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Racismo!

A desumanização que prevalece

O recente caso do homicídio de um cidadão afro-americano, durante a sua detenção, por um polícia branco da cidade de Minneapolis nos EUA, suscitou uma onda de revolta nesse país e por todo o mundo, onde se continua a verificar este tipo de fenómenos racistas e discriminatórios para com a população negra, entre outras, merece-me uma pequena e simples análise sobre o assunto.

Este tipo de acontecimentos segregacionistas para com quem é diferente de nós, seja pela cor da pele, pela cultura, religião ou qualquer outra diferença que os distinga da população maioritária onde se inserem, independentemente da especificidade do país ou região onde acontecem este tipo de incidentes, têm origens semelhantes porque são troncos de uma mesma árvore. A intolerância!

Uma intolerância que tem uma história de séculos da população negra, onde a escravatura foi determinante na criação da mão de obra gratuita de então, até à mão de obra barata dos dias de hoje e que continuou a proporcionar a vantagem económica dos mais fortes, sejam eles Estados, grandes empresas privadas ou simples proprietárias dos supermercados de bairro.

Essa discriminação económica acabou por impor uma discriminação social, remetendo a generalidade desses extratos da população, com grande escassez de recursos e, naturalmente, de meios de promoção social, para a exclusão da vida social mais geral.

Tal evidência acaba por dar origem a algumas bolsas de resistência e marginalidade, proporcionadas pelo elevado desemprego que sofrem e a ausência de um futuro semelhante ao da população branca, a que são sujeitas essas minorias distintas do resto da população, ocasionando todo o tipo de receios à população autóctone. Nas situações sociais em que essa clivagem social entre brancos e negros é mais preponderante, pelos episódios das respetivas histórias nacionais e pela exposição mediática das confrontações, esse medo e hostilidade para com aquele que é “diferente”, acaba por exercer uma influência objetiva e subjetiva na restante sociedade, tornando-se o lastro essencial para a propagação de ideologias racistas e xenófobas que, em diferentes proporções, atingem os mais diversos escalões das sociedades, alimentando o ódio racial e exaltando a dita “supremacia branca”.

72 anos depois da aprovação na ONU da Declaração Universal dos Direitos Humanos, por representantes de todas as regiões do mundo que, entre outros aspetos, estabelecia a eliminação de todas as formas de discriminação racial, as sociedades continuam, de forma geral, presas a preconceitos de origem racial, pese embora todas as normas legais que adotaram contra essa discriminação. Preconceitos visíveis, no trato social quotidiano por quem se proclama abertamente racista e invisíveis, por fazerem parte da subjetividade de muitos dos vulgares cidadãos brancos comuns, que não se manifestam publicamente em situações normais, por receio da crítica social vigente, mas que “explodem” sempre que se sentem pessoalmente ameaçados pelas mais diversas razões ou quando os poderes instituídos o determinam.

Portugal teve um papel de relevo em todo este contexto, com o seu secular comércio triangular de escravos e, mais recentemente, com a guerra que travou em África, para preservar as suas colónias e os muitos milhares de retornados/revoltados que veio a acolher. No entanto e aparentemente, o país não abriga favoravelmente ideais racistas, embora se reconheça a existência de alguns grupelhos com ligação a essas ideologias, por inspiração de outras organizações internacionais e também por alguns acontecimentos esporádicos, que estão muito longe de constituir regra.

A que se deve tal fenómeno de apaziguamento inter-racial? Porque os pais da nossa atual geração foram condenados a combater em África, sem nenhum sentimento de pertença àqueles territórios, nem nenhuma apologia do racismo? Porque somos um povo de “brandos costumes”? Porque a nossa cultura humanista é mais forte que a de outros povos onde o racismo é mais patente?

Julgo que, em diferentes proporções, por todas essas razões, às quais associo as vantagens económicas para o país da manutenção relações amigáveis com os novos poderes africanos constituídos após a independência das ex-colónias, quer na reconstrução desses países, quer na absorção de mão de obra barata, oriunda deles.

A “Aldeia Global” em que se transformou o mundo, após a revolução tecnológica dos meios de comunicação, permitindo na hora o conhecimento e a imagem dos acontecimentos em qualquer parte do planeta, tornou os seus habitantes mais sensíveis e críticos às causas de desumanidade que se manifestam em qualquer sitio, razão pela qual o caso da brutalidade policial nos EUA, teve ecos em numerosos países, dando origem a variadas manifestações de protesto e a um aumentar da consciência cívica que nos deve unir a todos. Quero acreditar que se o interesse público mediático e a operacionalidade das grandes empresas de comunicação social não for obstruída por qualquer poder discricionário, a humanidade poderá influenciar coletivamente o desfecho positivo das grandes causas que ainda a atormentam.

Luis Barreira/MS

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