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“Ficaram 8000 votos em casa, da nossa comunidade” – Paulo Pereira

Créditos: DR.

É bem conhecido na comunidade portuguesa por ser um homem capaz de enfrentar desafios e não se conformar com o abanar de ombros perante algo que no seu entender não está bem. Paulo Pereira assumiu recentemente o desbravar de um caminho no complicado mundo da política – foi candidato pelo Partido Liberal em Davenport. Nesta conversa, partilhou connosco o motivo que o levou a entrar para a política e refletiu sobre os desafios de concorrer contra figuras políticas fortes, como foi o caso de Marit Stiles. Entre as lições aprendidas neste experiência, Paulo Pereira não esconde a deceção ao confirmar o que já há muito se fala – o baixo índice de votação da comunidade portuguesa. Nesta conversa, Paulo Pereira revela ainda os planos para o seu futuro político em Davenport.

Milénio Stadium: A primeira pergunta é – porque é que resolveste entrar neste mundo da política, aceitando este desafio de seres candidato Liberal em Davenport?

Paulo Pereira. Créditos: DR.

Paulo Pereira: Eu, como noutras coisas, quando não estou a achar as coisas bem geridas, não tenho receio de pôr o meu nome à frente para tentar dar o meu melhor contributo para mudar as coisas. Uma coisa que eu não gosto é de políticos de carreira que fazem jogos de política. Porque, ao fim ao cabo, nós precisamos de pessoas que façam o trabalho necessário para o bem da sociedade e não para se aproveitarem de momentos, para assegurar que se mantêm no poder. Porque acho que um político deve trabalhar com objetivos em mente e não ficar lá para a vida inteira. E, simplesmente, não estava a gostar da forma com o rumo que o país estava a levar, principalmente da província. Tive pessoas a convidar-me para dar o meu melhor para fazer isso e foi a razão pela qual avancei.

MS: Tu, ao aceitares, sabias que estavas a concorrer com alguém que está muito forte na política, Marit Stiles, líder do NDP de Ontário. Isso não te inibiu? 

PP: Não! Porque se eu fizer uma comparação, eu nasci na Davenport, vivo na Davenport e passei a maior parte da minha vida, fora os anos que eu estive no estrangeiro, na Davenport, relativamente a uma senhora que pode estar ligada a Davenport por uns tempos, mas também se aproveitou. A minha ligação ao ward, que vivo aqui é mais forte e considero que consigo salvaguardar os interesses de Davenport de uma forma mais forte que ela.

MS: Davenport é hoje um território ainda com muitos portugueses, mas cada vez menos em relação a outros tempos. Sentiste que não teres a nossa comunidade tão forte como noutros tempos te prejudicou, de certo modo? 

PP: Sim, de certa maneira sim. As estatísticas que nós temos dos dados dos eleitores na Davenport dizem-nos que à volta de 11.000 pessoas identificadas como portugueses em condições de votar em Davenport. A comunidade portuguesa é o maior bloco étnico de eleitores. Obviamente que se os portugueses se tivessem unido e mostrassem querer uma voz política a representá-los isso poderia ser uma vantagem para qualquer candidato. O problema é que os portugueses não votam. E notou-se isso, de forma clara. No dia das eleições, dos 11.000 portugueses que estavam listados para votar só conseguimos identificar 3000 e tal que votaram. Ficaram 8000 votos em casa, da nossa comunidade. E isso fica abaixo do nível de abstenção. Ora isto mostra que numa zona com tantos portugueses, nós somos das etnias que menos votam. Quer dizer que nós não estamos interessados em nos integrarmos politicamente. E isso torna as nossas vidas – da comunidade, das nossas organizações, dos nossos cidadãos – mais complicadas, porque os políticos vão prestar-nos menos atenção porque nós não votamos e eles vão sempre atrás dos eleitores que votam.

MS: Mas esse facto de muitos portugueses não votarem surpreendeu-te?

PP: Eu não posso dizer que sim, totalmente, mas surpreendeu porque os portugueses são os primeiros a criticar, mas depois quando têm opções na mesa, sendo cada um livre de escolher e apoiar quem quiser, mas quando têm a opção de ter alguém que nos conhece, que conhece as nossas posições, conhece a nossa língua, e não damos apoio, indo votar… só mostramos que somos uma comunidade partida, fracionada. E se este tipo de postura não mudar, nós vamos continuar a ser esquecidos. Mas isso também é uma coisa que eu já ouço há muitos anos. E é pena que, ao longo do tempo, os esforços não tenham sido suficientes para envolver mais a comunidade na política, quer seja a nível federal, provincial… tem que haver quem continue a tentar envolver a comunidade, educar a comunidade para esta necessidade de ter representação política. É preciso haver também mais educação sobre política, porque há quem faça muita confusão, uma mistura entre os Liberais Federais e o Partido Liberal de Ontario, há também muita confusão entre os deveres dos políticos a nível federal, provincial ou ao nível da Câmara. 

MS: Que lições é que aprendeste com tudo isto e, concretamente, com o resultado que obtiveste? 

PP: Uma campanha nunca é fácil, nunca é fácil fazer um “porta à porta”. São 45.000 portas e temos que bater às portas todas. Tivemos que fazer isso num mês, é muito complicado, principalmente quando há bastante neve e bastante frio. 8000 votos já é um bom resultado, mas tenho muito mais para fazer, tenho muito mais portas para bater nos próximos quatro anos, para estar preparado para uma outra tentativa neste campo da política. 

MS: Estas eleições também te puseram em contacto com a realidade de uma estrutura partidária. Candidataste-te representando um partido político, no caso o Partido Liberal de Ontário. Sentiste que foste devidamente apoiado?

PP: Sim, eu tive apoios. A infraestrutura existia? Talvez não. O partido está um bocadinho em reconstrução depois de 2018. E também teve um novo líder no ano passado, com a Bonnie Crombie. Desde 2018, não era um partido oficial e estava em construção, mas… o partido apresenta a qualquer candidato, uma base de dados para identificar com maior probabilidade, quais são os cidadãos que, por hábito, votam nas mesmas cores. E também ofereceu algum dinheiro para ajudar a campanha e tive outros candidatos a ajudar. Simplesmente notei que o partido não estava 100% à espera destas eleições. Esta foi uma jogada política do Ford para apanhar os liberais desprevenidos.

MS: Que balanço que fazes desta experiência?

PP: Foi uma boa experiência ter ficado em segundo lugar à frente do partido que ganhou as eleições em Ontário, sei que é um bairro onde eles nunca ganham, mas ter ficado em segundo lugar também contra uma líder de um partido… é um bom começo, principalmente quando foi uma campanha de um mês. Já tirei muitas lições e ainda estamos para fazer a última revisão da campanha, para vermos o que correu bem e menos bem internamente, aqui no bairro. 

MS: Relativamente ao futuro, podemos concluir que o teu trabalho para conquistares Davenport daqui a quatro anos vai começar em breve.

PP: É como eu disse no meu discurso no fim da campanha – o meu trabalho começou no dia a seguir. E é isso. Já tenho que começar a planear como vou fazer as coisas nos próximos tempos para daqui a quatro anos, eventualmente, me recandidatar? Esse trabalho já começa a ser feito hoje, porque quanto mais tempo tiver, mais tempo terei para conversar, comunicar com os leitores e isto faz a diferença.

MB/MS

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