunos, bem como no providenciar de recursos complementares que, aliás, já se pediam antes do problema da Covid-19. O Governo provincial, consciente dos riscos que esta decisão acarreta, deixa a liberdade aos pais de poderem optar por continuar o ensino em casa, responsabilizando-os pelo cumprimento do currículo.

Enquanto mãe, educadora e ativista, passei muitas horas nas escolas da cidade de Toronto, quer públicas quer católicas. Nos últimos quatro anos, tenho feito trabalho voluntário nas salas de aula dos meus netos. Vejo com preocupação o regresso às aulas. Não acredito ser possível em tão pouco tempo, por exemplo, mudarem janelas que não se podem abrir para arejarem as salas, manter as distâncias aconselhadas dentro delas entre mesas e cadeiras para acomodar, com segurança, os 25 ou mais alunos que a província acha normal sentar numa sala de aulas. É impossível não haver transmissão do vírus!

Sinto grande empatia e consideração pelos professores e assistentes quando penso nas dificuldades que irão enfrentar, dados os cuidados extras que precisam ter: lavagem constante de mãos, uso de máscaras e proibição de contacto físico entre crianças. A professora – com viseira, máscara e distanciamento social – irá conseguir conversar, explicar e persuadir uma criança a obedecer? Quanto tempo vai sobrar para o ensino e a aprendizagem da matéria escolar?

A preocupação com a ida dos meus pequeninos para uma escola, onde ser criança deixou de ser natural e viável, é real.  Vão ter que ser inventados novos rituais, fruto de receios, preocupações e desconfiança – algo não desejável. O que se sabe de outros países onde nunca se fecharam as escolas ou, onde o regresso à escola se fez, após breves pausas, não é suficiente para se poder seguir o exemplo, pois não há sucesso completo em nenhum dos modelos utilizados.

Dediquei a minha vida profissional à educação e sinceramente acredito que a sala de aula é fundamental para se aprender a viver em sociedade; é onde os alunos adquirirem conhecimentos dados por profissionais, essenciais para a sua vida de adultos. A escola é um espaço privilegiado onde se pode também praticar desportos e atividades extracurriculares enriquecedoras. A escola prepara para o futuro e alivia grandemente o trabalho dos pais e encarregados de educação.

Dados os condicionalismos que vivemos, no entanto, acredito que os pais que optem por se responsabilizar, durante mais algum tempo, com o ensino dos filhos em casa, estão no caminho certo. Se tiverem tempo e preparação mínima adequada, em nada irão prejudicar as crianças, muito pelo contrário. Esses pais evitam riscos de saúde para a família, põem a segurança e a bem-estar de todos em primeiro lugar, para além de contribuir para aliviar o sistema. Contudo, sei bem que apenas uma minoria de pais tem os recursos indispensáveis para poderem optar por essa solução. 

Como avó, sei que haverá consequências diretas nas escolhas feitas pelos pais dos meus netos. Se as crianças voltarem à escola, os avós só os poderão contactar depois de respeitadas as regras de distanciamento, criadas desde o início da pandemia. A alegria e conforto dos abraços e beijos vai desaparecer para ser substituída pela comunicação à distância. Não é fácil optar por um ou outro dos caminhos. As consequências da tomada de decisões no presente só o futuro as irá revelar. 

Nota importante: A algum pai e/ou encarregado de educação que me esteja a ler e que tencione não levar logo em setembro a criança para a escola, aconselho seriamente a matriculá-la (caso seja a primeira vez) ou a mantê-la matriculada na escola. Caso não o faça, haverá consequências negativas para o orçamento da escola e o risco de, mais tarde, não haver lugar na sala de aula pretendida.

Manuela Marujo/MS

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