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Mulheres conquistam espaço em profissões dominadas por homens

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Cristina Bray, de 49 anos / Maria Silva, de 37 anos / Rosine Rocumback Gusmão, de 29 anos. Créditos: DR.

Com o passar dos anos, e a evolução do mercado de trabalho, podemos afirmar que não existem mais profissões exclusivamente masculinas ou femininas. Apesar de alguns setores ainda serem predominantemente dominados por homens, as mulheres já ocupam os seus espaços e ganham reconhecimento em diferentes áreas que antes eram reduto exclusivo deles.

Elas estão mostrando o seu valor, e trabalhando duro, como motoristas, bombeiras, policiais, pedreiras, carpinteiras, eletricistas, mecânicas…e uma série de outras profissões que já foram consideradas “masculinas”. Nessa edição em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, conversamos com profissionais que, contrariando a ideia de “sexo frágil”, ocupam espaços profissionais diversos e se destacam nas suas áreas de atuação. Vamos entender como elas lidam com questões que ainda existem nessas carreiras dominadas por homens, como o preconceito e o fato de precisarem demonstrar constantemente a sua competência e fazer valer o lugar que ocupam.

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Maria Silva, de 37 anos

Patrulhar e combater o crime em Toronto é um desafio permanente que Maria Silva, de 37 anos, enfrenta todos os dias com muita determinação e entusiasmo. Desde 2019 ela integra a força policial da maior cidade canadense. A imigrante portuguesa, natural de Barcelos, chegou no Canadá em 2013, mas o sonho de integrar um órgão de segurança pública era antigo. Ainda na terra natal tentou entrar para o exército mas não teve sucesso e depois de se mudar para cá decidiu apostar na polícia local: “Poder ajudar pessoas que não conheço em diferentes situações, lidar com o perigo, a adrenalina de nunca saber o que nos espera em cada chamada sempre me fascinou”. Depois da equivalência de diplomas e de ter passado por testes de conhecimentos, físicos e psicológicos, em agosto de 2019 foi aceita na polícia de Toronto para iniciar os treinamentos. 

Essa é uma corporação formada na maioria por homens, como mostram os números. No Canadá dados oficiais apontam que as mulheres representam pouco mais de 20% da força policial. “No meu pelotão são só homens, eu sou a única mulher. Para ser ter uma ideia, em Toronto, dos cerca de 5 mil polícias, 600 são mulheres. Ainda não senti nenhum preconceito por parte dos meus colegas, pelo menos não intencional. Mas por algumas vezes senti que era mais protegida. Atender uma chamada e o os meus colegas virem logo me apoiar talvez pelo facto de pensar que preciso de ajuda. É um mundo predominante masculino, mas se mostrarmos que somos tão boas como eles ganhamos o respeito dos polícias masculinos”, diz a portuguesa. 

E nas ruas a policial diz que o fato de ser mulher nunca a atrapalhou, pelo contrário, sente um respeito muito grande por parte da população. Considera que isso também é reflexo da maneira como se comporta e da confiança que tem em seu trabalho: “As mulheres polícias são conhecidas por serem mais duras e rígidas. Talvez pelo facto que temos que mostrar que sabemos fazer o trabalho igual ou melhor que os homens”. 

Mas se engana quem pensa que a dedicação é exclusiva ao trabalho. Em casa também enfrenta uma grande responsabilidade: a criação das duas filhas de 11 e 14 anos. E admite que conciliar carreira e maternidade nem sempre é fácil: “Essa é uma profissão com escalas de trabalho diferentes, tive que lhes explicar que muitos dias ia chegar a casa muito tarde e passaria uns dias sem as ver”. Ela conta que apesar de alguma dificuldade no início, com o tempo tudo foi se encaixando, e agora essa já é e rotina da família e as vídeochamadas possibilitam que a mãe esteja presente virtualmente nas horas das refeições e possa dar boa noite antes das meninas irem dormir. “A vida pessoal mudou bastante. Ter que explicar as minhas filhas que a mãe pode não vir para casa um dia, assustou-me.  Mas por outro lado sabia que elas tinham muito orgulho de a mãe ter lutado pelo sonho dela mesmo quando já tinha 35 anos”, afirma Maria.

Outro setor antes dominado por homens e que aos poucos vai ganhando mais mão-de-obra feminina é o da construção civil. E algumas dessas mulheres atualmente a trabalhar em canteiros de obra vieram de uma realidade profissional bem diferente e optaram pela construção como forma de sustentar a família. 

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Cristina Bray, de 49 anos

É o caso de Cristina Bray, de 49 anos, que trocou a tesoura do salão de beleza, onde atuou por anos como cabeleireira, pela talocha de assentar cimento. A virada profissional da imigrante portuguesa, que há 16 anos se mudou com a filha e o então marido para o Canadá, se deu juntamente com uma mudança de vida. Depois de se separar do marido, sabia que precisava ganhar mais para arcar com as despesas da casa e também poder ajudar a filha, agora com 24 anos, a realizar o sonho de se tornar médica. A área da construção foi a escolhida, afinal sabia que era um setor bem remunerado. A portuguesa conhecia a filha de um encarregado de uma empresa especializada na construção de calçadas e ali tentou a sorte: “Trabalho a mim, nunca meteu medo. Fui arriscar trabalhar nessa área para ver como seria e ainda bem que deu certo. Há quase quatro anos trabalho para essa mesma empresa e estou satisfeita”.

Na área da construção em que ela atua a presença de mulheres é menor ainda: “O meu grupo de trabalho tem 18 pessoas, eu sou a única mulher, sempre fui. Fiquei surpresa porque recebi apoio dos colegas, acho que admiravam a minha coragem, afinal é um trabalho pesado. Um deles chegou a dizer-me que já atuava nesse ramo há 40 anos, e eu era a primeira mulher que ele via a assentar cimento”. Cristina conta que a postura dos seus superiores sempre garantiu com que conseguisse trabalhar de maneira tranquila e considera que também tem sorte em atuar numa boa empresa onde existem políticas claras contra assédio e desrespeito no local de trabalho. 

E depois de anos exercendo a profissão de cabeleireira e lidando com a vaidade, ela conta que no início a mudança radical causou estranhamento: “Estava acostumada a trabalhar com o cabelo arranjado, de salto alto, unhas sempre feitas. Agora a realidade é outra, todo dia ponho uma muda de roupa limpa, mas 30 minutos depois está suja, não tem jeito. As unhas mantenho pintadas, afinal uso luvas, mas agora deixo a vaidade para o final de semana, quando posso me arranjar, maquiar e vestir como gosto”. 

O glamour, de fato, fica de lado durante o expediente. “É um trabalho pesado, doloroso. Nos dias de inverno, o frio castiga, machuca a pele, é difícil, mas vale a pena. Não me arrependo da minha mudança de carreira em nenhum momento, estou a conseguir ter uma vida confortável e ajudar a realizar o sonho da minha filha, isso é o mais importante”. 

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Rosine Rocumback Gusmão, de 29 anos

Quem também viu no setor da construção uma maneira de garantir bons rendimentos e uma vida confortável em Toronto foi a brasileira Rosine Rocumback Gusmão, de 29 anos. Ela concilia a rotina profissional atribulada com a criação do filho de quatro anos. A primeira experiência no setor aconteceu há dois anos, a convite de um amigo, que na época precisava de um reforço num trabalho que estava coordenando. “Até aquele momento, nunca tinha pensado em entrar para a construção. Foi uma grata surpresa”, diz ela. A partir daí, acumulou um trabalho depois do outro, e a versatilidade é uma marco forte: “Se precisar fazer drywall eu faço, assim como metal frame, insulation”… A jovem de sorriso largo e rosto delicado, chama atenção pela beleza, e conta que nem tudo é fácil quando se é exceção: “Não sei se poderia denominar como preconceito, mas em um primeiro momento há sempre um olhar diferente, recheado de incertezas, do tipo: “será que essa menininha aí da conta do trabalho? Trabalhei uns dois meses em um prédio com outra equipe, maioria não brasileiros, e me senti por muitas vezes desconfortável sim, insegura, uma vez fui embora mais cedo quando percebi que ficaríamos apenas eu e um outro rapaz no prédio. Infelizmente acontece, e nós precisamos desenvolver além da habilidade na sua função, a arte de se impor a ponto de que os outros trabalhadores ao redor tenham “medo” de falar com você”. A escolha dela por essa profissão repercutiu entre amigos e familiares: “Muitos deles acredito que passarão o resto da vida se questionando “porque ela escolheu isso?”

O fato de ser mulher também traz vantagens: “Esse trabalho muitas vezes exige além da força física uma habilidade extra que nós mulheres dominamos, a arte da observação. Sempre que converso sobre o assunto com outros profissionais escuto o mesmo “Gosto de trabalhar com mulheres porque vocês enxergam além do que foi pedido, vocês prestam atenção, entregam sempre além do esperado”, conta ela.   

No perfil da brasileira em uma rede social ela mostra um pouco sobre a realidade diária do trabalho, e da vida como imigrante no Canadá, no intuito de ajudar outras mulheres “Se esse conteúdo gera força e encoraja outras mulheres a tomarem inciativa, entrarem nessa área, fico satisfeita”. 

Exemplos de mulheres que quebram estereótipos de gênero e conjugam trabalho duro com feminilidade e competência e provam que o lugar da mulher é onde ela decidir estar. 

Lizandra Ongaratto/MS

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