Temas de Capa

“O futuro da nossa comunidade será da responsabilidade de cada um de nós.” – Laurentino Esteves

 

A comunidade portuguesa no Canadá, e em particular na região da Grande Toronto (GTA), continua a afirmar-se como um pilar fundamental da diversidade cultural do país. Com um calendário cada vez mais preenchido por eventos que celebram a herança lusa – não esqueçamos que nos aproximamos a passos largos do Mês de Portugal no Canadá – o dinamismo associativo mostra-se bem visível. No entanto, persistem dúvidas sobre o real envolvimento da nova geração e sobre o futuro do tecido associativo, que tem sustentado a presença portuguesa na Grande Área de Toronto, ao longo das últimas sete décadas.

Para refletir sobre estas e outras questões, o Milénio conversou com Laurentino Esteves, Conselheiro no Conselho das Comunidades Portuguesas e profundo conhecedor da realidade comunitária no Ontário. Com décadas de dedicação ao serviço da cultura e das associações portuguesas, Laurentino partilha a sua leitura dos tempos atuais, destacando exemplos concretos de participação ativa e rejuvenescimento cultural.

Ao longo da entrevista, abordam-se temas como o impacto das iniciativas recentes na mobilização da comunidade, a importância da juventude na renovação das tradições, os desafios da monotonia na programação associativa e até o papel do bairrismo – muitas vezes apontado como elemento de divisão, mas que, nas palavras do Conselheiro, pode ser um fator agregador se bem orientado.

Com um olhar confiante no futuro, Laurentino Esteves reforça a importância do contributo individual e coletivo para a preservação da cultura portuguesa no Canadá. Uma conversa que sublinha o valor do compromisso, da continuidade e da paixão por tudo o que representa ser português fora de Portugal.

Milénio Stadium: Nos últimos dois meses e nos meses que estão a chegar (até meados de julho…) há uma sequência de eventos comunitários de grande destaque. Sente que a comunidade portuguesa tem participado e, mais do que isso, tem-se envolvido ativamente nessas iniciativas? 

Laurentino Esteves. Créditos: DR.

Laurentino Esteves: Nos últimos meses as nossas coletividades tiveram as suas atividades regulares da época, e ainda alguns aniversários de alguns Clubes e Ranchos Folclóricos, (tive a oportunidade de participar em alguns deles). Mais recentemente queria destacar dois acontecimentos que, na minha opinião, merecem este reparo: o Arsenal do Minho, realizou o Festival Internacional de Rusgas, tive o privilégio de participar e testemunhar o impacto desta brilhante iniciativa, foram as Rusgas do Arsenal do Minho Adulta e Juvenil, a Rusga do Minho de Oshawa, a Rusga da ACMT, uma Rusga do PCCM, uma Rusga de Montreal, uma Rusga vinda dos EUA e uma outra Rusga vinda da França! O espaço foi pequeno para tantos que num Sábado ao fim da tarde foram assistir e principalmente dançar, requisito principal de quem vai para as Rusgas. Fiquei francamente impressionado com a afluência de tanta juventude da nossa comunidade e também de tantos jovens que fizeram parte de todas as Rusgas, a começar pela Rusga da Casa que no seu grupo tinha 12 jovens a tocar concertina (fenomenal)! Queria destacar também as Danças Carnavalescas e da Páscoa à moda da Terceira que tiveram lugar no passado fim de semana, levadas a cabo por grupos da comunidade que localmente prepararam os seus bailinhos, escreveram o seu enredo ou assunto, criaram as letras e as músicas de grande qualidade devo-o dizer… Eu pude ver algumas danças no Graciosa Community Centre e depois as restantes na Casa do Alentejo de Toronto onde terminaram já a altas horas da noite! Destaco também aqui a grande participação do público sempre bem-disposto com a comédia e a sátira próprias destes grupos que também se renovam a cada ano, pude também verificar muitos jovens participantes e até na direção dos grupos…

MS: Há quem diga que há cada vez mais portugueses residentes na GTA a desinteressarem-se pelas atividades comunitárias e que são sempre os mesmos que participam. Sente isso? Se sim o que justifica esse desinteresse?

LE: Creio que em grande parte já respondi ou aludi à sua pergunta, eu acho que não seja desinteresse, talvez monotonia! 

É bom lembrar que os nossos Clubes e Associações passaram por uma pandemia que deixou marcas profundas e eu diria que há um certo ajustamento a uma nova realidade, também estamos a sair da época de inverno e a entrar na primavera, ainda que muito devagar.

Espero que tal como a primavera também as atividades comunitárias possam florescer e atenuar ou mesmo apagar uma certa “monotonia” coletiva! Entretanto, estão quase à porta as celebrações da semana de Portugal, sempre uma ocasião para a participação em grande da comunidade, depois os Santos Populares e os Picniques e não faltarão oportunidades para celebrar a cultura e tradições portuguesas!

MS: Será que um certo bairrismo que percebemos nos clubes e associações acaba por contribuir para a divisão da comunidade e em consequência para o tal desinteresse?

LE: Não me parece que o problema seja o bairrismo, pelo contrário o bairrismo desde que não seja doentio, pode ser um fator motivacional e até agregador!

Na minha modesta opinião, o que contribui para uma certa divisão e por consequência o desinteresse e afastamento é quando a divisão é incentivada e promovida por quem tem responsabilidade direta no movimento associativo da comunidade! 

Os Clubes e Associações não podem ser usados como bolas de ping-pong, quando se trata da nossa cultura e consoante os interesses do momento! Sob pena de se desintegrar esse “bairrismo” saudável e tantas vezes aglutinador.

MS: O que podemos esperar do futuro da comunidade portuguesa residente no Ontário? A cultura portuguesa continuará a ser preservada deste lado do Atlântico?

LE: O futuro da nossa comunidade, como tal, será da responsabilidade, primeiro de cada um de nós, depois e de uma forma mais lata, dos intervenientes diretos e interessados nesse mesmo futuro! Todas as iniciativas são válidas, individuais ou coletivas desde que sirvam para projetar a nossa cultura e com isso assegurar o tal futuro da comunidade! Na minha capacidade de Conselheiro das Comunidades (eleito) e membro da Comissão da Cultura, do Ensino, da língua portuguesa, do Associativismo e da Comunicação Social. Tenho o dever de ser um promotor em “causa própria” como aliás tenho o sido nos últimos 37 anos de atividade comunitária e voluntária! Orgulho me de deixar que o meu percurso fale por si… contem comigo para ser mais um (poveiro) a remar para o lado certo! 

MB/MS

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