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Luso-canadianos e o xadrez político: O poder de fazer xeque-mate!

DR.

São três pessoas que têm participação ativa na sociedade. Intervêm com as suas opiniões, com intervenções públicas, quer seja de caráter político, quer seja social. Dois deles têm uma ligação direta com o mundo da política portuguesa, Carlos Miranda como membro do Partido Socialista de Toronto, e Laurentino Esteves, como representante do Partido Social Democrata em Toronto.

Recentemente, Laurentino Esteves foi eleito como representante da comunidade portuguesa, no Conselho das Comunidades. Quanto a Horácio Arruda, foi Diretor de Saúde Pública do Quebeque e teve nessa qualidade um importante papel na determinação de políticas públicas de saúde. Pedimos-lhes que nos dessem a sua opinião sobre a participação e capacidade de intervenção política dos luso-canadianos. Se dúvidas houvesse, com estas respostas ficamos com a certeza de que há ainda um longo caminho a percorrer nesta matéria, até conseguirmos ter o poder de movimentar peças do xadrez político ao ponto de fazer xeque-mate.
MB/MS

Laurentino Esteves

Qual é a sua opinião sobre a relação da comunidade portuguesa com a vida política?
Tendo em conta que a maioria dos nossos compatriotas emigraram em grande parte nos anos 60 e 70 vindos de um Portugal pobre e “cinzento”, muitos fugiram de uma ditadura e de um regime opressor, castrador que marcou as vidas de quem emigrou e dos que ficaram… eu acho que o país ainda hoje sofre esse flagelo, fortemente enraízado na sociedade portuguesa!
Várias vezes oiço os mais idosos dizerem “eu vim para este país para ter uma vida melhor e não para me “meter” em política”! Isto foi passado de geração em geração e condicionou e ainda condiciona muitos dos nossos luso-canadianos! Na mesma linha, “o meu filho veio para trabalhar e ser um homem e não para estudar”… Felizmente alguns conseguiram sair deste estigma e romper esta cultura. Em geral, a comunidade portuguesa ainda acha que a política é para os outros e não para eles!

Atendendo ao número de luso-canadianos existentes no país e aos mais de 70 anos de presença oficial de imigrantes portugueses no Canadá, não seria expetável termos uma presença mais forte e impactante na vida política nacional?
De facto, precisávamos e merecíamos uma maior participação e presença na vida política canadiana!

Os representantes que temos tido nos diversos níveis de governo – mp’s; mpp’s e vereadores ou mayor’s – têm contribuído para reforçar a afirmação da importância da comunidade portuguesa a nível nacional?
Eu tenho um enorme orgulho em todos os que “deram o salto” e se propuseram a altos cargos na vida política do país, Conselheiros Escolares, Vereadores, presidentes de Câmara, Deputados Provinciais e Federais e Ministros!
É certo que nos últimos anos, regredimos, e bastante, na quantidade de luso-eleitos no Canadá e isto é preocupante. Repito o que disse acima, os que nos “têm representado” têm sido uma mais-valia na afirmação da nossa comunidade, desde logo pela visibilidade e também pelo legado que transmitem aos mais novos!
Lembro-me muito bem do orgulho de há uns anos dizermos que os dois ministros das finanças (Québec e Ontário) eram luso-canadianos e a vereadora e depois candidata a presidente da Câmara de Toronto era de origem portuguesa, infelizmente essa eleição não se materializou!

Há quem afirme que a responsabilidade deve ser atribuída à própria comunidade, pelo seu desinteresse na participação ativa nas decisões políticas, por exemplo votando. Concorda?
Há certamente responsabilidades para repartir por todos, a comunidade não pode ficar isenta, primeiro no seu todo e depois cada um de nós individualmente! Não podemos sempre culpar o nosso passado e o argumento de que somos um povo humilde e pouco ambicioso, chega a ser confrangedor ouvir dizer “não queremos nada com políticos” isto vem muitas vezes de pessoas com responsabilidades nos nossos Clubes e Associações o que deve merecer um forte reparo de todos nós!
Nunca será de mais a participação de qualquer eleito nos eventos e atividades do nosso movimento associativo! Todos os nossos compatriotas que tenham visibilidade e oportunidade devem apelar e incentivar à participação em todos os atos eleitorais. Todos, independentemente da opção política de cada um! Lembro-me de um Cônsul-Geral nos finais dos anos 80 que dizia, “todos devem ir votar e apoiar um/uma candidato/a luso-canadiano/a não olhem ao partido, depois quando houver dois candidatos de origem portuguesa ao mesmo cargo, então façam a vossa escolha partidária!”.

Todos como comunidade temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para inverter a falta de participação política e não só, da comunidade!
Também há quem defenda que este não é um problema exclusivo da nossa comunidade, defendendo que o tal desinteresse é muito causado pelos próprios políticos, cujas ações ou inações, têm desacreditado a política, afastando assim o eleitorado. Faz sentido este argumento?
Claro que este problema é transversal, mas também é notório o quanto outras comunidades estão claramente mais representadas e isso torna-as mais visíveis e influentes!
Temos que ter em conta que os políticos não vêm de Marte, são membros da sociedade tal como nós e têm os méritos e os defeitos dessa sociedade e, portanto, usar esse pretexto para não votar é apenas uma desculpa conveniente… é claro que temos políticos maus e outros muito maus, como temos, médicos, professores, advogados e pedreiros! Temos que escolher os melhores!

O que pode ser feito para alterar esta situação e termos mais luso-canadianos dispostos a defender causas políticas ao mais alto nível?
Para mudarmos este paradigma, repito, temos que fazer disto uma causa comum e não ter medo de falar no assunto até à exaustão! E abandonar o vício de que “todos os políticos são corruptos e que todos os candidatos querem tacho”.
Eleger e ser eleito faz parte da democracia e na falta de melhor, prefiro a democracia, ainda que com alguns defeitos, é muito melhor que uma ditadura, ainda que pareça perfeita!

Horácio Arruda

Qual é a sua opinião sobre a relação da comunidade portuguesa com a vida política?
Não disponho de dados estatísticos sobre o envolvimento da comunidade portuguesa na vida política canadiana, mas tenho a impressão de que é comparável ao de outras minorias presentes no Canadá.

Atendendo ao número de luso-canadianos existentes no país e aos mais de 70 anos de presença oficial de imigrantes portugueses no Canadá, não seria expetável termos uma presença mais forte e impactante na vida política nacional?
Não necessariamente.

Os representantes que temos tido nos diversos níveis de governo – mp’s; mpp’s e vereadores ou mayor’s – têm contribuído para reforçar a afirmação da importância da comunidade portuguesa a nível nacional?
A minha experiência é mais relativa ao nível provincial, regional ou local. Tenho notado que isso reforça efetivamente a importância da comunidade portuguesa. Uma comunidade bem integrada no Canadá, mas muito orgulhosa da sua origem.

Há quem afirme que a responsabilidade deve ser atribuída à própria comunidade, pelo seu desinteresse na participação ativa nas decisões políticas, por exemplo votando. Concorda?
Não concordo

Também há quem defenda que este não é um problema exclusivo da nossa comunidade, defendendo que o tal desinteresse é muito causado pelos próprios políticos, cujas ações ou inações, têm desacreditado a política, afastando assim o eleitorado. Faz sentido este argumento?
Sim, penso que é necessário mudar a perceção sobre o envolvimento dos nossos políticos e a sua importância na nossa democracia.

O que pode ser feito para alterar esta situação e termos mais luso-canadianos dispostos a defender causas políticas ao mais alto nível?
Promover a importância da nossa democracia e a participação da comunidade na política.

Carlos Miranda

Qual é a sua opinião sobre a relação da comunidade portuguesa com a vida política?
É uma realidade que não pode ser desmentida – a comunidade portuguesa, na sua grande maioria, não tem qualquer tipo de relação com a vida política. É difícil perceber as razões, mas parece me que este distanciamento deve se ao nosso passado ditatorial bem como ao descrédito que assola a classe política atual.

Atendendo ao número de luso-canadianos existentes no país e aos mais de 70 anos de presença oficial de imigrantes portugueses no Canadá, não seria expetável termos uma presença mais forte e impactante na vida política nacional?
Indiscutivelmente. O próprio número de portugueses e descendentes envolvidos nas estruturas dos partidos políticos é muito baixo! Esta nossa posição de ausência marcará para sempre a nossa presença por estas bandas. Não nos podemos esquecer que, quer queiramos ou não, a política faz parte do nosso quotidiano.

Os representantes que temos tido nos diversos níveis de governo – mp’s; mpp’s e vereadores ou mayor’s – têm contribuído para reforçar a afirmação da importância da comunidade portuguesa a nível nacional?
Como em tudo na vida, o desempenho da cada um de nós é obviamente distinto.
Não tenho dúvidas que elegendo portugueses ou descendentes para cargos políticos, em qualquer nível governamental, estamos a contribuir, enquanto comunidade, para a nossa afirmação neste país de acolhimento.

Há quem afirme que a responsabilidade deve ser atribuída à própria comunidade, pelo seu desinteresse na participação ativa nas decisões políticas, por exemplo votando. Concorda?
Não, de todo. Se é verdade que poderíamos e deveríamos ser muitos mais a participar nas decisões das escolhas aos cargos políticos, não podemos colocar as culpas, somente, nos cidadãos. A classe política tem imensa responsabilidade neste afastar dos cidadãos.

Também há quem defenda que este não é um problema exclusivo da nossa comunidade, defendendo que o tal desinteresse é muito causado pelos próprios políticos, cujas ações ou inações, têm desacreditado a política, afastando assim o eleitorado. Faz sentido este argumento?
Sim, com certeza! Aliás, este flagelo de nível mundial deveria colocar os próprios políticos a tirar as suas próprias ilações e perceber porque é que as pessoas se afastam e ou não participam. É urgente a chegada de mais líderes, sérios e dedicados, aos partidos e consequentemente ao poder, sob o risco de continuarmos a caminhar no sentido inverso onde os partidos anti-democráticos vão ganhando terreno.

O que pode ser feito para alterar esta situação e termos mais luso-canadianos dispostos a defender causas políticas ao mais alto nível?
Inserir nas escolas primárias, onde tudo começa, uma disciplina de política pública de base. Daí até à formação de políticos de carreira com sensibilidades de liderança, principalmente nas causas sociais e contas públicas, é apenas um curto passo. Dar aos médicos a medicina, aos advogados a justiça, aos construtores a construção, etc, etc, etc… e aos políticos (de carreira) a política!

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