Temas de Capa

Já vivemos mais… Só falta vivermos melhor até ao fim

Vivemos a era do conhecimento acelerado – a tecnologia, que se desenvolve de forma vertiginosa, ajuda a investigação, estimula a descoberta de novos caminhos e, consequentemente, a evolução da ciência. Entrámos, já há vários anos, numa espiral de desenvolvimento que, entre muitas outras consequências, nos permite viver mais, embora não necessariamente melhor.

Os dados são atualizados ano a ano, mas é já uma certeza inquestionável que aquilo que é resultado da extraordinária evolução da humanidade – mais conhecimento e sucesso, por exemplo, no controle e combate à doença – é também a maior fonte de preocupação. Como vamos viver daqui para a frente? Estaremos preparados para enfrentar o desafio de termos cada vez mais população que é, também, cada vez mais idosa? Como vamos cuidar dos mais velhos?

Nesta edição do Milénio Stadium trazemos alguns exemplos do que existe, visitamos instituições que trabalham com idosos, falamos com as pessoas e percebemos as suas angústias. Sim angústias, porque não haverá nada mais angustiante do que alguém sentir que é um peso para os filhos, depois de tantos anos de vida autónoma e, por outro lado, é também motivo de angústia um filho querer o melhor para o pai ou mãe, mas não ter condições para ser o seu cuidador.

Relativamente ao que se passa no Canadá, os números disponíveis dizem-nos que desde 1960 até aos nossos dias, a população tem tido um aumento significativo no escalão etário sénior – em 1960 os mais idosos eram cerca de 8%, hoje atingem mais de 14% da população canadiana. Estima-se que em 2036 a população idosa atinja os 25% do total dos canadianos. Há ainda um outro dado que vos deixo para reflexão – em 1971 a média de idades no Canadá era de 26.2 anos, em 2036 espera-se que se situe no intervalo entre os 42 e os 45 anos.

Naturalmente, a comunidade portuguesa residente no Canadá também está a dar a sua contribuição para estes números. E se este facto é, obviamente, motivo de grande alegria para todos nós é, também, razão para aumento de preocupação para as famílias que, nos dias de hoje, agitados e tão ocupados, têm muita dificuldade em cuidar de quem, por força das limitações da idade, já precisa de atenção especial.

São poucas as respostas sociais – lares ou residências para idosos que lhes proporcionem cuidados que garantam um envelhecimento digno e o mais saudável possível – que não tenham como principal objetivo o lucro. A triste verdade é que no Canadá (e não só…) este envelhecimento progressivo da população não escapou ao olho dos investidores que transformaram um problema sentido pelas famílias num grande negócio. Por outro lado, há que ter em consideração uma outra questão fundamental – a integração sociocultural dos nossos mais velhos. A escolha da instituição que possa substituir a família e proporcionar-lhes o acompanhamento, na fase final da vida (só por si, sempre um processo de difícil integração), deveria responder afirmativamente a perguntas como – falam português?; a alimentação é próxima da nossa gastronomia tradicional?; as atividades culturais têm a ver com a nossa cultura? E é aqui que muitas vezes as famílias luso-canadianas encontram os maiores obstáculos.

Muitos dos idosos de hoje, antecipando estes problemas, trataram de preparar esta etapa da sua vida, regressando a Portugal ainda capazes e autónomos, mas já reformados. Escolhendo terminar por lá os seus dias. E se, por um lado, esta parece ser a solução mais feliz, por outro lado há o inevitável peso da separação da família que poderá significar para o idoso um sentimento de abandono ainda maior. Acresce que, apesar de em Portugal a oferta de Lares de Idosos geridos por instituições sem fins lucrativos ser bem maior da que existe no Ontário, a verdade é que já é manifestamente insuficiente. Os Lares estão cheios e as listas de espera são infindáveis.

A reflexão sobre esta matéria é necessária, mas mais importante ainda é que a ação aconteça e se trabalhe para tentar criar as condições para que os portugueses possam envelhecer com dignidade e apoio no país que escolheram para viver.

Madalena Balça

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