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Pais e filhos: Amor incondicional

Quando o casamento não resulta, quando o entendimento entre o casal se torna impossível, o divórcio é a opção óbvia. No entanto, quando os filhos existem tudo se torna mais difícil, doloroso até. Para um pai/mãe digno desse nome não é fácil conviver com a ausência forçada de um dia-a-dia com as brincadeiras, os choros, os risos e sorrisos ou até birras dos filhos. No momento da decisão é normal que se instale o medo do futuro. E agora? Como se vive com o vazio que só é preenchido de 15 em 15 dias? O amor entre mãe e pai deixou de existir, mas pelos filhos, em princípio, não morre.

O futuro depende muito dos próprios pais e da forma como aceitam ou não a evidência de que o casamento não resultou. Sabemos bem que, por vezes, as coisas não correm bem. Muitas são as situações (todos nós conhecemos um caso…) em que os filhos são usados como verdadeiras armas de arremesso, numa guerra que não é deles. Por outro lado, há felizmente casos em que os pais têm perfeita consciência da importância de pôr o interesse dos filhos em primeiro lugar – acima de tudo.

Nesta edição que dedicamos aos pais – a propósito… Feliz Dia do Pai – trazemos dois casos de pais separados. Por um lado, falamos com uma mãe que passou a viver sozinha com os seus filhos, passando a assumir-se como mãe e pai no dia-a-dia, embora contando com o imprescindível apoio do pai, sempre muito presente. Por outro lado, conhecemos a experiência de um pai que assume a guarda partilhada da sua filha porque quis superar o “pânico” de pensar que a separação da ex-mulher o afastasse da sua menina. Em ambos os casos podemos afirmar que vos contamos histórias de amor incondicional pelos filhos.

Sara Dias e os filhos
Sara Dias e os filhos

Sara Dias é mãe de dois rapazes, hoje com 20 e 14 anos. Por amor aos filhos, Sara e o pai dos seus rapazes decidiram que o melhor era viverem separados. O divórcio aconteceu num casamento que não resultou por falta de compatibilidade do casal, mas, ao contrário do que poderia acontecer, os filhos (na altura, com apenas 8 e 2 anos de idade) serviram sempre de inquebrável elo de ligação entre os pais.

Sara passou a viver sozinha, com e para os seus filhos e confessa agora, passados estes anos que “como tudo na vida foi difícil. Passar a ser mãe e pai – dar miminhos e ao mesmo tempo ter que se garantir o pão e queijo na mesa. Passei a carregar isso tudo numas costas pequeninas. A pessoa tem que pôr uns sapatos muito grandes para criar dois filhos sozinha. Tinha sempre o apoio da minha mãe e do meu pai, que ajudaram bastante e até hoje ajudam. A minha mãe tomava conta dos meninos depois da escola e eu ia buscá-los mais tarde e terminava o resto do dia sozinha.” A cada 15 dias os filhos passavam dois dias com o pai, “eu tinha os meninos 12 dias dos 14.

Alternávamos os fins-de-semana.” Os rapazes foram crescendo e Sara acredita que a decisão tomada quando eram pequenos (separação) foi a mais acertada – “certamente! É melhor criar filhos num ambiente com amor e carinho do que mantê-los num ambiente onde os pais não têm amor um pelo outro. Eu não acho isso bem, nem certo. É um ambiente que não cria amor. Se alguém falar com os meus filhos eles são os primeiros a dizer que “a minha mãe e o meu pai não dava certo”. Hoje, eu e o pai deles somos os melhores amigos, ajudamo-nos um ao outro e a nossa prioridade são os nossos filhos. Ele hoje está casado com outra mulher e damo-nos todos muito bem, até almoçamos juntos na casa dos meus pais. Temos que pôr sempre o bem-estar dos filhos primeiro.” Sara considera aliás que o seu ex-marido é e sempre foi um excelente pai “ele adora os seus filhos. Ele nunca abandonou os filhos.

Manteve-se sempre presente. Apesar de, na realidade, ser eu a tomar conta dos filhos diariamente. Aquela coisa de os acordar de manhã, preparar os lanches, levá-los para a escola… isso era eu, de facto. Por isso, a parte mais “dura” do dia-a-dia ficava para mim, às minhas costas, mas isso não quer dizer que o pai não ame os filhos. Ele ama os filhos.”

Sara nunca refez a sua vida, abdicando muito de si própria – “a minha vida são os meus filhos. A minha ideia é que eu tenho uma oportunidade com os meus filhos. Uma. Quando eles chegam a uma certa idade já querem voar. E eu tinha que lhes dar, enquanto eles eram pequenos, todo o “equipamento” que eles precisam para voarem quando estivessem em condições para isso. E eu sempre disse que primeiro tinha de fazer tudo o que eu acho certo para os meus filhos e quando eles conseguirem voar sozinhos então terei tempo para mim. Mas primeiro… os meus filhos!”.

Sara Dias percebe que ainda há quem olhe para o divórcio de uma forma muito pessimista e que acha que um casal, quer se dê bem ou mal deve ficar junto. “Isso não é certo”, afirma. É preciso que as pessoas comecem a olhar para a nova realidade da sociedade, que evoluiu e se transformou. “Há crianças na escola que têm dois pais ou duas mães, a sociedade mudou. Hoje uma família não quer dizer necessariamente, uma mãe, um pai e dois filhos. O conceito de família mudou. Evoluiu.”.


Milénio Stadium: Que idade tinha a sua filha quando se separou?
Bruno Figueiredo: A Maria tinha 3 anos quando me separei.

MS: Teve medo que a separação da sua ex-mulher acabasse por se tornar também numa separação/afastamento da sua filha?
BF: Foi sempre o meu maior medo, talvez até pânico, pensar que poderia ficar afastado da minha filha.

MS: No momento da separação optaram pela guarda partilhada. Porquê? E como tem corrido?
BF: Desde o dia em que a separação se deu que eu defendi a minha posição de pai, com o objetivo de ter o mesmo tempo que a Mãe com a minha filha. Não queria perder nenhuma etapa da vida dela e lutei pelo maior equilibrio possível no dia-a-dia e no seu crescimento.

MS: Sente que por ser pai separado é um pai diferente? Um pai que, de certo modo, tenta compensar a filha?
BF: Tendo em conta que desde o primeiro dia o objetivo foi sempre de equilibrar a balança e não criar nenhum deficit afetivo, de responsabilidade ou em qualquer área para a minha filha, nunca existiu, de nenhuma das partes, a necessidade de compensar e criar os tais desequilíbrios que são prejudiciais às crianças.

MS: A sua filha é hoje uma criança que convive bem com o facto de ter os pais separados?
BF: Qualquer criança gostaria de ter os pais juntos. Seja qual for a razão da separação, para um filho a situação ideal seria sempre ter o pai e a mãe sem nunca se separarem. Julgo que a Maria, com o decorrer do tempo, foi sempre percebendo e aceitando a situação – dá-se lindamente com a minha namorada, por exemplo. Tem uma relação excelente com ela. O tempo vai ajudando a entender o porquê das coisas e a aceitar o rumo que a vida levou.

MS: O que é ser pai? Consegue definir?
BF: O sentimento de ser pai é de uma profundidade e de uma dimensão muito dificil de definir. A verdade é que o altruísmo e a dedicação pela minha filha, o amor que sinto por ela e a forma como o meu coração sorri e chora por ela, explica-me todos os dias o que é ser pai. Mais difícil será sempre que os outros percebam a enormidade de amor e alegria que isso nos proprociona.

Madalena Balça

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