O que fazer para evitar uma reforma indigna?
Entre outros produtos financeiros, os bancos têm um conjunto de ofertas que podem e devem ser consideradas no momento de planear uma reforma, que pode ainda estar distante em termos temporais, mas que, como já vimos noutras páginas desta edição, é necessário pensar atempadamente. Daniel Correia é Senior Investment Advisor do TD Wealth Private Investment Advice, e aceitou responder às nossas questões dando-nos por um lado, uma ideia clara do que será a realidade de uma reforma sem prévio planeamento financeiro e, por outro lado, desenhando-nos um quadro com o tipo de investimentos que podem ser feitos, pensando no futuro já fora do mercado de trabalho. E, definitivamente, fica a certeza de que os trabalhadores canadianos não podem contar apenas com o sistema de pensões que o país proporciona, sob pena de ter um fim de vida demasiado desprotegido e injusto para quem tanto trabalhou ao longo de toda a vida.
Milénio Stadium: No atual clima financeiro, será que os trabalhadores canadianos, que não dispõem de um plano de pensões no local de trabalho e que não conseguem cumprir um plano de poupanças, poderão sobreviver com o sistema de pensões canadiano?
Daniel Correia: Os trabalhadores canadianos que planeiam reformar-se aos 65 anos, sem poupanças e sem ativos investidos em planos registados ou outros, terão dificuldade em sobreviver, dependendo do local do Canadá onde vivem e do estilo de vida que levam. O pagamento médio do CPP no Canadá é de $816,52 (Fonte – Canada.ca) por mês. Aos 65 anos de idade, os canadianos têm direito à Segurança na Velhice (OAS), o que lhes proporciona um montante adicional de $718,33 (Fonte – Canada.ca) por mês. Isto equivale a $18.418,20 por ano. Com este montante, são elegíveis para um suplemento de rendimento garantido (Guaranteed Income Supplement – GIS) que é um benefício para indivíduos que ganham menos de $21.768 por ano. O montante do GIS pode equivaler a $1.072,93 por mês. Este montante total equivale a $31.293,36. O limiar de baixo rendimento é de $25.252. É justo dizer que a maioria das pessoas não aspira a ganhar anualmente $6.041,36 acima de um limiar de baixo rendimento. Se um trabalhador canadiano ainda estiver a viver de renda ou for responsável pelo pagamento de uma hipoteca quando entrar na reforma, esta despesa ficará com a maior parte ou a totalidade da pensão do Estado, deixando pouco ou nenhum dinheiro para os serviços públicos, a alimentação e outras necessidades básicas. Os trabalhadores canadianos devem, na base dos melhores esforços, tentar pôr de lado fundos para o seu futuro e não contar apenas com o sistema de pensões canadiano.
MS: Que plano financeiro aconselha aos seus clientes para prepararem a sua reforma? E quando é que eles devem começar, quantos anos antes da idade da reforma?
DC: O momento certo para começar é a partir do momento em que uma pessoa entra no mercado de trabalho ou em que recebe um prémio inesperado. Ter um horizonte temporal muito longo é uma vantagem no planeamento, porque podem ocorrer erros naturais ao longo do caminho (por exemplo, problemas de saúde, perda de emprego, etc.) e começar cedo minimiza o impacto negativo que isso pode causar a longo prazo. Quanto mais tarde alguém começar a preparar-se, maior será o impacto que essas ocorrências da vida têm na saúde do seu plano de reforma.
MS: Quais são os melhores produtos financeiros para quem quer garantir uma reforma tranquila e, ao mesmo tempo, ter as maiores vantagens fiscais?
DC: Como sempre, os indivíduos devem consultar um profissional financeiro para discutir o seu nível de conforto em relação ao risco. O risco não é um interruptor que se liga e desliga. É mais como um regulador que pode ser ajustado com base na adequação. O mesmo pode ser dito em relação aos produtos financeiros. Pode haver produtos com a mesma estrutura, mas com um perfil de risco diferente. Os fundos de investimento são um exemplo perfeito. Um fundo de investimento pode ser constituído por valores mobiliários semelhantes a dinheiro, enquanto outro pode ter mais vantagens fiscais, mas tem um perfil de risco muito mais elevado que pode fazer descarrilar a tranquilidade que se esperava. Não existe nenhum produto financeiro (mesmo o imobiliário e os GIC’s) que seja 100% pacífico e com vantagens fiscais. Cada produto financeiro necessita de algum nível de atenção e consideração.
MS: Que conselhos tem para quem ainda está a trabalhar, mas quer começar a preparar-se financeiramente para a reforma?
DC: O melhor conselho que posso dar é duplo: pague-se a si próprio em primeiro lugar e utilize as ferramentas à sua disposição. Pagar a si próprio primeiro é uma estratégia clássica e remonta a mais de 35 anos com The Wealthy Barber de David Chilton. A premissa é pegar em 10-15% do seu rendimento e colocá-lo de lado. Os restantes 85-90% devem ser canalizados para habitação, bens de primeira necessidade e despesas discricionárias. A Conta de Poupança Isenta de Impostos (TFSA) e o Plano de Poupança para a Reforma Registado (RRSP) são excelentes ferramentas a utilizar. Ajudarão os trabalhadores a acelerar o seu plano de poupança.
MS: Como pode o Governo canadiano agir para garantir um fim de vida digno aos trabalhadores deste país? Haverá alguma possibilidade de tornar obrigatório que todas as empresas canadianas incluam um plano de reforma na sua tabela salarial?
DC: Não creio que se possa garantir isso, pois há demasiados fatores que influenciam a reforma. Além disso, já existem ferramentas para ajudar os trabalhadores canadianos a prepararem-se para a reforma. É necessário que o trabalhador seja responsabilizado pela preparação da sua própria reforma. Não creio que o governo possa tornar obrigatória a inclusão de um plano de reforma em todas as empresas canadianas, uma vez que as pequenas empresas teriam dificuldade em competir com as grandes empresas nacionais na constituição de ativos adicionais para financiar um plano de reforma para os trabalhadores.
MS: Atualmente, um número significativo de idosos enfrenta já graves problemas financeiros. Se a tendência mundial aponta para um envelhecimento progressivo da população, graças ao aumento da esperança de vida, não deveria esta questão das pensões tornar-se uma prioridade para o governo do país?
DC: Claro que sim e tenho a certeza de que está a ser discutida (ou espero que esteja). É também por isso que a inflação é tão importante. Uma inflação elevada durante longos períodos de tempo dificulta o planeamento do futuro, uma vez que é necessário mais dinheiro hoje para planear o amanhã. As pensões atualmente disponíveis são um suplemento ao que deveria ser um plano mais robusto que inclui contas de investimento, bens imobiliários e planeamento de dívidas para todos os trabalhadores canadianos. A falta destes recursos colocaria qualquer reformado numa situação difícil. Os trabalhadores canadianos devem assumir o controlo das suas próprias circunstâncias pessoais e começar a planear cedo para evitar o caminho de uma reforma indigna.
MB/MS
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