Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!
A poucos dias da celebração do Dia do Pai no Canadá, dei comigo a analisar, na qualidade de filho e de pai, as mudanças no exercício parental ao longo dos tempos e na evolução, com subsequente desvalorização, apesar de cada vez mais ativa, do papel da figura paternal na sociedade moderna.
Tendo sofrido, recentemente, a perda dessa figura paterna, referência da estrutura “família tradicional”, e sido forçado, ainda que involuntariamente, a avaliar o papel determinante que desempenhou no meu desenvolvimento como pessoa e como pai, foi fácil perceber que foram muitas as mudanças que ocorreram ao longo dos anos. O conceito de paternidade e do que significa ser um bom pai foi-se alterando. As discrepâncias dos conceitos de paternidade foram-se alterando, sobretudo, devido às dinâmicas socioculturais, que hoje são bem diferentes do que eram no passado.
Um bom pai era um homem capaz de sustentar a sua família, jantar em casa, descansar e acordar para mais um dia de trabalho, sendo que o domingo era o dia para as atividades de lazer. Nos tempos modernos, ser pai não é uma função com uma data de validade como era no passado (normalmente, terminava quando o filho completava 18 anos), mas uma experiência de vida; mais ainda, um sentido para a própria vida.
As causas são tão variadas quanto as imposições do mundo moderno. Atualmente, as necessidades de uma criança são muito diferentes que as de algumas décadas atrás. O papel do homem na sociedade também mudou bastante. Ser homem, hoje, vai muito além de ser o provedor da família. A luta pela igualdade entre homens e mulheres não é apenas para que elas tenham acesso a direitos, que durante séculos lhes foram negados, mas também para que os homens assumam deveres que ficaram em segundo plano durante muito tempo. E isso reflete-se diretamente na paternidade. Criar bem um filho não é apenas colocar comida na mesa, mas ensiná-lo também a comer. Não é somente proporcionar a melhor escola, mas educá-lo. Não é só contar uma história para a ajudar a dormir, mas despertá-lo para um mundo diverso e cheio de possibilidades, não devendo haver diferenças nos deveres de pais e mães nos cuidados com os filhos.
Mas com a emancipação da mulher, a sua crescente valorização no mercado de trabalho e os movimentos feministas, o poder económico e educacional deixou de estar centralizado na figura do pai. O pai tornou-se “dispensável” desse ponto de vista. A função de sustentar a família, na grande maioria dos casos, colocava o pai como líder da família. São vários os estudos que apontam que a função de pai, de forma genérica, se encontra em fase de transição. No passado era autoritário, sendo certo que hoje há falta de um padrão único, em grande parte, devido às contantes mudanças na sociedade.
Não foram apenas as responsabilidades dos progenitores que foram mudando nas últimas décadas. Também a forma de educar foi sofrendo alterações, passando de um modelo mais conservador, rígido e tradicional, para múltiplos conceitos mais ou menos liberais na forma de abordar o exercício paternal, a família e a educação dos filhos.
Não são só os pais que sofrem com estas mudanças. Também a ciência tem dificuldade em explicar tudo o que se passa ao nosso redor. Nos últimos anos nasceu uma nova vaga de antropólogos, sociólogos e psicólogos, que ocupam lugares de destaque nos diversos orgãos de comunicação social e que parecem estar tão baralhados como todos nós, sendo inúmeras as teorias sobre qual o papel e a importância dos pais, e de como devem ser educados os filhos.
Mas o mundo continua a mudar. A evolução, sobretudo do conceito de família, com a legalização de casamentos e a adoção por pessoas do mesmo sexo, está a forçar a mudança na maneira como se educam os filhos, não sendo fácil acompanhar estas alterações. Veja-se, a título de exemplo, as chicanes políticas na província do Ontário no que toca ao programa de educação sexual nas escolas.
A exigência do mundo moderno e as atividades profissionais dos progenitores faz com que, muitas vezes, seja pouco o tempo dedicado aos filhos. A escola sempre foi, a par dos progenitores, uma pedra basilar na educação dos filhos. Mas também a escola está a mudar.
As escolas sempre tiveram particular atenção a datas especiais, como, por exemplo, o Dia do Pai. Esta semana fiquei a saber que a turma da minha filha Bárbara, com 10 anos, não tem qualquer atividade planeada para o Dia do Pai. A razão prende-se com o facto de terem um calendário muito preenchido com outras atividades e falta de tempo. Desconheço se será generalizado e algo que se estende a todas as turmas, mas preocupado com o sucedido, e porque não abdico do simbolismo desta data, resolvi lançar o desafio à minha filha para escrever um texto sobre o significado e importância da figura do pai.
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