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Fortunas destinadas ao bem social

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O multimilionário Eldon Foote, com sua terceira esposa Anne, deixou muito de sua vasta fortuna para instituições de caridade em Edmonton e na Austrália – permanecendo anônimo até anos após sua morte. Crédito: Simon Schluter / Fairfax Media

 

As histórias de milionários que decidiram doar parte de suas fortunas às causas sociais sempre chamam atenção da mídia e do público. Afinal são milhões de dólares que deixam de pertencer às famílias herdeiras e são destinados para o benefício de pessoas anônimas, membros da comunidade. Alguns desses casos de extrema generosidade ficaram conhecidos no Canadá pelo montante das quantias envolvidas, verdadeiras fortunas, e também pelas centenas de pessoas que as instituições ou fundações beneficiadas ajudaram, e que ainda ajudam, perpetuando assim o legado desses canadianos que mudaram a vida de outros dando-lhes diferentes oportunidades.

Discrição nem sempre é uma das características associadas aos muito ricos, afinal existem aqueles que fazem questão de ostentar e mostrar as benfeitorias que fazem com o dinheiro que têm. Não foi o caso de Eldon Foote, um canadiano que doou parte de sua fortuna e permaneceu no anonimato durante mais de uma década. Isso aconteceu em grande parte não apenas porque ele se mantinha discreto a cada contribuição social, mas também porque a doação final desagradou os herdeiros naturais, ou seja, os filhos e uma das ex-esposas, e criou uma batalha judicial que se arrastou durante anos.

A fortuna desse homem, nascido em Hanna, Alberta e que cursou a Universidade de Alberta foi construída em boa parte longe da terra natal. Atuou durante anos como advogado no Canadá, mas foi na Austrália onde se tornou empreendedor e desenvolveu uma empresa de produtos de limpeza que foi um sucesso no Japão e em Hong Kong e que multiplicou o seu patrimônio. Apesar de longe fisicamente, o lugar no qual cresceu e estudou permaneceu vivo nas suas intenções e ele fez questão de retribuir.

A primeira doação foi para possibilitar a construção do “Foote Field”, instalação desportiva, na Universidade na qual se graduou. Mas foi no final de sua vida que veio a grande contribuição: $ 164 milhões destinados para a Fundação Comunitária de Edmonton, naquela época a maior doação já feita a uma fundação comunitária no Canadá. O detalhe que chama atenção nessa história é que essa informação, a identidade do doador, só veio à tona, e foi tornada pública, em 2017, ou seja, 13 anos depois da morte de Foote. O dinheiro foi investido em causas como conservação de áreas ambientais, criação de programas de educação e arte desenvolvidos para crianças e jovens de comunidades carentes, e foi fundamental para alavancar a organização chamada “Women Building Futures”, que ajuda na formação profissional de mulheres em áreas como soldagem, encanamento e construção. Por ter morado anos na Austrália, uma instituição local também não foi esquecida e o canadiano doou para a “Lord Mayor’s Charitable Foundation”, em Melbourne, uma enorme quantia financeira.

Foi na mesma província de Alberta, dessa vez na cidade de Calgary, que outra doação milionária aconteceu. O testamento de Daryl K. ‘Doc’ Seaman, que foi um empreendedor no ramo do petróleo e gás industrial, fazendeiro, além de um notório apaixonado pelo hockey, garantiu um século de contribuição para uma fundação local. Um fundo monetário no valor de $117 milhões foi destinado a “Calgary Foundation”, o que num período de 100 anos vai render impressionantes $1.4 bilhões de dólares e garantir o funcionamento de instituições ligadas a saúde mental, educação indígena, luta contra a pobreza e sustentabilidade ambiental na cidade, o que com certeza que vai impactar a vida de muitas gerações.

Em Toronto os moradores e turistas que visitam o High Park, o maior e mais famoso parque da cidade, talvez não saibam, mas grande parte da enorme área verde que constitui o local foi doada, ainda no século 19, por John George Howard, que quando comprou as terras pretendia que fosse uma fazenda de ovelhas. Howard marcou seu nome na história local, sendo o primeiro arquiteto profissional de Toronto e o responsável por diversos edifícios públicos, comerciais e residenciais.

Até hoje a casa onde morou com a esposa permanece intacta no High Park, o Colborne Lodge, agora transformado em um museu. O casal não tinha filhos e, portanto, transferiu a propriedade e o terreno para a cidade em 1873, em troca de uma pensão permanente. Howard morreu em 1890 e foi a partir daí que novas áreas adjacentes foram compradas e o tamanho do parque expandido. O túmulo dele e de sua esposa estão no parque junto a um monumento de pedra com vista para o Lago Grenadier.

Nos dias atuais, também são notórios alguns casos de bilionários canadianos que em vida contribuíram com vultosas quantias para entidades e instituições locais.

Recentemente em 2019 o bilionário canadiano Peter Gilgan, através da fundação que mantem, doou para o Sick Kids, hospital pediátrico em Toronto, uma quantia de $100 milhões de dólares. A doação ajudará a financiar a construção de um novo prédio para receber mais pacientes na University Avenue, que deve ser concluído nos próximos anos e levará o nome do benfeitor.

Em setembro do ano passado a Universidade de Toronto recebeu aquela que classificou como “a maior doação de sua história”: $250 milhões que serão destinados a pesquisas de saúde, inovação médica, bolsas estudantis entre outros setores. “Esta incrível doação eleva a filantropia canadense a um novo nível de visão e impacto”, declarou Meric Gertler, presidente da universidade, em entrevista coletiva aos media canadenses na ocasião. O nome da faculdade de medicina passou a homenagear os doadores, James e Louise Temerty. O casal é reconhecido pelo trabalho filantrópico que desenvolve e a fortuna foi construída a partir de negócios relacionados a produção independente de energia.

Exemplos de diferentes pessoas, com diferentes trajetórias de vida, mas que compartilham o desejo de retribuir à sociedade de maneira positiva e deixar a sua marca nas comunidades.

Lizandra Ongaratto/MS

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