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“Há coisas que temos que aprender com este caso”

Peter Fonseca sobre SNC Lavalin

É um dos dois únicos portugueses com assento no Parlamento Federal do Canadá – chama-se Peter Fonseca e é do Partido Liberal. Nesta entrevista, que aceitou conceder ao Milénio Stadium, fala da situação atual do quadro político nacional e considera que o já famoso caso SNC Lavalin é um exemplo da preocupação do governo de Trudeau com a situação laboral no país. Escusando-se a responder de forma clara à nossa questão sobre a existência ou não de uma certa descredibilização da política e dos políticos, Peter Fonseca preferiu enumerar algumas das medidas que integram o que considera ser uma política de sucesso do governo liberal e que, acredita, irá levar os eleitores a concederem-lhes mais quatro anos de poder.

Milénio Stadium: Estamos num ano de eleições federais. É um ano de decisões. Quais são as suas expectativas em relação aos resultados?
Peter Fonseca: A escolha em quem votar está nas mãos das pessoas, justas e inteligentes, da minha área de Mississauga e do Canadá como um todo. Eles fizeram a escolha em 2015 de investir no Canadá e nos canadianos (99%) em vez de optarem pelo plano Harper dos Conservadores, de cortes nas taxas para os mais ricos (1%).
Foi uma grande honra para mim ser eleito Membro do Parlamento por Mississauga East-Cooksville. Tenho trabalhado muito para ajudar os residentes da minha área e espero que tenha conseguido em troca a sua confiança e apoio.
Sei que ainda há muito trabalho para fazer no que diz respeito a emprego, imigração, cuidados de saúde, infraestruturas, redução da pobreza e, acima de tudo, sustentabilidade económica. Continuarei a falar e a agir sobre estes importantes assuntos e áreas de preocupação. Acredito que investindo nas pessoas, nos sítios onde vivem e trabalham e garantindo-lhes uma real e justa oportunidade de sucesso a nossa mensagem terá eco nos canadianos e tenho esperança que nos traga (ao Partido Liberal) um segundo mandato.

MS: Até que ponto o caso SNC Lavalin irá afetar o resultado final?
PF: Em relação ao SNC, o nosso governo sempre se focou no emprego, em fazer crescer a classe média e em reforçar a nossa economia.
O gabinete do primeiro-ministro teve, claro, discussões sobre a potencial perda de 9 mil postos de trabalho, de várias comunidades de todo o país (muitas de Etobicoke e Mississauga), incluindo o possível impacto nas pensões.
Creio que é trabalho do primeiro-ministro estar sempre ao lado dos trabalhadores canadianos.
Como o primeiro-ministro disse, “é nosso trabalho como parlamentares defender o interesse das comunidades que nos elegeram para os representar. Ser a voz dessas comunidades em Ottawa. Sublinhei a importância de se protegerem os postos de trabalho e que esse assunto era da maior importância a nível nacional”.
Tenho confiança no primeiro-ministro Trudeau. O primeiro-ministro tem sido muito claro desde o início que ele e o seu staff sempre agiram apropriadamente e profissionalmente.
Há coisas que temos que aprender com este caso, sobre como os “canais de comunicação” e os desempenhos dos ministros no seio do governo podem ser melhorados ou alterados. Há um debate sério que terá que ser feito sobre separar o papel do Ministro da Justiça do papel do Procurador-Geral, como acontece no Reino Unido.

MS: Concorda que vivemos num tempo de grande descrédito da política e, consequentemente, dos políticos? O que pode ser feito para termos cidadãos mais ativos na vida política e envolvidos nas decisões que afetam o país?
PF: Quando se trata de política eu posso entender que as pessoas estejam ocupadas com as suas próprias vidas e possam não entender propriamente todos os assuntos. Cabe-nos a nós, os legalmente eleitos, candidatos, partidos políticos, governo, media e público em geral ajudar a conseguir a participação dos eleitores. Os cidadãos têm muito mais poder político do que imaginam. Votar é um direito constitucional de todos os cidadãos canadianos e deve ser usado. Foi bom ver uma participação muito maior (de 69% dos eleitores) nas eleições federais de 2015. Acredito que a apresentação de um plano de ação onde os canadianos possam ver, de forma tangível, que é possível melhorar as suas vidas e das comunidades onde vivem, trabalham e se divertem ajuda a levar mais pessoas a votar. Estou certo de que, com políticas positivas bem comunicadas e políticas que ajudam os canadianos de forma justa, levarão a uma maior participação dos eleitores.

MS: No que diz respeito à comunidade luso-canadiana, que tipo de representatividade política podemos esperar no futuro?
PF: O Canadá é a casa de uma muitíssimo respeitada e vibrante comunidade luso-canadiana com mais de meio milhão de canadianos de origem portuguesa. Presentemente temos dois MP’s de origem portuguesa, eu próprio de Mississauga e Alexandra Mendes de Montreal. Estamos muito orgulhosos da nossa comunidade luso-canadiana e gostaríamos de ver mais luso-canadianos a candidatarem-se a um cargo público.
Algumas das iniciativas que eu e a Alexandra promovemos, em cooperação com o Grupo Parlamentar de Amizade Canadá-Portugal, como por exemplo a visita do primeiro-ministro português António Costa e a assinatura de um novo acordo bilateral para a Mobilidade Juvenil entre os dois países, foram passos muito positivos para a nossa comunidade. Canadá e Portugal têm uma relação muito forte, fundada em valores comuns, profundos e muito significativos laços interpessoais e relações comerciais mutuamente benéficas.
Este acordo permitirá que jovens canadianos e portugueses com idades entre os 18 e os 35 anos trabalhem e viajem sob o Working Holiday, International Co-op, and Young Professional streams of the International Experience Canada (IEC) Program. Este novo acordo permitirá que mais de 200 jovens portugueses viajem e trabalhem no Canadá, enquanto que 2000 jovens canadianos podem viajar e trabalhar em Portugal.
Tal como Corte-Real, o português dos descobrimentos do século XV, que aqui chegou a Newfoundland, em 1501, ou como os modernos Pioneiros que chegaram no início dos anos 50. A comunidade portuguesa continua a desbravar novos terrenos em todas as áreas – negócio, profissional, social, artística e desporto. Viva Portugal e Viva o Canadá!

MS: Na sua opinião, quais seriam as principais razões para os eleitores darem a Justin Trudeau e ao governo liberal um segundo mandato?
PF: O nosso governo foi eleito com um programa eleitoral para fazer crescer a nossa economia e a nossa classe média. O nosso plano “três pontos” está a funcionar:
1 – Criar postos de trabalho – com o mais significativo investimento em infraestruturas ($ 180 mil milhões num novo fundo).
2 – Promover o crescimento da classe média – subindo 1% as taxas aos mais ricos e cortando os impostos dos canadianos da classe média
3 – Ajudar os trabalhadores a juntarem-se à classe média – investindo em essenciais infraestruturas sociais incluindo casas de custo suportável e apoio no cuidado aos mais novos, assim como providenciando mais dinheiro para ajudar as famílias com elevados custos com a educação dos seus filhos.
Os resultados falam por si:
O tecido laboral ganhou 900.000 postos de trabalho desde que assumimos o poder, sendo que perto de ¾ deles são empregos a tempo inteiro. No passado mês de fevereiro, foram adicionados mais quase 56,000 postos de trabalho. Temos a mais baixa taxa de desemprego dos últimos 40 anos e maior taxa de crescimento do G7.
Graças às iniciativas do nosso governo – como é exemplo o Canada Child Benefit – 825,00 canadianos têm conseguido sair do limiar de pobreza, desde 2015 e a taxa de pobreza caiu mais de 20%.
O nosso plano está a funcionar em todas as medidas. Da forma como nos preparámos para as eleições de outubro, estou certo que iremos outra vez apresentar um programa positivo com políticas como o “pharma care for all” que irá ajudar os canadianos a serem bem-sucedidos a cada dia. Mal posso esperar por bater à porta e falar com todos os residentes da minha área.

Madalena Balça

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