Temas de Capa

Ovos, coelhos, amêndoas, folares, cordeiros… O que tudo isto tem a ver com a Páscoa?

A Páscoa é, como todos sabemos, tempo de renovação, de “nascer outra vez”. As árvores rebentam em flor. Os pássaros voam atarefados a preparar o ninho, porque a criação de uma nova família a isso obriga. As casas são limpas, ainda com mais esmero, refrescando-se, renovando-se também, seguindo a tradição que se perde na memória de outros tempos. A família prepara-se para se reencontrar e festejar, porque a Páscoa, afinal, deve ser sinónimo de reunião e alegria.

 

Trazemos ao Milénio Stadium de hoje um conjunto de reflexões, histórias e memórias, todas sobre esta quadra pascal que é vivida por vários povos, cada qual com a sua tradição e convicção.

Há, no entanto, toda uma simbologia que ganhou uma escala global – basta andar pelas ruas e olhar para as montras, ou ver os escaparates dos supermercados e lá estão eles… os ovos, os coelhos, as amêndoas, o folar, o cordeiro. Já alguma vez pensou o que tem tudo isto a ver com a Páscoa? Ora então aqui vai o nosso contributo para desvendar esse “mistério”.

A história do Coelhinho da Páscoa

Conta-se que a história do coelho da Páscoa vem de tempos muito antigos, porque o coelho simbolizava, para os pagãos, a Lua e a fertilidade. A Páscoa, que já era celebrada como a passagem do Inverno para a Primavera, representa, nas suas origens, o renascer da vida. Uma vez que os coelhos se reproduzem muito e a Páscoa simboliza o renascimento, este animal foi escolhido como símbolo desta época. O Coelho da Páscoa representa ainda a necessidade da Igreja propagar fecundamente a palavra de Jesus.

Reza a lenda que havia uma mulher muito pobre que, não tendo nada para oferecer aos seus filhos no Domingo de Páscoa, cozeu alguns ovos, pintou-os e escondeu-os no quintal. Quando as crianças encontraram os ovos, apareceu por ali um coelho que fugiu, e então elas acreditaram que os ovos da Páscoa tinham sido trazidos pelo coelhinho. Ora então já temos uma explicação para algo que sempre me intrigou… a partir daí, o coelhinho surgiu associado aos ovos da Páscoa.

E então os ovos? Porque surgem tão ligados à Páscoa?

Aqui a explicação é um pouco mais óbvia, afinal, é do ovo que nasce a vida. Parece-me assim natural que os ovos passassem a ser associados à Páscoa e essa relação já vem desde a era antes de Cristo. Efetivamente, desde o tempo pagão, os agricultores enterravam ovos porque acreditavam que assim conseguiriam uma boa colheita, já que sendo o ovo o símbolo da vida “fertilizavam” o solo com este bom prenúncio. Também por essa razão, as pessoas ofereciam ovos aos amigos, como um presente de sorte, abundância e uma vida próspera. Conta-se que na Pérsia Antiga se acreditava que a Terra surgira de um ovo gigante e, por isso, os ovos eram considerados sagrados. Na China envolviam-se os ovos com cascas de cebola, sendo estes depois cozidos com beterraba. Ao retirarem-se da água, os ovos tinham impressos os traços da casca da cebola, formando desenhos. Estes ovos eram oferecidos às pessoas amigas no início da Primavera, como auspício de boa fortuna.

Os Cristãos primitivos do Oriente já ofereciam ovos coloridos na Páscoa, simbolizando com eles a ressurreição, o nascimento de uma nova vida. Na Arménia decoravam-se ovos ocos com desenhos que retratavam Jesus, Maria e outras figuras bíblicas. No século XVIII a Igreja aceitou o ovo como um dos símbolos da Páscoa, chegando a doar ovos bentos aos fiéis. Quanto ao surgimento dos agora tradicionais ovos de chocolate há teorias que apontam para a Rússia do tempo dos Czares como responsável pela sua origem, outras ainda, para os pasteleiros franceses, que começaram por rechear ovos vazios e limpos com chocolate, decorando-os depois.

E o cordeiro? Como e quando foi “promovido” a prato tradicional?

No almoço de Páscoa o cordeiro é, em muitas civilizações, o prato tradicional. Esta associação está ligada ao simbolismo profundo do cordeiro, associado a Jesus. Segundo o Antigo Testamento, a Páscoa deveria ser celebrada com o sacrifício de um cordeiro, que representa o sacrifício de Jesus, que derramou o seu sangue por nós: “Este é o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do Mundo”. Já na Páscoa judaica, o cordeiro representava a aliança de Deus com o povo judeu, libertado da escravidão do Egipto, pois Moisés comemorou a libertação do povo judeu da escravidão dos faraós imolando um cordeiro. Está explicado… embora, por mim, prefira um cabritinho assado no forno.

Ah… e as amêndoas? Esse pecado da gula permanente?

Pois bem, peguem numa amêndoa e, antes de cederem à tentação de a colocarem a desfazer-se na boca, observem a sua forma. O fruto, a amêndoa propriamente dita, esconde-se sob uma capa dura, ora de açúcar, ora de chocolate. Também a essência divina de Jesus esteve escondida sob a capa da sua natureza humana. Faz sentido? Vá lá, com um pequeno esforço pode tornar bem menos pecaminoso (embora com punição imediata na balança) o ato de comer amêndoas na Páscoa. Por outro lado, pelo seu formato as amêndoas, cobertas de açúcar ou chocolate, replicam os ovos, em miniatura, mantendo o seu simbolismo de fertilidade e vida.

Por fim, o Folar da Páscoa. Neste caso uma tradição bem portuguesa. Conhecem a sua história?

Podemos começar como começam todas as histórias bonitas e muito doces. Era uma vez uma jovem rapariga que desejava casar… cedo. E rezava ferverosamente a Santa Catarina para lhe pedir esse milagre. As rezas resultaram e apareceram dois pretendentes. Um pobre e um fidalgo. Mariana escolheu o pobre, mas temeu a vingança do fidalgo. Pediu de novo ajuda a Santa Catarina – que o fidalgo lhe perdoasse. Certo é que, ao chegar a casa, encontrou um bolo luzidio, com ovos cozidos em cima. O noivo também recebera um bolo e quando foram agradecer ao fidalgo pensando ter sido sua oferta, encontraram-no também muito agradecido por ter recebido a mesma prenda. Mariana percebeu então que o seu pedido fora atendido, porque todos ficaram felizes e em paz.

Desde então, o folar (que vem da palavra latina floralis que significa flores) é oferecido na Páscoa como símbolo da vontade de Deus e da mensagem de Jesus: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.

É tradição, ainda hoje, as madrinhas oferecerem um folar aos afilhados, no Domingo de Páscoa. Em algumas localidades, os afilhados oferecem no Domingo de Ramos um ramo de violetas à madrinha, que depois no Domingo de Páscoa retribui com o folar.

Tudo explicado. Só falta desejar-vos uma Páscoa recheada de ovinhos de chocolate, entre trincadelas de amêndoas, e a partilha de doces fatias de folar. Claro que, depois, não poderão faltar umas corridinhas. Tão rápidas quanto os coelhos que povoam o nosso imaginário pascal.

Tenham uma Páscoa muito feliz!

Madalena Balça

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