Pierre Poilievre? Pior do que aquilo que temos agora, de certeza que não vai ser – Fernando Rio
“Eu não me considero conservador. Eu sou simpatizante de gente competente.” Com esta frase,, em jeito de ponto prévio começou a conversa com Fernando Rio, conhecido empresário da comunidade portuguesa residente na GTA. O tema era, naturalmente, a demissão de Trudeau e suas consequências e Rio logo tratou de sublinhar que desde há muito que percecionou no primeiro-ministro do Canadá “os defeitos que toda a gente está a ver agora nele”. O problema, afirma Fernando Rio, é que Justin Trudeau “é uma pessoa totalmente incompetente para ocupar aquela posição” e agora vê-se para onde ele levou o Canadá.
Caraterizando a situação atual como muito preocupante, entre outras razões pelo facto de o Presidente eleito dos EUA estar a fazer ameaças ao Canadá “estúpidas, a maior parte delas” e não se saber quem manda neste país, Fernando Rio acusa Trudeau de ter levado o Canadá para esta situação, porque priorizou os “interesses dele próprio e do seu partido, que, diga-se, ele destruiu completamente”.
A interrupção da atividade parlamentar, prorrogando a reabertura do Parlamento para 24 de março, na visão de Fernando Rio, mais não é do que uma estratégia para permitir a reorganização dos Liberais. Esta situação na visão de Rio torna os canadianos “reféns do Partido Liberal”.
Milénio Stadium: Na sua visão, o que é que fez Trudeau demorar tanto tempo para deixar a liderança partido e do governo?
Fernando Rio: O que sempre pensei do Justin Trudeau é que ele é um narcisista, ele pensa que ninguém mais neste país é capaz de governar o país, que ele é um imaculado, um todo-poderoso, que o país devia estar feliz e contente por ele existir para poder governar o Canadá. Toda a gente sabe que ele detesta o Pierre Poilievre e os conservadores, mas até dentro do partido dele ele nunca pensou, nem pensa, que há alguém capaz de fazer o trabalho brilhante que ele estava a fazer. E por isso ele continuou a ser teimoso e continuou a ficar lá, mesmo sabendo que não havia luz no fundo do túnel. Porque ele vê as sondagens todos os dias, como todos nós vemos. Só agora desistiu porque o próprio partido dele lhe retirou o apoio completamente e viu que não tinha alternativa nenhuma, porque o próprio partido estava contra ele.
MS: Olhando para estes nove anos e tal de Trudeau como primeiro-ministro – houve pontos positivos? Houve alguma fase da sua gestão que lhe tenha agradado?
FR: Infelizmente, não. Pessoalmente não sofri nada com a dinastia do Trudeau no poder, mas basta ver as estatísticas e os números que estão disponíveis para toda a gente,. Na minha opinião, o Canadá perdeu uma década de desenvolvimento em comparação, por exemplo, com o país vizinho. Há dez anos atrás, nós tínhamos um PIB per capita, ao nível dos estados mais ricos dos Estados Unidos e hoje estamos pior que Alabama, que é o estado mais pobre dos Estados Unidos. Os canadianos perderam em dez anos 40% do valor que tinham, quer seja na troca da moeda versus o dólar ou o euro, quer seja no poder de compra. Portanto, nós estivemos estagnados durante nove anos na parte económica simplesmente por decisões feitas por ele. Mas o que o que me chateia mais neste aspeto é que ele sendo uma pessoa de esquerda, porque ele é um liberal, mas um liberal muito à esquerda, que que fala em defender os mais desprotegidos, em defender os marginalizados e os pobres, veja o que ele fez ao país. Os ricos do Canadá estão hoje muito mais ricos do que o que estavam quando ele entrou para lá e a pobreza aumentou a um nível desproporcional. Nós temos mais pessoas sem abrigo a dormir na rua, mais pobres a ir a bancos de alimentos buscar comida. Nós temos mais pobreza do que tínhamos, mais crime do que tínhamos. Portanto, alguém que me mostre uma estatística que prove que alguma coisa que ele fez a não ser legalizar droga. Alguma coisa positiva para este país. E as coisas positivas que ele fez, como por exemplo o Dental Care e o Pharma Care, Child Care, só fez porque foi forçado pelo NDP, para se manter no poder. Porque se não fosse isso, ele não fazia. E foi empenhar o país mais ainda para poder dar esses benefícios, porque não está a dar esses benefícios com dinheiro que tinha no orçamento disponível. É só empenhar o país cada vez mais. Todas as pessoas sabem a dívida do Canadá e ele contraiu mais dívida durante o termo dele de primeiro-ministro do que os outros primeiros-ministros todos desde o início da Confederação do Canadá. E isto não tem só a ver com a pandemia.
MS: Entre os liberais, quem é que acha que está em boa posição de assumir a liderança do partido?
FR: Na minha opinião, a única pessoa que tem um bocadinho de cadastro para tomar conta do partido dos que falam para mim é o Mark Carney, porque é uma pessoa que tem experiência no ramo de administração de empresas, de bancos e essa coisa toda e não está completamente ligado ao governo e às atrocidades que eles fizeram nos últimos nove anos. Eu sei que ele teve alguma coisa a ver nos bastidores, no plano económico e isso tudo, mas por exemplo, a Chrystia Freeland, a não ser agora este mês, depois dela se demitir, ela esteve com ele desde o princípio e compactuou com todas as decisões. O Dominique LeBlanc é amigo dele desde que ele nasceu e é uma pessoa que acompanhou estes passos todos. Por isso, vai ser muito difícil para qualquer uma das pessoas que é agora membro do governo ou membro do Parlamento convencer o eleitorado de que não tem nada a ver com o que se passou até agora. Portanto, se o partido for inteligente vai trazer alguém de fora que tenha um cadastro mais ou menos limpo. Não é para fazer nada nestas eleições porque a não ser que haja um milagre nas próximas eleições, eles não vão a lado nenhum, mas pelo menos para preparar o partido para quatro anos depois.
MS: E o que é que o país pode esperar de Pierre Poilievre se ele vier a ser primeiro-ministro?
FR: Sendo eu um bocado conservador, como você sabe, Poilievre não era a minha escolha para líder do partido. A única razão para ele ter esta popularidade toda, na minha opinião, é o descontentamento do Canadá com o Trudeau do que propriamente o Poilievre. Porque ele, para mim, quando fala parece um reclame na televisão para vender um carro usado ou qualquer coisa. Eu não gosto de um político que usa slogans e que usa frases feitas, eu gosto mais de um político que olhe direto nos olhos das pessoas e responda as coisas nuas e cruas. A verdade como ela é. E eu acho que ele é um bocadinho teatro a mais para o meu gosto. Mas infelizmente é o melhor que nós temos agora. E nós precisamos de um partido que entre para o poder, que mude completamente o rumo que o Canadá tem tido até agora. Nós somos ricos neste país com os recursos naturais que nós temos e não estamos a utilizá-los por questões ideológicas deste governo que resolveu impor regulamentos e barreiras para todas as companhias que queriam investir no Canadá, no setor da energia. Temos que ter alguém que vá outra vez abrir a potência que nós temos para explorar os recursos naturais que nós temos para enriquecer este país, porque o petróleo quer a gente queira, quer não, vai fazer falta ainda por muitos anos. O gás vai fazer falta por muitos anos. Outros recursos, como o lítio e o cobalto, tudo aquilo que nós temos vai fazer falta ainda por muitos anos. E depois estamos a comprar a outros países que poluem muito mais do que nós, o que não faz sentido nenhum. Portanto, tem que haver uma maneira de nós usarmos aquilo que este país tem que faz enriquecer o país para benefício do povo que mora aqui.
MS: Disse no início que é simpatizante das pessoas competentes. Pierre Poilievre não é propriamente um líder que lhe agrade a 100%, mas confia que ele tem, pelo menos, a competência necessária para enfrentar o país neste momento?
FR: Não é só ele, eu não vejo só ele. Eu vejo ele e as pessoas que estão neste momento no Partido Conservador à volta dele. O Partido Conservador neste momento tem uma data de gente com bastante experiência e bastante competência. Eu não acho que um líder tenha que ser uma pessoa que sabe fazer tudo ou que é super competente, desde que ele saiba rodear-se de gente competente e depois ouça a opinião dessas pessoas… Portanto, se o Poilievre tiver a inteligência de se rodear de gente competente, ministros competentes e ouvir a opinião, eu acho que ele é capaz de assumir o cargo. Mas pior do que aquilo que temos agora, de certeza que não vai ser.
MS: O NDP esteve como aliado de Trudeau durante dois anos e meio, mais ou menos. Quebrou o acordo há muito pouco tempo, o que é que o NDP ganha com a perspetiva de eleições antecipadas?
FR: Nada. Estiveram este tempo todo a apoiar e a suportar e a votar com os Liberais e agora fazem de conta que não tiveram nada a ver com o assunto? Isso é a maior hipocrisia de sempre. Mas isso vê-se nas sondagens, porque este país tem uma história que é assim – todas as vezes que os Liberais estão em baixo, o NDP sobe porque uma parte do voto da esquerda dos liberais vai para o NDP. Esta é a única vez em que os Liberais estão de rastos nas sondagens e o NDP não consegue subir. Até ainda está mais baixo do que estava nas últimas eleições. A única razão que o Jagmeet Singh está ainda como líder do NDP é por ele ser parte de uma minoria. Porque se ele não fosse parte de uma minoria, o próprio partido já o tinha posto na rua há muito tempo.
MB/MS
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