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Pandemia altera celebrações do dia da Mãe

Alessandra com a filha Aisha à esquerda e com a mãe Dora à direita

Alessandra Faria estava a planear passar o Dia da Mãe pela primeira vez em oito anos com a mãe que vive no Brasil, mas a pandemia trocou-lhe as voltas. A passagem já estava comprada, mas a COVID-19 cancelou os voos da maioria das transportadoras aéreas do mundo.

A filha de Alessandra, a Aisha, tem 13 anos e está no 8.º ano. Aisha é apenas umas das muitas crianças que deixaram de poder ir à escola e que agora têm de aprender à distância. O ensino online está a testar alunos, pais e professores e, ainda que não seja perfeito, para já parece ser a melhor alternativa.

Bibiana Neves já trabalhou na área da educação e acha que reabrir as escolas pode colocar as crianças e os funcionários em risco. A sua experiência tornou o processo de ensino online mais fácil e ainda assim acredita que a filha, Rosechantal, de 12 anos, vai conseguir manter as boas notas.

ALESSANDRA FARIA

Milénio Stadium: Como é que explicou à sua filha a atual situação em que vivemos? Imagino que ela lhe tenha perguntado quando é que a pandemia acaba, quando é que volta a brincar na rua e a estar com os colegas e com os amigos…

Alessandra Faria: A minha filha por ser um pouco maior, entendeu o perigo da Covid-19 mais facilmente. Explicamos para ela que esse vírus estava chegando e como ainda era um vírus desconhecido, que teriam que fechar as escolas e comércios. E com isso ela teria que ficar em casa comigo e com meu marido isolados. Já que eu trabalho na área de cinema como set dresser e meu marido é tatuador, não tivemos escolha a não ser ficar em casa. Minha filha no começo perguntava mais quando essa pandemia iria acabar e poder voltar a encontrar os amigos. Mas ela entendeu rapidamente que não temos data certa, e que sua comunicação seria apenas virtual. Então ela e as amigas todos os dias se falam através de videochamadas.

MS: É diferente ser mãe durante a pandemia? Que rotinas é que mudaram? Há novos valores a ensinar às crianças?

AF: Ser mãe na pandemia é uma coisa louca. Ser mãe 24 horas não é fácil não. Minha filha é uma garota muito ativa – além da escola a tempo inteiro (9:00-3:00) ela pratica ginástica artística 16 horas por semana, então para ela ter que ficar em casa e nós nos acostumarmos com isso foi bem difícil no começo.  Agora temos a oportunidade de ensiná-la que a vida é curta, e que temos que amar e valorizar o próximo, que coisas como ir ao centro comercial nem sempre é necessário, que podemos viver com menos futilidades.

MS: Enquanto as escolas estiverem encerradas as crianças vão continuar a aprender à distância. Os pais têm agora um papel mais ativo no processo da aprendizagem, mas com esta cooperação também aumentam os receios. Como é que tem sido este processo? Acha que a sua filha vai poder passar de ano com boas notas?

AF: O ensino à distância nos conecta com nossos filhos, temos que aprender a usar essas “novas ferramentas” de aprendizado. Muitas vezes não é fácil, mas temos comunicação com os professores que também estão aprendendo juntos a usar essas ferramentas. Sobre as notas para passar de ano, a minha filha sempre teve notas boas, porém o que menos me preocupa agora são as notas, o importante é ela estar focada e mesmo que não estiver, sei que depois ela pode recuperar, a prioridade agora é ter saúde.

MS: É difícil sair de casa? Como é a sua rotina de desinfeção?

AF: Não trabalho com serviços essenciais, então estou em casa direto, mas quando tenho que sair para ir ao supermercado, tenho comigo o gel sanitário, uso luvas e máscara. Minha sorte que meu marido é tatuador, então ele tinha estoque desses produtos, então é menos um stresse. Mas quando volto do mercado, por exemplo, já tiro a roupa antes de entrar em casa. Temos uma mesa no quintal onde desinfetamos os produtos lá fora mesmo, limpamos todos os produtos com água, lixívia ou sabão.

MS:  Ontário disponibilizou um apoio de $200 por cada criança até aos 12 anos e criou infantários gratuitos para os filhos dos trabalhadores de serviços essenciais. Ontário foi a primeira província canadiana a divulgar as projeções sobre o impacto da COVID-19. O que é que acha das medidas que a província tem tomado durante a pandemia?

AF: Eu não tenho direito ao auxílio do Governo porque a minha filha tem 13 anos, mas acredito que essa ajuda é muito importante para os pais. Na verdade nesse momento qualquer ajuda financeira é importante, já que os gastos estão a aumentar. Apesar de eu não simpatizar com o Premier Doug Ford, julgo que ele tem feito um bom trabalho durante esta pandemia.

MS: O Quebec prepara-se para abrir as escolas a 19 de maio. Acha que as escolas de Ontário devem reabrir na mesma altura? Como é que vai gerir a ansiedade quando a sua filha voltar à escola?

AF: Sobre a abertura das escolas eu acho um absurdo, apesar que sei da necessidade de muitos pais terem que voltar ao trabalho, mas aqui em casa já está decidido a nossa filha não vai regressar à escola neste ano letivo, mesmo que as escolas reabram.  Sabemos que crianças não têm a consciência e a responsabilidade suficientes para manter a distância social, lavar as mãos frequentemente. E também acredito que as escolas não vão estar preparadas para esse “novo normal” ainda. Mas acho que cabe a cada pai e mãe perceber o que é melhor para a sua família.

MS: Como é que vai celebrar o Dia da Mãe? Como é que tem mantido a relação com a sua mãe à distância?

AF: Vou celebrar o Dia da Mãe em casa, provavelmente vamos fazer alguma comida juntos, mas nada especial, já que o Dia da Mãe celebramos todos os dias e essa data no calendário é apenas comercial. Então estou tranquila, o importante é estarmos juntos e demonstrar e receber o amor e carinho. Continuo a ter contato com minha mãe online, ela vive no Brasil e lá sabemos que as coisas não estão fáceis. A passagem dela estava comprada para o dia 8 de maio, mas foi cancelada, esse ano seria o primeiro Dia da Mãe juntas depois de oito anos morando no Canadá – essa é a pior parte, já que tínhamos vários planos juntas e agora nem sei quando vou poder vê-la novamente.

Também gostaria de desejar um feliz Dia da Mãe, que estamos juntas nesse momento, e que somos mais fortes do que imaginamos. Temos que ter paciência, se cuidar e ter esperança de que tudo isto vai passar.

Bibiana Neves com a filha Rosechantal de 12 anos e a mãe Chantal

BIBIANA NEVES

Milénio Stadium: Como é que explicou à sua filha a atual situação em que vivemos? Imagino que ela lhe tenha perguntado quando é que a pandemia acaba, quando é que volta a brincar na rua e a estar com os colegas e com os amigos…

Bibiana Neves: Houve sim muitas perguntas por parte dela e eu tratei de não mentir e expliquei-lhe em linguagem simples e clara o que é o novo coronavírus, quais são os sintomas mais comuns, como é que podemos nos prevenir e porque é que escolas têm que estar fechadas, assim como a maioria dos serviços. O meu objetivo não foi alarmá-la, quis apenas explicar-lhe porque é que a nossa realidade mudou tanto nos últimos meses e todas as nossas rotinas passaram a ser diferentes.

MS: É diferente ser mãe durante a pandemia? Que rotinas é que mudaram? Há novos valores a ensinar às crianças?

BN: Na minha opinião não é diferente ser mãe durante a pandemia. Mãe é sempre mãe e em todos os momentos, sejam esses momentos bons ou maus. A rotina é que mudou drasticamente. As noites tornaram-se dias e os dias tornaram-se noites. Ou seja, à noite estamos acordados e de dia estamos a dormir. Temos feito muitas vezes compras online para evitar as filas nos supermercados. E como temos escola online não podemos sair de casa. Restaurantes, lojas, cinemas, parques e viagens curtas de fim de semana estão proibidas. O que antes era bastante comum e dado como certo para um fim de semana, hoje é completamente impossível e já temos muitas saudades. Acho que não existem novos valores para ensinar às crianças, mas talvez existam valores que têm de ser reforçados como responsabilidade, solidariedade, liberdade, honestidade, humildade e gratidão.

MS:  Enquanto as escolas estiverem encerradas as crianças vão continuar a aprender à distância. Os pais têm agora um papel mais cativo no processo da aprendizagem, mas com esta cooperação também aumentam os receios. Como é que tem sido este processo? Acha que a sua filha vai poder passar de ano com boas notas?

BN: Este processo não tem sido tão difícil assim para mim visto que eu já trabalhei na área da educação e tenho um certo nível de experiência e assim posso ajudar melhor a minha filha. Creio que a parte mais difícil são as distrações que se podem apresentar enquanto se estuda online quando não se tem alguém acompanhando. Temos que estar sempre atentos para ter a certeza de que ela não perde a concentração. Julgo que a minha filha poderá passar de ano com boas notas, até porque ela já estava com muito boas notas antes da escola encerrar.

MS: Uma vez que trabalha em serviços essenciais, é difícil sair e regressar a casa todos os dias? Como é a sua rotina de desinfeção? Sai de casa com luvas e máscara? Troca de roupa e toma duche quando chega a casa? Está a ser fácil comprar máscaras, gel, luvas?

BN: Atualmente tem sido mais fácil para mim sair e regressar a casa. Eu normalmente saía de casa às 5:50AM para não ter que enfrentar o tráfego caótico. Hoje já consigo sair às 6:20 AM sem nenhum tráfego. Eu saio já de casa com luvas e máscara (apesar de que logo que chego no trabalho esses produtos já me são entregues logo na entrada). Tem vezes que tomo o meu duche no trabalho e outras vezes quando chego em casa. A rotina de limpeza da casa intensificou-se bastante e o cuidado, que antes não era tão preocupante, hoje é essencial. É bem trabalhoso tirar toda a roupa na porta, higienizar os sapatos, a roupa e as compras que chegam. A gente acaba ficando um pouco paranoico com isso. Em casa, já temos montada em diferentes partes da casa estações com gel e temos lembrado as crianças para lavarem sempre as mãos com água e sabão (sólido ou líquido). A compra de máscaras, gel e luvas não tem sido fácil visto que há um esgotamento nos locais de venda sem indicação para a sua reposição, mas felizmente ainda temos algum stock em casa.

MS: Ontário disponibilizou um apoio de $200 por cada criança até aos 12 anos e criou infantários gratuitos para os filhos dos trabalhadores de serviços essenciais. Ontário foi a primeira província canadiana a divulgar as projeções sobre o impacto da COVID-19. O que é que acha das medidas que a província tem tomado durante a pandemia?

BN: De uma maneira geral, acho que todas as medidas tomadas pelo Governo são muito positivas. Neste momento que estamos vivendo, muitos trabalhadores perderam seus empregos ou foram dispensados por tempo indeterminado e o Governo tem dado diversos benefícios financeiros para a população não precisar escolher entre ter comida na mesa ou saúde. Eu achei isso muito positivo.

MS: O Quebec prepara-se para abrir as escolas a 19 de maio. Acha que as escolas de Ontário devem reabrir na mesma altura? Como é que vai gerir a ansiedade quando a sua filha voltar à escola?

BN: Eu sinceramente penso ser um pouco prematuro a reabertura das escolas. Sou da opinião que deveríamos aguardar mais um pouco. O número de pessoas infetadas com o vírus continua a subir e os investigadores ainda não conseguiram criar uma vacina. As crianças já estão praticamente no final do ano letivo, porquê mandá-las para as escolas agora e depois ter um surto por lá?

Estaríamos colocando não só a saúde deles em risco, mas também a do próprio pessoal da educação. Na minha perspetiva acho que devíamos aguardar até setembro, por ser bem provável que as coisas estejam mais minimizadas.

MS: Como é que vai celebrar o Dia da Mãe?

BN: Eu vivo com a minha mãe e normalmente no Dia da Mãe costumamos ir jantar fora. Porém, devido a esta pandemia, vamos celebrar fazendo um jantar em casa e assim celebrar esta data importante que é o Dia da Mãe. Esse ser especial que merece todo o nosso amor, honra, proteção, respeito e cuidado.

Joana Leal/MS

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