Temas de Capa

Fazer da vida um espetáculo

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Foi há cerca de 20 anos que Vasco Sacramento criou aquela que é a “menina dos seus olhos”: a Sons em Trânsito, empresa que se dedica ao agenciamento, produção de espetáculos e gestão de carreiras artísticas.

Desde o primeiro concerto organizado – o da artista peruana Susana Baca – em que Vasco, ainda sem operar sobre a designação da sua empresa, fez literalmente tudo (desde a promoção do espetáculo até ao transporte da artista e organização de catering, por exemplo) muitas foram as experiências vividas e lições aprendidas. Mas o crescimento, reconhecimento e certeza de que o caminho a seguir era este, acabaram por chegar.

Hoje em dia, Vasco orgulha-se da Sons em Trânsito – responsável pela gestão das carreiras de artistas como Bárbara Bandeira, Carolina Deslandes, Pedro Abrunhosa ou, mais recentemente, a representante de Portugal na última edição da Eurovisão, Mimicat -, ter resistido à centralização de profissionais e de atividades do ramo na capital portuguesa, Lisboa, continuando a operar a partir de Aveiro.

Vasco Sacramento deu-nos a sua visão, enquanto manager e agente de artistas, acerca do estado atual do mundo e negócio da música e também do seu futuro – e, a propósito disso mesmo, Vasco não tem dúvidas em afirmar que iremos assistir, durante as próximas décadas, ao impacto da inteligência artificial neste setor, dada a sua crescente importância e desenvolvimento.

Uma coisa é certa: não faltará quem nos dê música!

vasco sacramento - milenio stadiumMilénio Stadium: A pandemia que vivemos trouxe consigo anos de incerteza, ansiedade e até “falsas partidas” no meio musical. Hoje em dia podemos dizer que a situação já está completamente normalizada?
Vasco Sacramento: Sim, penso que se pode dizer já que a situação está normalizada. 2022 ainda foi um ano de adaptação e um ano de recuperação de muitas coisas que tinham sido adiadas durante a pandemia, mas neste momento a situação já está normalizada e 2023 já está a ser um ano completamente normal. E agora, se tudo correr bem, será sempre assim de agora em diante.

MS: Temos hoje, graças à adaptação que nos foi praticamente imposta, soluções que se tornaram em tendências e que vieram para ficar (como por exemplo o cada vez maior peso do on-line enquanto plataforma de divulgação)?
VS: Claramente o online tem ganho espaço e destaque ao longo dos últimos anos e veio para ficar, mas não substitui em nada a importância dos espetáculos ao vivo – são experiências diferentes, situações diferentes. O online neste momento tem uma força arrebatadora como plataforma de divulgação, como meio que os artistas têm de comunicar com o seu público – e, desse ponto de vista, de facto veio para ficar e tem um peso cada vez maior – mas não substitui em nada a importância do espetáculo ao vivo, que é uma energia que até agora a tecnologia não conseguiu combater ou igualar e acho que dificilmente conseguirá.

MS: Ainda assim, os desafios inerentes à entrada neste mundo da música com certeza se mantêm. Quais diria que são, atualmente, as principais e comuns dificuldades com que todos aqueles que dão vida a esta arte se deparam?
VS: As principais dificuldades eu penso que são sempre a dimensão do nosso mercado, que é muito exígua, um mercado muito pequeno. Nós temos um país muito pequeno, com 500 km de extensão e 10 milhões de habitantes e essa é a principal dificuldade. E depois há uma dificuldade crónica, que nós temos permanentemente, que é não conseguirmos alargar os nossos passos a outros territórios, a outros mercados, porque os países que falam português estão muito fechados à música portuguesa, nomeadamente o Brasil, e nós temos grande dificuldade em penetrar depois noutros mercados. Essa será, para mim, sempre a maior dificuldade, que depois acarreta imediatamente outros problemas – nomeadamente a falta de capacidade de investimento, falta de algum poderio financeiro, que tornam o mercado mais frágil e às vezes até um bocadinho viciado, nalguns momentos. Eu diria que essas são as principais dificuldades. Obviamente estamos a viver uma época de grande adaptação com, como já falámos, uma explosão da importância do digital, uma falência da música gravada, que neste momento funciona apenas como uma ferramenta de divulgação e não como uma fonte de receitas – e tudo isso são desafios que o mundo da música tem neste momento que enfrentar.

MS: Como pode alguém que queira entrar neste mundo da música fazer-se notar? Qual é o caminho?
VS: Eu acho que o caminho, como em qualquer outra atividade, é o trabalho. Não há nenhum segredo, não há nenhuma poção mágica. Acho que é uma mistura de trabalho com alguma sensibilidade, algum “ouvido”, digamos assim, alguma cultura musical e alguma sensibilidade para lidar com pessoas – o nosso produto são pessoas. Nós não vendemos esferográficas, nem cadeiras, nem carros – o que nós “vendemos” são pessoas. E portanto é preciso, naturalmente, gostar de relações humanas e ter algum jeito para lidar com pessoas.

MS: E, mais concretamente, enquanto empresário/agente… como olha para o estado atual da música, quer nacional quer internacionalmente?
VS: Eu olho com entusiasmo, porque estamos a viver uma época de grandes transformações como já disse anteriormente, e portanto há muitos desafios que se estão a colocar constantemente. E isso por um lado é altamente desafiante mas também é muito motivador porque estamos sempre a aprender e há sempre coisas novas para compreender. Então é óbvio que olho para o atual cenário com entusiasmo e com muita expectativa em relação ao que aí vem. Eu acho que neste momento temos uma nova realidade que se está a desenhar entre nós, que é a inteligência artificial, e que ninguém sabe muito bem como é que vai impactar o mundo da música – mas vai seguramente marcar, eu diria, a próxima década e fazer o seu percurso no mundo da música para alterar radicalmente a forma como nós encaramos a música e um espetáculo ao vivo.

Inês Barbosa/MS

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