Medo de (voltar a) ter medo
Sempre admirei aquelas pessoas que dizem que não têm medo de nada. Que saltam de pára-quedas, que mergulham no mar, rio ou piscina logo depois de comerem, que dão mortais encarpados, que bebem água a seguir a comerem melancia, que conseguem atravessar um corredor escuro sem ser a correr… Eu, que até de andar muito rápido em chão molhado tenho medo! Bem sei que todos nós somos feitos de diferentes “matérias”, mas expliquem-me: como é que conseguem? Como é que desligam o interruptor que vos faz duvidar, na hora H, se o que estão a fazer é realmente uma boa ideia?
Pensem lá comigo: sabendo que o medo é uma função instintiva do nosso corpo cujo objetivo principal é manter-nos vivos, será que nos podemos realmente queixar de o sentirmos? É como ter um segurança privado, capaz de prever o futuro, que nos avisa com antecedência para não fazermos algo ou não irmos por determinado lugar. Fantástico, não? Bem, vai depender sempre de como olhamos para a coisa… Isto porque se esse segurança nos começa a atar as mãos e não nos deixa aproveitar determinados momentos, vai acabar por interferir na nossa qualidade de vida e no nosso desenvolvimento, não só pessoal como também profissional. E quando entramos nesta onda de “paralisação”, em que mergulhamos num medo profundo, já falamos em fobias – um “monstro” invisível, que chega sem avisar, e que toma conta da nossa mente e da nossa vida.
Ainda que, felizmente, não sofra de qualquer tipo de fobia, posso dizer-vos que tenho alguns medos: uns mais comuns… outros nem tanto!
Deus me livre, por exemplo, de algum dia ter que fugir de um palhaço que tenha queijo derretido na mão… e queira correr e o chão esteja molhado! Estranho? Eu explico: ODEIO palhaços – sejam ricos ou pobres -, acho sempre que me vou engasgar quando como alguma coisa com queijo derretido (algo que efetivamente já aconteceu e não foi uma experiência nada agradável) e quase que paraliso quando vejo que tenho que andar em chão molhado e possivelmente escorregadio – quanto a este último, talvez devesse começar a investir num calçado em condições…
Mas não me fico por aqui, caros amigos. Também dispenso alturas, cambalhotas, pessoas vestidas de Pai Natal, montanhas-russas ou andar rápido de carro (e se a isso juntarmos a possibilidade de aparecer um animal na estrada, a coisa ganha outra proporção) – medos muito “random”, portanto. Ah, e é claro: a mãozinha à frente dos olhos não falha quando começo a adivinhar que um vídeo na net ou um filme me vai, mais tarde ou mais cedo, assustar!
Convenhamos que o meu eu, tipicamente e especialmente ansioso, não ajuda muito nesta tarefa de me deixar ir e, na maioria das vezes, simplesmente me deixar aproveitar o momento.
Se tenho uma razão para pensar nas coisas mil vezes e, na minha cabeça, desenhar mil e um cenários – normalmente maus – que podem advir de determinada situação? Bem, podia apontar o dedo à astrologia, ao clima instável que se faz sentir em Portugal ou até a algum episódio que se tenha passado na minha vida que me tenha feito ser assim. Mas o que é certo é que não me parece que nenhuma dessas seja efetivamente forte para o justificar.
Lembro-me que quando tive os meus primeiros ataques de ansiedade e de pânico não conseguia explicar ao certo o que sentia. A única coisa que dizia insistentemente à minha mãe era: “vou morrer”. Porque efetivamente era isso que sentia – não porque me doesse alguma parte do corpo, apesar de me sentir extremamente acelerada, mas porque é essa a sensação que se tem. De que o corpo simplesmente vai “desligar”. Nessa altura também era incapaz de sair à rua, de conviver ou simplesmente de dar um passeio fora de casa. As pernas tremiam, a falta de ar atacava, a sensação de “morte iminente” voltava.
Agora que penso, tenho mais um medo a juntar à minha (extensa) lista: o de voltar a este buraco de onde, felizmente, consegui sair.
Inês Barbosa/MS
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