Temas de Capa

MORDOMA, MORDOMAS

Foto: Abel Cunha

“Começa pelas meias, depois é mais difícil de as calçar!” – avisa a mãe do outro lado da sala. Como se ela não soubesse que se começa pelas meias. As pernas já estão habituadas àquele aperto rendado em algodão branco n.12.

Depois das meias, a camisa e os saiotes com um intricado de fios a apertar na cintura. Primeira pausa para inspecionar as chinelas. Impecáveis! “A saia veste-se pela cabeça!” – volta a atirar a mãe, e, como num toque de magia, a pesada saia voa caindo sobre as ancas. “Cresceste?! Parece um pouco mais curta desde o ano passado!” – a preocupação com os detalhes cabe sempre à mãe, mas foram uns milímetros, e está bonita a saia, ajustada à cintura e com um “bom cair”.

Depois vem a habitual inspeção à algibeira. Nenhum vidrilho perdido, nenhum fio solto, as palavras VIANA e AMOR ainda a fazerem sentido todo este tempo depois de ter sido pacientemente bordada. Após ser colocada, chegou a vez do avental de “cadros”. 

Enquanto a algibeira, disposta à direita, fica metade tapada pelo avental, a primeira silva da saia fica totalmente tapada por este. Mesmo assim, a saia está bordada a toda a volta. Nem uma falha.

O colete, justinho (Ainda serve!). Mas também este, apesar de profusamente bordado ficará parcialmente tapado depois de, com todos os cuidados, se colocar o meio lenço do peito.

E o ouro? Como sempre, está cuidadosamente organizado em cima da mesa: um cordão herdado da avó paterna, um trancelim emprestado pela irmã, uma laça, duas peças com moedas barrocamente adornadas e um colar de 52 contas de 6 milímetros, que levou apenas 7 anos a juntar. Vem agora a grande dúvida: – Coloco uma borboleta, ou já será demasiado? Mas ainda vai a borboleta (Festa é festa!). E para terminar: os brincos. Não tarda nada estarão 200 anos de história nas mãos, ou melhor, nas orelhas! 

São 4 gerações representadas naqueles adornos. E, para finalizar, o lenço da cabeça. Dobrar, pousar, alinhar, cruzar na nuca e no topo. Passará a peritagem da mãe?! Claro que sim. Anos deste ritual, embora o nervoso miudinho mais dê a parecer que poderia ser a primeira vez. É sempre como na primeira vez. 

“Estará cheia a Avenida? Espero que não esteja demasiado calor…” 

“Vamos?”

“VAMOS!”

MB/MS

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