“Fechámos a porta da nossa casa e viemos com uma mala na mão”: O Canadá na visão de mãe e filha

Graça Araújo, 37 anos, é atualmente Caretaking leadhand no campus de Mississauga da Universidade de Toronto. Sete anos depois de emigrar, lembra que deixar Portugal nunca foi um plano inicial. “Honestamente, nunca fez parte dos meus planos emigrar para o Canadá ou para outro sítio qualquer. Contudo, este sempre foi o sonho do meu marido”, conta. A decisão de mudar de vida amadureceu com o tempo, sobretudo ao olhar para o futuro das duas crianças do casal: “Com o passar dos anos, vendo a situação de crise que o nosso país estava a atravessar, escassez de trabalho e aumento maluco de impostos, comecei a pensar que talvez o sonho dele fosse uma hipótese a ponderar.”
O início, admite, foi duro. “O primeiro ano foi muito complicado, tendo em conta que viemos os quatro sozinhos. Fechámos a porta da nossa casa e viemos com uma mala na mão. Uma mala cheia de sonhos, lágrimas e muito medo que as coisas não dessem certo. Ser emigrante não é fácil.”

Graça sublinha que sempre manteve os pés no chão: “Eu não tinha muita expectativa, vim de mente aberta. Ouvia histórias de outros emigrantes, uns davam força para continuar em frente e muitos diziam ‘não vás’, mas graças a Deus não sou uma pessoa influenciável e não baixei os braços.”
O percurso exigiu força e resiliência: “Comecei do zero! Lutei bastante, chorei muito sozinha, mas foquei-me sempre no nosso objetivo, no futuro da nossa família. Graças a Deus, em sete anos já conquistámos mais do que alguma vez tivemos em Portugal. Isso é o nosso incentivo todos os dias.”
Sobre um eventual regresso definitivo, Graça revela: “O futuro é escuro, mas de uma maneira geral não faço planos para regressar. Gosto muito da minha ilha, adoro voltar para rever a família e os amigos, mas neste momento o Canadá é a minha terra. Foi o país que nos acolheu e nos deu condições de começar uma vida nova.”
Graça reconhece também que o Canadá mudou nos últimos anos: “O custo de vida aumentou muito, mas não foi apenas aqui. Por todo o lado as pessoas queixam-se que está tudo muito caro. Contudo, ainda há muita oportunidade, basta querer e não ter medo do trabalho.”

Aos 14 anos, Constança, a filha de Graça, é uma estudante portuguesa a viver no Canadá há sete anos. Em declarações sobre a sua experiência de emigração, a jovem deixa conselhos claros a quem pondera dar o mesmo passo: “Podem vir desde que estejam dispostos a sair da sua zona de conforto e aproveitar o máximo possível. A vida no Canadá é muito diferente de Portugal e vão ter que se acostumar com as diferenças e obstáculos que vão encontrar pela frente.”
Constança lembra as dificuldades que viveu ao chegar, com apenas 7 anos: “Eu diria para os meus pais terem vindo para o Canadá mais cedo. A minha irmã veio com 2 anos, quase a fazer 3, e começou a escola aqui. Mas para mim foi mais difícil por causa da língua. Comecei a escola a meio do ano, sem conhecer ninguém, e sem saber falar inglês. Não foi fácil! Por isso as pessoas precisam de coragem para começar uma vida nova.”
Questionada sobre se o Canadá correspondeu às suas expectativas, responde com sinceridade: “O Canadá tem as suas coisas boas e menos boas. O inverno é bonito para quem vem visitar o país, mas para quem vive aqui é chato lidar com neve e frio quase oito meses. A vida aqui pode ser melhor financeiramente, mas temos que trabalhar. Os meus pais trabalham muito e eu também vou passar o meu verão a trabalhar. Mas temos tempo para tudo.”
Sobre um eventual regresso definitivo a Portugal, Constança revela: “Portugal está sempre no meu coração. O facto de saber que a minha família está lá faz-me querer voltar para os ver, mas acho que não queria voltar a viver lá. Eu sinto muita falta deles, mas agora a nossa vida é aqui, os meus objetivos e planos são aqui.”
Para outros jovens que considerem emigrar, deixa um retrato realista do desafio: “Quando vim para o Canadá a única ideia que eu tinha era dos vídeos do YouTube, dos jovens nos Estados Unidos a falar inglês. Eu não sabia como ia ser aqui, eu ouvia as pessoas a falar e não entendia nada. Em Portugal, a minha professora de inglês só sabia ensinar ‘Hello’, ‘how are you’. A maneira de ensinar nas escolas aqui é muito diferente. Uma coisa boa é que com 15 anos já podemos ter o nosso part-time para depois ajudar a pagar os nossos estudos. O Canadá é um país bom para os jovens, mas também é preciso ter muito ‘juízo na cabeça’, tal como os meus pais me dizem todos os dias.”
RMA/MS
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