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Jack Prazeres: Sempre com o futuro no horizonte

Futura sede em Hamilton no Ontario. Créditos: LCCS

Como Presidente da Luso Canadian Charitable Society, Jack Prazeres tem sido o grande mentor e impulsionador de uma das mais respeitadas instituições de apoio a pessoas com deficiência no Canadá. Visionário e profundamente ligado à comunidade luso-canadiana, Prazeres tem dedicado décadas a transformar desafios em oportunidades, garantindo que a inclusão e a dignidade sejam realidades tangíveis. Sob a sua liderança, a Luso expandiu centros, reforçou programas e deu início à construção de uma nova residência em Hamilton, um marco que simboliza o compromisso contínuo com as famílias e com o futuro da comunidade. Nesta entrevista, Jack Prazeres fala do passado, mas sempre com os olhos virados para o futuro da instituição que lhe está colada à pele.

Milénio Stadium: A Luso Canadian Charitable Society tem mais de duas décadas de serviço à comunidade. Pode contar-nos um pouco sobre como nasceu esta instituição e qual tem sido a sua principal missão ao longo dos anos?

Jack Prazeres. Créditos: Adriana Paparella

Jack Prazeres: A Luso nasceu de uma ideia do Comendador António Dionísio, que era naquela altura o chefe lá na 183. E nós tínhamos um grupo de pessoal, que tinha participado na compra de um autocarro para os Portuguese Disable Building Fund, mas depois verificámos que eles precisavam de um sítio para eles irem passar os dias. E foi daí que nasceu a ideia de fazer a Luso. Inicialmente era para ir para o Parque da Caledonia. Nós gastámos até muito dinheiro nos planos para lá, mas depois, quando foi para tirarmos as licenças, disseram que tinha que ser um construtor aprovado por eles. Naquela altura, já queriam, acho que era 8 milhões, se não me engano, e era muito dinheiro para nós naquela altura. E então apareceu a oportunidade de comprarmos um lote na Saint Clair e nós comprámos. Foi muito mais barato. Foi o Victor Hipolito do Ambiente Designs que fez os desenhos e as plantas, tudo de graça. E foi aí que nasceu a primeira Luso que abriu, se eu não me engano, em 2007.

MS: Ao longo do tempo, a Luso tem crescido e diversificado o seu trabalho…

JP: Sim, como já expliquei, a Luso quando nasceu era para ajudar as pessoas do Portuguese Disable. Só que o prédio ficou muito grande só para aquele grupo e começámos então a ajustar e a integrar outras pessoas que precisavam de ir para o centro. Havia e há muita necessidade. Então começámos a diversificar um bocadinho para outras pessoas sem ser daquele grupo e a Luso começou crescer. E depois apareceu a dona Helena Medeiros, de Hamilton, que começou a dizer que precisavam de um centro também lá. Começámos a trabalhar no centro, em Hamilton. Primeiro comprámos um clube pequenino e depois, com a ajuda do governo provincial, que nos deu, naquela altura, $600.000, construímos um novo e maior. Depois apareceu a oportunidade de construir um centro na área de Peel. Havia muitos telefonemas a pedir um centro naquela zona. E foi assim que nasceram os três centros.

MS: O mais recente projeto da Luso é a construção de um novo Lar em Hamilton, destinado a 45 utentes com necessidades especiais. Como surgiu esta iniciativa e o que motivou a sua concretização nesta fase?

JP: Bem, esta ideia vem da necessidade que os pais com mais idade têm. Temos vários exemplos de pais que, já com 70 ou 80 anos, têm muita dificuldade em tomar conta dos filhos, alguns já não conseguem mesmo e não têm uma residência própria que resolva os seus problemas. Nós sabemos que a lista de espera que há no sistema provincial, pode ir de 7 ou 8 a 15 anos, conforme a necessidade e, normalmente, só tem lugar quando os pais já morreram. Temos pais que andam a falar connosco há mais de dez anos. Temos tido várias reuniões em que sempre fica muito claro que precisávamos de um centro que cumprisse essa necessidade dos pais. Nunca tínhamos conseguido chegar a este ponto que chegámos agora. Com a ajuda do Governo provincial e com a ajuda da comunidade e todas as empresas que nos ajudam, conseguimos chegar ao ponto de comprar um lote e começar este prédio que vai ter 45 camas, para ajudar estas pessoas 24 horas por dia, sete dias por semana e vai ter também lugar para 80 a 100 utentes para programas de dia. 45 utentes não é nada. É uma gota de água no mar, mas é uma pequena ajuda para aqueles casos de emergência que nós conhecemos e que estão à nossa espera, mas também temos já outro projeto que já está a ser desenvolvido. Estamos à espera de que comecem um prédio em Toronto, onde vamos ficar com dois andares e onde vamos ter mais 40 camas. Em princípio, já está tudo aprovado, já temos lá dinheiro em depósito. no prédio.

MS: Este investimento de Hamilton é de grande dimensão, que conta com apoios dos governos provincial, bem como da cidade de Hamilton. Pode explicar-nos como foi possível reunir este conjunto de apoios e que papel tem a comunidade portuguesa neste processo?

JP: Sim, a Residência de Hamilton vai ficar à volta de 25 milhões, mais coisa menos coisa. Com tudo incluído. Vamos ter 16 milhões do governo provincial e o resto somos nós que temos que arranjar.

MS: Estão confiantes que a comunidade vai ajudar mais uma vez, não é?

JP: Sem dúvida alguma. Temos tido sempre boa resposta da comunidade, uma boa ajuda. A comunidade sabe que a necessidade está lá, está tudo à vista e é uma boa causa. Para as pessoas que não têm experiência de lidar com estes pais e ver a angústia que estes pais têm em não saber o que é que vai acontecer aos filhos deles no futuro, quando já não puderem tomar conta dos filhos. É uma dor muito grande para eles. É um alívio muito grande saber que o Luso vai tomar conta deles. Eu tenho visto pais em reuniões a chorar, a chorar. “O que é que vai ser do meu filho ou da minha filha? Porque eu já não consigo tirá-lo da banheira. Eu já não consigo dar-lhe banho, eu já não consigo vestir, eu já não consigo levar do quarto para a cozinha”. Para mim ouvir estas palavras é difícil, para a nossa direção é difícil. O que aqueles pais sofrem todos os dias, é uma dor muito grande. Por vezes, vêm-me lágrimas aos olhos a ouvi-los. 

MS: Que características e serviços diferenciadores terá esta nova instalação? Em que medida irá melhorar a qualidade de vida dos utentes e das suas famílias?

JP: Os programas são todos diferentes, as necessidades são muito diferentes. Muitas das camas tem que ter elevadores (lift) para ajudar a tirar os utentes da cama. As banheiras são diferentes, tudo é diferente. E depois os programas de dia também são todos diferentes. Todos eles tem uma necessidade especial. Nem todos gostam de ouvir música, nem todos gostam de cozinhar, nem todos gostam de andar, nem todos gostam de barulho, nem todos gostam de ouvir falar. É tudo muito personalizado.

MS: Finalmente, olhando para o futuro, quais são as próximas metas da Luso Canadian Charitable Society? Que sonhos ou desafios ainda gostaria de ver realizados enquanto presidente da instituição?

JP: Nós queremos ver se conseguimos fazer em 18 meses a obra da Residência em Hamilton e pô-la a funcionar. Queremos, entretanto, que os donos comecem construir o tal prédio de 40 e tal andares, para nós também darmos início à Residência em Toronto. E depois, a seguir, vamos ver o que é que conseguimos fazer. Mas temos falta de tudo. Temos falta de dinheiro, temos falta de diretores, temos falta de pessoas que dediquem um bocadinho do seu tempo para esta causa. E temos muitos, muitos pedidos de diferentes cidades que nos perguntam se é possível ir abrir programas lá, porque toda a gente fala do nosso trabalho. Até o governo provincial manda pessoal do Community Living de outros lados para verem como é que nós trabalhamos. Normalmente, os nossos utentes estão muito contentes e, ao fim do dia, nem querem sair de lá. Isto é o contrário do que acontece noutros centros. Portanto, é um prazer muito grande e um orgulho para a nossa comunidade termos uns centros assim, mas é um trabalho muito árduo.

MB/MS

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