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Quando cai a noite na cidade

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Créditos: Francisco Pegado

Muitos de nós quando deitamos a cabeça na almofada para mais uma noite de sono reparador, nem nos apercebemos que muitos outros estão acordados e a trabalhar para garantir que, logo ao acordar, a cidade está pronta para responder às inúmeras solicitações. E se muitos o fazem por não terem outra opção, muitos outros escolhem a noite para viver o seu dia-a-dia de trabalho. Porque gostam ou porque a recompensa financeira é mais atrativa.

Ana Santana, proprietária da Santana’s Bakehouse, é uma dos muitos milhares que nos garantem um acordar mais saboroso. Há já 20 anos que produz pão e outros produtos que nos confortam o estômago logo de manhã e isso obriga-a a trocar os dias pelas noites, sem que essa realidade a incomode minimamente. Aliás, Ana até afirma, de forma muito clara, que adora trabalhar à noite, não encontrando nenhuma desvantagem na vida noturna que a profissão a obriga. Antes pelo contrário, Ana considera que o facto de haver menos trânsito, torna a cidade mais calma.

Já Helmer Fontes, gerente do supermercado FresCo, que trabalha há bem menos tempo no período noturno – há apenas três anos, também realça a facilidade de deslocação nos transportes públicos, como a principal vantagem de trabalhar à noite. No entanto, Helmer identifica o estado do tempo, que principalmente no inverno se torna mais agreste durante a noite, como uma desvantagem de ter que trabalhar no período noturno.

Apesar da sua vivência da noite não estar propriamente relacionada com diversão, tanto Ana como Helmer sublinham que a cidade de Toronto é muito dinâmica, com muita oferta de sítios e tipos de entretenimento. E a boa notícia é que nem um nem outro sentem qualquer tipo de insegurança quando se deslocam na cidade, durante a noite. E se Helmer prefere a beleza diurna da cidade, porque “podemos apreciar os detalhes”, Ana tem uma opinião diferente e sublinha que, de noite, a cidade fica mais bonita com as luzes que a desenham.

O trabalho noturno é essencial, mas não é propriamente fácil e até, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, pode trazer evidentes danos para a saúde, sendo inclusivamente indicado como uma das prováveis causas de cancro, devido à rutura do ritmo circadiano – período de aproximadamente 24 horas em que se baseia o ciclo biológico.

O “grande culpado” pode ser identificado como Thomas Edison que, como sabemos, inventou e produziu a primeira lâmpada, proporcionando-nos a possibilidade de viver a noite de outra forma. No entanto, segundo Russell Foster, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, especialista na área, “O sono foi a primeira vítima”, e acrescenta ainda que “a grande questão é que nós temos um relógio biológico interno que é ajustado pelo mundo externo como resultado da exposição ao ciclo claridade/escuridão”.

Segundo este especialista, os trabalhadores noturnos são expostos a níveis reduzidos de luz durante o turno da noite, mas como se deparam com a intensa claridade natural da manhã, no regresso a casa, o relógio biológico interno fica travado no padrão de claro/escuro dos trabalhadores diurnos e “passamos constantemente por cima do impulso biológico que diz que deveríamos estar a dormir.”

E que tipos de efeitos o trabalho noturno pode ter no organismo humano? Foster explica que o facto de enganarmos o nosso relógio biológico faz com que ativemos aquilo a que se chama “eixo de stress”, que mais não é do que a forma como o corpo reage numa situação de luta ou fuga. Segundo o professor da Universidade de Oxford, na prática o que acontece é que estamos permanentemente a “esguichar glicose na circulação sanguínea”, e aumentamos a pressão arterial porque o organismo está num constante estado de alerta relativamente a potenciais ameaças. Continuando, Foster afirma ainda que os níveis continuados de stress podem contribuir para que se desencadeiem doenças cardiovasculares ou distúrbios metabólicos, como a diabetes tipo 2.

Esses são os possíveis resultados no longo prazo, mas a privação de sono também tem consequências mais imediatas – o efeito mais evidente é o cansaço, a dificuldade em assimilar informações corretamente, para além da perda de empatia. Estes são os principais sintomas de que são “vítimas” os que trabalham “quando cai a noite na cidade”, por muito que a amem e a vivam intensamente.

Catarina Balça/MS

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