O medo é impulso de vida
Não me recordo onde mas, ouvi dizer que o medo é fundamental para a sobrevivência do ser humano. É pelo medo que nos defendemos de ameaças de outros animais, é o medo que sinaliza o que é ou não seguro. É através dele que escolhemos ir por caminhos com mata fechada ou por uma clareira tranquila. Sentir medo, até certo ponto, nos garante a vida!
Além de garantir a sobrevivência da espécie, ele também nos auxilia naquilo que eu chamaria de “sobrevivência em sociedade”, englobando aqui o cotidiano em nosso mercado de trabalho e relacionamentos.
Ele pode nos impedir de cometer uma atitude passional ou impulsiva. Esse sentimento imprescindível e intrínseco da natureza humana, pode se tornar prejudicial quando ultrapassa determinados limites.
Considerando que o medo é uma resposta do nosso organismo a algum estímulo aversivo do ambiente, sentir medo diante de qualquer estímulo, seja ele aversivo ou não, indica que estamos diante de um daqueles limites ultrapassados.
Podemos criar uma carga ilusória de ameaças como também exagerar na sensação de perigo. De uma forma ou de outra, congelamos nossas ações e reações, ocasionando um desequilíbrio em nosso comportamento.
Eu tenho muitos medos, alguns necessários e outros que só consomem a minha energia. Alguns me fazem sentir humana, outros me fazem sentir sozinha. Acredito que seja normal nos sentirmos assim. Desde a primeira infância somos condicionados a sentir medo de quase tudo. “Olha o bicho papão, não saia para rua”! “Se você não parar quieto, a bruxa vai te pegar”! Concordo que muitas preocupações dos pais de crianças pequenas são totalmente pertinentes mas, em certos momentos, eles exageram e essa “pré-ocupação” é desnecessária. E também, para aplacar o próprio medo, eles condicionam medos nos filhos com o intuito de exercer controle sobre eles.
E essa prática de controle continua com nossos professores, amigos e tantas outras pessoas que passam pelo nosso caminho. Falando de mim mesma, vou destacar o meu TOP 1 dentre tantos medos que tenho: o da perda! E vou um pouco além: o medo da finitude. De não mais existir. Daqueles que eu amo deixarem de existir. E acredito que, provavelmente, a maioria das pessoas sente o mesmo medo. Talvez por isso, muitas religiões pregam a vida após a morte, como uma forma de amenizar o terror que a morte nos inspira. Mas sempre vem aquela justa indagação: será?
Este é o medo que me desgasta, porque a morte é inexorável. Vai acontecer com absolutamente todos neste planeta e não há nada que possamos fazer para impedir que isso ocorra. O que tenho feito com esse medo é, simplesmente, usá-lo a meu favor. Mas como? Vivendo intensamente cada momento da minha vida, seja ele ruim, seja ele bom! Vivenciando com as minhas pessoas queridas a todo instante que eu puder. Eu tento transmutar o medo para uma força motriz que me leva para o viver, de fato.
Por isso, não acredito muito nessa coisa de “enfrentar o medo”! Esse monstro não se enfrenta. Eu acredito sim, em usar essa energia para realizar outras coisas em meu próprio benefício.
É encontrar no medo um aliado, um jeito de fazer dele um impulso. Quando compreendemos que ele faz parte da nossa natureza, é de bom senso não confrontá-lo e sim acolhê-lo.
Dessa forma, somos capazes de diferenciar o medo natural do medo patológico. E conseguimos transformar o medo patológico em energia de vida. No final das contas, é “só isso” que ele é, como já ouvi dizer.
Adriana Marques/MS
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