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O Natal mudou ou mudámos nós?

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Ruas cheias de gente, trânsito louco (ainda mais louco…), crianças em casa, compras de última hora (caras e, as mais das vezes, inúteis), mesa cheia, barrigas a rebentar, a espera pelos presentes com a secreta esperança de que o “Pai Natal” lá de casa tenha percebido as dicas que fomos dando e não chegue, de novo, com algo que temos que fingir que gostámos muito… o Natal e o desejo que a noite passe depressa para prepararmos a viagem que nos leva para outras paragens, onde festejamos, como se não houvesse amanhã, a entrada do novo ano.

Depois, quando tudo passa, chega a hora de enfrentar a realidade e perceber que se gastou dinheiro a mais. A comida desperdiçada permanece no frigorífico, sem que haja vontade de a comer. Os presentes das crianças, cada vez mais sofisticados e caros e cada vez em maior número, espalham-se pela casa, vítimas do desinteresse de quem tudo tem, mas quer sempre mais. Muitos dirão que este é um olhar exagerado sobre o que se passa nesta quadra natalícia, mas será mesmo?

Não sou nada adepta do “antigamente é que era”, mas a perceção que tenho é que, de facto, este é um quadro realista do Natal de hoje. Demasiado assente em valores consumistas e pouco condizente com o valor cristão de celebração do dia de nascimento de Jesus. Independentemente de sermos ou não crentes, na sua essência, o Natal não deveria ser mais do que o dia em que a família se reúne, celebrando o amor entre todos os presentes e lembrando os ausentes.

Mais do que comer o bacalhau (ou polvo) com batatas e grelos ou couvão, mais do que os sonhos, os filhós, (velharacos ou velhoses), o leite creme, a aletria, o arroz doce, o cabrito ou o peru… mais do que a troca de presentes, a verdadeira tradição que deveríamos preservar é o estarmos juntos e, já agora, cumprirmos um dos mais significantes mandamentos que Jesus Cristo deixou à humanidade – sermos solidários com os que não têm a sorte de ter o que nós temos.

A pandemia trouxe consigo lições que, infelizmente, muitos já esqueceram. A guerra e os devaneios (para não dizer loucura) de quem nos governa (ou desgoverna…), tudo o que enche jornais e telejornais, fazem temer o futuro, mas também podem ajudar-nos a acordar e focar o nosso dia a dia no que realmente interessa. Deveríamos ter aprendido a dar valor à vida, à presença física, ao toque, ao desfrutar do convívio, das gargalhadas… deveríamos ter aprendido todos que não há dinheiro que nos salve se formos atacados pela doença ou pela falta de paz, não há nada que substitua o calor de um abraço daqueles que amamos e que a beleza do Natal está nas coisas simples.

Nesta edição do Milénio Stadium, resolvemos ir à procura das memórias dos mais velhos. Dos que já chegaram há muitos anos ao Canadá, pedindo-lhes que nos contassem como foi o primeiro Natal por estas terras. Quisemos perceber as diferenças entre o Natal de então e o de hoje e, ao mesmo tempo, através deles, agradecer a todos os que tiveram a coragem de sair do seu país natal e vir abrir os caminhos que hoje nós, os mais novos, percorremos. Com eles aprendemos sempre o que realmente interessa na vida. É que o Natal tem que ser muito mais do que uma ótima ocasião de comércio.

Não! Não foi o Natal que mudou! Fomos nós. Por força das circunstâncias, por nos deixarmos levar na onda que, tantas vezes, mergulha esta noite numa imensa futilidade. O meu desejo para todos é que vivam o Natal na sua plenitude e deem valor ao que realmente interessa – o amor.

Feliz Natal!

Madalena Balça/MS

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