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Pais: “ser ou não ser”, eis a questão

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Terminada a sua Criação, Deus disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra”. Sim, mas… até que ponto? Fomos claramente bem sucedidos em satisfazer o primeiro desejo do Criador. Se começamos com dois, hoje somos quase 8 biliões. Na sua perfeição divina, o Criador esqueceu-se apenas de um pormenor… os recursos limitados do nosso planeta.

Foi sugerido em vários estudos que, se todos no planeta consumíssemos tanto quanto o cidadão comum dos EUA, seriam necessárias quatro Terras para sustentar-nos. Claro, os sete ou oito biliões de pessoas do mundo consomem diferentes quantidades dos recursos do planeta. Existe um grande contraste do estilo de vida de um agricultor com o de um citadino de um país desenvolvido. Mas, entre todos, o certo é que estamos a consumir mais do que o nosso mundo consegue prover.

Os cientistas estimam que a Terra tem uma capacidade de carga máxima de 9 a 10 bilhões de pessoas, o que deverá ser atingido muito em breve – talvez por essa altura já estejamos a expedir humanos para Marte. Mas este parece ser um problema situado num lugar mais baixo na tabela de prioridades dos governos, que tem uma outra batata quente nas mãos: o envelhecimento da população e a sustentabilidade do sistema económico. Entretanto, as novas gerações avaliam ambos os pesos na sua balança – e mais alguns. As pessoas que estão a optar por uma vida sem filhos olham com desconfiança para o futuro de um planeta sobrepopulado, com escassos recursos.

Um futuro em que os seus hipotéticos filhos teriam de enfrentar problemas criados pelos seus antecessores, desde as consequências das alterações climáticas, a governos extremistas e sociedades com um falso sentido de liberdade a questões como estarem condenados a uma baixa qualidade de vida ou serem vítimas do crescente elitismo económico. Não são, no entanto, apenas o medo e o altruísmo que deixam as novas gerações hesitantes no que toca a trazer filhos ao mundo. É que os nossos Millenials, geração Z e afins estão já a experienciar eles mesmos algumas destas consequências.

A insegurança financeira e falta de poder económico, a perda de direitos civis, a pandemia de COVID-19, as guerras e catástrofes mundiais a que assistimos têm posto o pé ao travão na hora de pensar em constituir família. Por outro lado, também é verdade que os nossos pais e avós criaram grandes famílias num passado em que havia mais fome e menos conforto a diferentes níveis.

Eles atravessaram as Guerras Mundiais, as grandes revoluções, décadas de pobre acesso a cuidados de saúde, tempos de pestes em que morreram milhares de pessoas, anos em que as terras não vingaram e invernos difíceis. Deles ouvimos histórias em que uma sardinha dava para seis filhos, em que grávidas tinham de caminhar horas até um hospital ou tiveram os seus filhos em casa sem qualquer assistência ou garantia da sobrevivência da mãe e do bebé, ouvimos histórias de pais que nos criaram ao mesmo tempo que governavam Salazar, Mussolini, Hitler e outros nomes que para nós são apenas contos de terror que nunca chegámos a experienciar. Mas eles viveram-nos em primeira pessoa. Eles acreditaram e não desistiram. É graças à sua bravura que hoje existimos eu e vocês, que neste momento leem estas palavras. Assim, a questão da parentalidade nos dias modernos é, como foi noutros tempos, um dado de muitas faces.

Seja qual for a face que ela mostrar, lembremo-nos de ser gentis e honrar as escolhas da jornada de cada um com o mesmo nível de dignidade.

Telma Pinguelo/MS

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