“Quando eu acho que as coisas têm que mudar, ponho o meu nome à frente, para dar o meu melhor” – Paulo Pereira, candidato a Presidente da ACAPO
Porque acha que a ACAPO tem que fazer mais pela comunidade. Porque acha que é necessário que o Presidente da ACAPO ouça mais e converse, que aceite opiniões e não, pura e simplesmente, dê ordens. Porque entende que a ACAPO deve ter mais transparência na sua gestão financeira. Porque considera que, para garantir o futuro, é necessária uma mudança e uma gestão com novas ideias e mais jovem. Por tudo isto, Paulo Pereira, ex-presidente da Associação Cultural do Minho de Toronto, vai apresentar-se no Conselho de Presidentes da ACAPO, na próxima terça-feira, dia 1 de outubro, como candidato à Presidência da Aliança de Clubes e Associações Portuguesas de Ontário.
Assumindo a sua falta de experiência, Paulo Pereira aposta tudo na sua vontade de fazer melhor, de fazer diferente e de ajudar os Clubes e Associações a prosseguirem com a sua atividade, crucial para a existência da comunidade portuguesa aqui residente.
Não se trata de tarefa fácil, enfrentar quem está no poder há tantos anos, mas Paulo Pereira está convencido que a sua candidatura vai ao encontro da vontade de muitos líderes associativos, que também desejam a mudança. Por isso, acredita que vai vencer e está pronto para arregaçar as mangas e trabalhar para o que pensa será o bem da comunidade.
Milénio Stadium: O que é que o motivou a dar este passo de se candidatar a Presidente da ACAPO?
Paulo Pereira: Bom, vou ser honesto. Não me está a agradar o que estou a ver na nossa comunidade. Cada vez mais os diretores estão mais envelhecidos, há pouca juventude a participar nas decisões. Há muito desperdício, muita concorrência. Há eventos a triplicar. Dá a impressão que nós estamos a trabalhar para sobreviver, mas não necessariamente a dar à comunidade o que a nossa comunidade precisa. Então, eu acho que nós temos que nos sentar à mesa e conversar. E quando eu ia às reuniões da ACAPO, que, ao fim ao cabo, em teoria devia ser realmente uma aliança dos clubes, um sítio onde a comunidade se senta à mesa e conversa sobre a realidade da nossa comunidade, não havia conversa. Havia ordens. Ninguém participava. Eu, como cresci na nossa comunidade, já vi altos e baixos, mas eu acho que nós estamos mal encaminhados. Então, como faço sempre quando eu acho que as coisas têm que mudar, ponho o meu nome à frente, para dar o meu melhor, para mudar as coisas, e resolvi candidatar-me a Presidente da ACAPO.
MS: Mas, concretamente, qual é o papel que devia ter a ACAPO e que não está a corresponder?
PP: Vamos ver o que verdadeiramente faz a ACAPO. É uma organização que faz o 10 de junho, a Parada e um festival e pode dizer também que faz uma gala para angariar fundos para o 10 de Junho e algumas pequenas cerimónias. Mas se nós formos a discutir o que é que verdadeiramente se passa, as dificuldades das nossas casas comunitárias, a ACAPO sobre isso não diz nada, não faz nada e isso é que não pode ser. Nós temos muito da nossa comunidade para oferecer aos luso-canadianos, os que vieram para aqui como emigrantes, e os já aqui nascidos e às futuras gerações. Só que a nossa comunidade parece que está a trabalhar para sobreviver e não aprender com os outros a tentar simplificar as coisas para dar o que nós precisamos – ter as escolas de português, ter programas para os idosos. São coisas a que devíamos dar mais apoio, mas são coisas raríssimas. O que nós temos muito na nossa comunidade são casas que estão fechadas durante a vasta maioria da semana. E depois, quando estão abertas, é por meia-dúzia de horas, para ter um grupo a fazer um ensaio ou ter um restaurante para servir 20 ou 30 almoços. E aí desperdiçamos a nossa potência. E a ACAPO não põe no papel a realidade das coisas. Não há essas conversas.
MS: Aquilo que defende é que a ACAPO deve ser um moderador do trabalho das associações?
PP: Não! Não deve ser um moderador. Eu acho que a ACAPO devia levar a avante um estudo comunitário sobre a realidade do que é a nossa comunidade. Mostrar mais transparência, ajudar a instalar bons hábitos de trabalho. Cada um de nós temos a nossa perceção da comunidade diferenciada, mas não sabemos que só em Toronto há dez prédios comunitários que pagam 200, ou vamos dizer 100 ou 150.000$ em taxas de propriedade. Isso é um número que pode ser importante para a nossa comunidade. Nós não sabemos a realidade de quanto vivemos à custa de patrocinadores, são fatores que é importante saber para depois estudar – como é que vamos avançar? O que é que nós queremos? Onde é que estamos? Onde é que nós queremos ir?
MS: Acha que está em causa o futuro da comunidade?
PP: Sim, eu acho. Eu acho que o modelo, o modelo atual, não vai durar para sempre. Nota-se bem quem é que assume ou se encarrega de formar direções, são cada vez mais velhos. Não há aquela presença de jovens. Parece que há dois graus de pessoas – as pessoas dos 50 para cima e depois os filhos, que na casa dos 30 ainda têm algum envolvimento, mas a partir dos 25/30 fogem, não querem e não aparecem. E depois de desaparecerem, muito poucos voltam.
MS: Relativamente às suas ideias e àquilo que quer fazer, tem tido a oportunidade de falar com quem vota nesta eleição, que são os presidentes das associações e clubes que fazem parte da Aliança?
PP: Eu tenho tentado ir bater às portas, sentar à mesa e conversar com os presidentes e os delegados, porque cada associação, membro da ACAPO, tem direito a três votos. O Presidente, mais dois delegados. E eu tenho-me esforçado por falar com eles, porque eu posso ter as minhas ideias, as minhas sugestões, mas não vale a pena avançar com as minhas ideias, porque a minha interpretação, a minha perspetiva da comunidade não é necessariamente a realidade. Essa é a razão pela qual eu simplesmente digo que é quero um mandato para fazer um estudo, para pôr em papel a realidade atual e, depois, vamos conversar outra vez. Porque eu, eu acho que a atual direção da ACAPO só está preocupada com o festival. O que é importante, não é? Mas não é a coisa mais importante que a nossa comunidade enfrenta. Há que haver um focar de intenções. Porque eu acho que se continuarmos com o caminho, as coisas vão complicar-se. E esta é a razão pela qual vou falar com os clubes. E principalmente, tem sido neste mês de Setembro. Porque com as férias de verão e com as eleições a serem adiadas duas vezes, tem sido um bocado complicado e infelizmente não tive oportunidade de ir a todo o lado e estas são conversas que prefiro fazer em pessoa, porque são conversas delicadas, complicadas.
MS: Mas de uma forma mais clara – sente que vai ter apoio para ser eleito?
PP: Sim, eu acho que sim! Há muita gente que quer ar fresco, que quer a mudança, que quer apoiar. E há muita gente que vai apoiar. Não necessariamente querem cargos, porque é como digo, estão a trabalhar para sobreviver e eu, pessoalmente, sei da minha experiência, o que é que é dedicar-se a tempo inteiro, para gerir uma casa, para puxar uma casa para a frente. E eu tenho que aplaudir o esforço de quem se põe à frente das nossas organizações. Não é fácil. Mas eu quero avançar. Eu digo às pessoas o meu projeto é para expressar as vossas dificuldades, porque se eu conseguir fazer a vossa vida mais fácil, a missão está cumprida. Eu vou apresentar uma lista que eu estou a formar com jovens da comunidade. E depois acrescentar conselheiros, que não necessariamente vão ocupar cargos e, por isso, não vão aparecer na lista, mas são pessoas com experiência na nossa comunidade, que querem e vão apoiar. Mas à frente, a dar a cara tenho uma equipa jovem, competente, que quer ver o bem da nossa comunidade.
MS: Para além dessas reuniões, o que pensa fazer para divulgar a sua candidatura?
PP: Eu honestamente estou a usar os meios de comunicação, mas é como digo a minha preferência é ir falar com as pessoas, conversar, conversar com pessoas presencialmente, para lhes mostrar que o que eu quero é fazer o bem para eles, não é? Não é só falar, eu quero mostrar. Eu quero que o meu trabalho fale por si. E quero demonstrar que a ACAPO não pode ser distante dos clubes. ACAPO tem que chegar mais próximo dos clubes, tem que chegar mais próximo daquelas pessoas que trabalham no dia após dia, para o bem da nossa comunidade. Essa é a razão do meu esforço de tentar ir bater a todas as portas. Infelizmente não vou conseguir ir a todas, mas vou tentar ir e aproximar-me dos clubes.
MS: Quando diz que a atual direção apenas faz a Parada, o Festival, a Gala? O que é que acha que uma ACAPO pode e deve fazer mais?
PP: É assim. A ACAPO tem muito que pode fazer. Simplesmente tenho de diagnosticar o problema. É complicado porque a ACAPO devia ser uma instituição de apoio aos clubes. Por exemplo, se eu faço uma aplicação pela ACAPO para a parada, para um subsídio do governo… qual é o custo marginal? E partilhar essa formação aos clubes e ajudá-los a fazer aplicações para os subsídios também, para divulgar os seus eventos e os seus bons esforços. Isso é uma coisa simples que a ACAPO podia fazer, mas não acontece e quando acontece é por escolha da direção. A direção escolhe quem é que vai ajudar. A informação não é partilhada, não é divulgada da mesma maneira por todas as casas. Há interesses instalados que prejudicam a comunidade. Eu vou apelar à comunidade que o nosso grau de transparência seja elevado. Por exemplo, atualmente a ACAPO não apresenta contas desde dezembro de 2022. Falta o ano fiscal que acabou em 31 de agosto de 2023. Já lá vai um ano e ainda não foi apresentado.
MS: Há pouco também disse que nas reuniões ninguém dava, partilhava sugestões só se ouviam ordens. Acha que os presidentes que fazem parte do Conselho de Presidentes também têm alguma responsabilidade nisso?
PP: Sim e não. É difícil criticar os presidentes, porque eles são pessoas que estão a trabalhar em organizações e, como eu digo muitas vezes, para sobreviver. Têm tanto em cima do prato que acrescentar mais um cargo, mais um trabalho, é complicado. Porque equilibrar o lado de vida associativa, vida profissional, vida familiar já é, às vezes, muito para uma pessoa, sem ter uma equipa própria. E são dificuldades que muitos dos nossos presidentes enfrentam. E depois vamos ser honestos, a estrutura da ACAPO, queiramos ou não, está praticamente assente numa só pessoa, há mais duas décadas. Quer dizer, quem sou eu que cheguei aqui há dois anos ou quatro anos para enfrentar quem está aqui no poder há 27? E é isso que tens que se combater. Porque temos que aprender. Eu vou ser honesto fazer uma Parada do dia 10 de Junho vai ser uma coisa nova para mim. Não é porque não tenha participado no evento. Mas eu, como Presidente da ACMT, nunca fui envolvido, nunca me disseram o que é que faz falta, nunca me mostraram o que está por trás da organização da Parada. Porque isso não é, nem nunca foi, divulgado? Aquilo que tem acontecido, bem ou mal, tem acontecido. Quem participa não se preocupa. Isso pode ser bom para quem está sobrecarregado com o trabalho da sua própria associação ou clube, mas é mau para a continuação da nossa comunidade. Há muita informação institucional que se tem perdido numa só pessoa.
MS: Portanto, o Paulo Pereira vai enfrentar essa pessoa, que está há 20 e tal anos à frente da ACAPO. Chegou a tentar chegar a um acordo ou tentar obter apoio da parte do anterior presidente para a sua candidatura?
PP: Honestamente, eu como tenho estado na comunidade a minha vida toda, por causa dos meus pais, depois ao me envolver eu próprio, eu conheço a pessoa há muitos anos e vou ser honesto, logo na minha primeira assembleia-geral na ACAPO, como Presidente da ACMT, houve faíscas com o atual Presidente da ACAPO. Porque houve mentiras que foram apresentadas e para enganar as pessoas. É isso é uma coisa complicada de lidar. Que o meu oponente tem feito um bom trabalho? Tem. Ninguém lhe pode tirar esse mérito. Só que chega a certos momentos, que a maneira como as coisas são feitas prejudicam mais a comunidade do que propriamente beneficiam. E isso é que eu quero combater. E quis sempre combater. Houve uma aproximação e houve uma oferta em abril para trabalhar com ele. Não contra ele. Mas, nem sequer cinco minutos depois, começaram a ameaças. Não se pode trabalhar assim. Nós trabalhamos todos para proveito da comunidade, não para beneficiar da comunidade. E são esses interesses que têm que acabar.
MB/MS
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