Temas de Capa

Ficamos esclarecidos

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Créditos: DR

Tal como acontece todas as semanas, foi-me incumbida a realização de algumas entrevistas para a edição do jornal Milénio Stadium. Desta vez, foram-me atribuídos três trabalhos para o tema de capa, que se debruça sobre o movimento anti vacinas e a implementação dos “passaportes Covid-19” em Ontário.

É, naturalmente, minha função, enquanto jornalista, ter uma posição absolutamente imparcial em qualquer dos temas que trate – essa é das regras básicas do código deontológico do jornalismo, basta frequentar o primeiro ano universitário do curso para que nos seja consecutivamente lembrado de forma quase exaustiva que aqui, nesta profissão, somos portadores de informação, recolhemo-la e distribuímo-la com respeito pelo público que, neste caso, nos lê, sempre com a imparcialidade e honestidade que nos é exigida. Ora, sendo esse um princípio básico, e estando eu com plenas capacidades cognitivas, é-me completamente impensável exercer o meu papel de jornalista de outra forma qualquer a não ser esta.

Uma das minhas entrevistas seria, e foi, com um senhor (leia-se: pessoa de género masculino, apenas) de seu nome. Para quem tem estado atento ao que se passa pelo Canadá no último ano e meio desde que a pandemia da Covid-19 começou, esta pessoa é quase uma das personagens principais, se não a principal aqui da zona, de todo um grupo imenso de pessoas que defende que este vírus que por aqui anda é tudo menos um vírus, afirmando ser algo ficcional e que faz apenas parte da agenda política dos nossos governantes.

Na minha posição de entrevistadora, sabendo de antemão que este é um homem que carrega um saco pesado de polémicas, decidi dizer-lhe, mesmo antes de começar a entrevista que ele me cedeu, que respeito qualquer e todas as perspetivas e opiniões e que, portanto, as minhas perguntas seriam apenas para ter a perceção dele sobre o tema.

Começo então a minha entrevista com a seguinte pergunta: “Quais são as razões para não considerar a Covid-19 um perigo para a saúde pública?”. No entanto, fiz esta pergunta em inglês e portanto foi, na verdade, assim que me saiu: “I would like to know what are the reasons for you to not consider Covid-19 as something dangerous to the public heatlh?”. Ele começou por me responder, dizendo: “It’s pretty simple, it had less people killed every year than a lot of other diseases (…)” – a explicação continuou, com os dados que ele quis debitar, dizendo, pelo meio, palavrões e, rematando essa primeira resposta com algo como “Is it my opinion or it’s called a fact?!”, perguntando-me, logo de seguida, se há mais alguma “pergunta estúpida” que eu quisesse fazer, porque ele conseguia, desde logo, perceber, segundo palavras dele, que esta seria uma entrevista “mesmo estúpida”, porque eu estava, segundo ele, a fazer perguntas com a intenção de perpetuar as mentiras dos “mainstream media”.

Eu fiquei em silêncio enquanto ele dizia para eu continuar, que ele continuaria também “ripping me (you) to shreds”. Acontece que eu, calma como nunca, quis garantir-lhe que não estava ali para o ofender, mas continuei a ouvir que o que eu tinha perguntado era estúpido e por isso, na opinião desta pessoa, eu estaria a ofendê-lo.

Escusado será dizer que este vai e vem continuou enquanto eu, por um lado, lhe dizia calmamente que estava ali apenas para de forma respeitosa saber a perspetiva dele e ele, por sua vez, fazia questão de agressivamente me dizer que eu não fiz a pergunta como deve ser feita. No alto da minha humildade, porque é daí que tenho que partir em alguns momentos da vida, resolvi pedir-lhe, repetidamente, desculpas caso eu não me tivesse expressado da melhor forma, na verdade queria apenas saber quais as suas crenças e que, talvez, o meu inglês não tivesse sido o melhor ou a forma como formulei a frase não fosse a mais apropriada, porque esta não é a minha língua mãe. Ora aqui foi o pontapé de partida para sucessivos insultos. Assim logo para abrir o circo, esta pessoa resolveu chamar-me idiota, mas não uma idiota qualquer: “a f****** idiot”.

No entanto, ele fez questão que eu fosse para a minha segunda pergunta e eu, pensando que tinha que fazer o meu trabalho com o maior profissionalismo possível, resolvi continuar. Na minha segunda pergunta, sabendo eu que Chris Sky é, conhecidamente, contra o uso de máscara e que, segundo ele, o uso de máscara não previne a doença, resolvi questioná-lo sobre esse assunto e usei o termo “anti-mask”. Pois é meus caros, a partir daqui fui absolutamente enxovalhada, insultada, verbalmente abusada da pior forma e, que fique bem claro, em momento algo retribuí tal tratamento. Permitam-me dizer isto com a maior das franquezas: fui burra ao ponto de lhe pedir desculpas se não me estava a saber expressar, enquanto ele comparava as minhas perguntas com algo do género “se te chamassem p****, e depois dissessem que não era isso que estavam a querer dizer, como era?”. Esta pessoa disse ainda que as minhas perguntas estariam a mostrar que eu sou “A f****** lie, piece of garbage” e que sou “Full of sh**”. Além disso, disse ainda se a pergunta seguinte tivesse um termo do género daquele que eu usei anteriormente (anti-mask), que eu poderia :“take this interview and shove up your a**”, continuando com a pergunta “do you have a third question now or you’ll just get off the phone and go f*** yourself?”.

Isto é apenas uma pequena parte do que eu ouvi, no entanto a conversa continuou porque eu fiquei serenamente a ouvir tudo o que esta pessoa tinha para dizer – eu estava ali a representar a empresa para a qual trabalho, portanto não ia, com toda a certeza, descer do salto. No fim de tudo, e depois de muitos mais insultos, eu pedi novamente desculpa se em algum momento ele se sentiu ofendido com a forma como fiz alguma pergunta, no entanto ele decidiu cuspir mais ódio e rebaixar-me ainda mais.

Esta conversa não foi totalmente transcrita como inicialmente tinha sido planeado, a opinião de Chris Sky sobre a Covid-19 não vai ficar registada nesta edição do jornal Milénio Stadium, mas o caráter dele sim. E no fundo, tudo isto representa apenas o que ele é, por isso eu não me revejo nas palavras insultuosas que me dirigiu – toda aquela agressividade e frustração são problemas que ele certamente terá de lidar e não está a saber como, por isso os projeta nos outros. Eu, com certeza, não sou o reflexo duma pessoa destas e como tal, o silêncio vai sempre representar-me melhor do que qualquer palavra usada em vão para comunicar com um cérebro visivelmente perturbado.

Catarina Balça/MS

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