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Portugal no mundo: Das natas ao frango de churrasco

Portugal está hoje completamente estabelecido num dos epicentros culturais do mundo: Toronto. As nossas raízes, sabores, idioma e tradições são, oficialmente, parte da mesclagem colorida que é o Canadá.

Ao longo dos anos, fomos carimbando os nossos passaportes, importando elementos da nossa identidade, até que aqui fundámos o nosso pequeno Portugal. São muitos os trunfos que para isso contribuíram, e um deles é certo: quando se fala de pôr a mesa, Portugal é rei. A gastronomia lusa é rica e variada, deixando transparecer influências atlânticas e mediterrânicas. O mar imprime alguns dos traços mais marcantes da nossa culinária, com o peixe e o marisco abundantes em toda a costa nacional e, ao viajarmos para outras regiões, encontramos carnes, vinhos, queijos, azeites e doces de fazer crescer água na boca. Alguns são, oficialmente, reconhecidos como parte do nosso património imaterial. Mesmo os que não pertencem a esse pódio, são por excelência um marco da nossa gente e assumem grande importância ao nível cultural, social e económico.

O caldo verde, o cozido à portuguesa, as açordas, as francesinhas, o bacalhau confecionado de inúmeras maneiras, os variados pratos de mariscos… a lista poderia continuar. Das entradas à sobremesa, Portugal tem iguarias que compõem um cartão de visita chamativo e nos levam de boca em boca. Ao vir para o Canadá, os portugueses tiveram de deixar o país para trás, mas trouxeram pedacinhos dele. Os pratos típicos ajudam a enganar a saudade e fazem as delícias de outras etnias. Os restaurantes, padarias ou mercados portugueses são muitos e fáceis de encontrar em qualquer ponto da cidade de Toronto.

Pastéis de nata

Entre as nossas delícias temos os célebres pastéis de nata. Reza a história que foi em 1837, em Belém, que os clérigos do Mosteiro dos Jerónimos puseram estes pastéis à venda pela primeira vez, numa tentativa de subsistência. Como ainda hoje acontece, naquela época a localização privilegiada do mosteiro atraía inúmeros turistas que contribuíram para difundir esta criação. Hoje são uma das mais populares especialidades da doçaria portuguesa e podem ser saboreados em muitos cafés e pastelarias. A receita original é um segredo exclusivo da Fábrica dos Pastéis de Belém, em Lisboa, onde os pastéis se comem ainda quentes, polvilhados com canela e açúcar em pó. Em 2011, o Pastel de Belém foi eleito uma das 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal. Mas… só de Portugal? Claro que não. Que o diga Angelina Oliveira, sócia da Brazil Bakery, em Toronto. “Todos os dias vendemos por volta de 1000 pastéis de nata, entre as três localizaçōes. Fora os pastéis que vendemos em encomendas para fora”. Quem procura estas maravilhas não são apenas os portugueses, antes pelo contrário. “A comunidade canadiana, e outras também, gostam muito dos nossos pastéis de nata. O nosso pastel não tem um segredo, mas cada chefe tem uma maneira de trabalhar e de o fazer, tanto o creme como a massa de fora. Os nossos podem não ser dos mais bonitos, mas o sabor, esse é sem qualquer dúvida muito bom”. Há 40 anos que Angelina está na nossa comunidade e contou ao Milénio Stadium que este é o pastel que mais tem saído. “Este é um dos pastéis que se vende mais. Os outros também vendem, mas não em tanta quantidade”.

Frango de churrasco

Mais um embaixador da gastronomia portuguesa que anda pelos garfos da cidade é o frango de churrasco, inspirado nas especiarias lusófonas. Na era dos Descobrimentos, os portugueses foram, entre outros países, a Moçambique, de onde trouxeram o piri-piri. Tempos depois surgiu este prato que hoje é amplamente difundido em Portugal e conhecido em todo o mundo. Há até quem tenha o seu restaurante ou churrasqueira predileta para o comer. Uns acreditam que o segredo está no molho, outros que está na forma como é preparado e grelhado. Para Agnelo Costa do Restaurante Piri-Piri o segredo está na conjugação de vários fatores “1 – a qualidade do frango é fundamental; 2 – a quantidade e qualidade do sal; 3 – o método de grelhar – para não ficar nem cru, nem demasiado seco, nem queimado – é, portanto, muito importante; 4 – e, por fim, o molho”.

Na comunidade portuguesa, as churrasqueiras são dos lugares mais procurados para almoçar ou jantar e alguns portugueses conseguiram mesmo fazer sucesso internacionalmente, como o portuense moçambicano Fernando Duarte que em 1987 comprou um restaurante chamado Chickenland e lhe mudou o nome para Nando’s, na época conhecido como o restaurante do Nando. Este simples material gastronómico serviu de base para praticamente todo o menu, apresentado das mais variadas maneiras: grelhado com piri-piri, cortado, em espetadas e até na cataplana.

A este propósito Agnelo Costa diz-nos que, em Toronto, o frango de churrasco é talvez dos produtos gastronómicos portugueses mais procurados e mais conhecidos. “Na nossa comunidade é frango e peixe. É das coisas que pedem mais. No Piri-Piri é diferente. Nós temos muita variedade de carne de qualidade grelhada e uma grande variedade de marisco e de peixe grelhado. Apesar de não sermos bem uma churrasqueira somos conhecidos pelo nosso frango. E temos talvez um dos melhores molhos de piri-piri do planeta.

Mas Agnelo Costa não vê esta associação da gastronomia portuguesa ao frango de churrasco, quase à escala mundial, como algo muito positivo, embora a admita com um “Infelizmente!” e explica porquê – “é muito difícil dar a conhecer a nossa cozinha, porque a nossa cozinha é muito cara. Nós não conseguimos fazer, como fazem os italianos. Eles fazem pizzas e massas por $20, com um bocado de farinha e água. Não temos essa habilidade. A nossa gastronomia é muito cara.”

Telma Pinguelo

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