Temas de Capa

Estaremos todos na mesma frequência?

A rádio sempre teve um impacto considerável na minha vida. Desde bem cedo. Nasci no meio de microfones e estúdios, já que a minha mãe fez da rádio vida. Quando digo vida, é mesmo isso: viveu com e para a rádio. Era mais uma paixão que outra coisa qualquer. Tanto que as paredes da minha casa, em Portugal, estão repletas de rádios antigos. Tipo museu. A minha mãe foi a voz mais jovem na rádio portuguesa nos anos 80 e ficou desde então associada a esse “dom” – a voz que todos adoravam. Quando me diziam, e ainda dizem, que ela tem uma “voz tão bonita!”, fico toda babada, concordo e tal, mas na verdade acho que nunca a “ouvi” da mesma forma – para mim era só a voz da minha mãe. Normal, vá.

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RÁDIO

Acontece que talvez por todo esse envolvimento, fui prestando desde cedo atenção à rádio, em particular às vozes da rádio, à música, aos programas, etc. Valorizei e respeitei sempre muito essa plataforma. Quando era adolescente, em Portugal ainda, lembro-me que a rádio era muito usada pela minha geração – mesmo que não a entendessem da forma que eu fui habituada a entender. Mas claro que compreendo que há muitos anos atrás, bem antes de eu nascer, a rádio teve um papel muito mais fundamental – era quase a única companhia de milhares de pessoas, que se diziam fiéis àquele seu entretenimento. Ouvi já muitos relatos que me deixam absolutamente consciente da importância da rádio nessa altura. No entanto, tenho ideia de que nos dias de hoje a realidade é outra.

Salvo algumas exceções, e pelo que me apercebo, a minha geração – millennials – já não se interessa assim tanto pela rádio. Acredito que seja muito por “culpa” das, necessárias, publicidades e também, ou acima de tudo, de conversas ou debates que não lhes/nos interessam muito. Na verdade, havendo plataformas como o iTunes, Spotify ou Tidal, onde podemos facilmente ouvir a música que queremos, à hora que queremos, sem intervalos, sem anúncios publicitários, onde podemos ouvir podcasts sobre os assuntos que realmente nos interessam, com a possibilidade de “rebobinar” quando nos apetece, sem interferências e à nossa inteira vontade, faz com que esses meios sejam as nossas principais opções.

Não vou dizer que não ouço, de todo, rádio, porque ainda me faz, muitas vezes, companhia de manhã a caminho do trabalho. Mas ouço uma estação que se dedica mais ao estilo de música que eu prefiro e que tem locutores que, com facilidade, falam de temas que me interessam – e pela quantidade de gente que interage com eles, rapidamente percebo ainda há, realmente, jovens a ouvir rádio. Tenho, no entanto, que reforçar que os assuntos abordados são maioritariamente “leves” e a música e os artistas são sempre uma prioridade. Mas tanto estou a ouvir a rádio, como de repente “desisto” e ligo o meu Spotify ao carro. E posso garantir-vos que quando entro no carro de qualquer amigo meu daqui – Toronto – , o telemóvel já está automaticamente conectado à música da playlist que eles gostam. São mesmo raros os casos em que a rádio é prioridade.

Há, de facto, este limbo em que a rádio vive nos dias de hoje – não sendo ignorada por completo e ainda apreciada por muitos, começa realmente a ser esquecida aos poucos e, cada vez mais, substituída por plataformas de streaming. Não sei como será o futuro, talvez comecem a surgir formas mais eficazes de fazer com que os ouvintes voltem a ser mais fiéis, mas pela análise que faço, acredito que a tendência é contrária. Vamos esperar e ver. Ou ouvir.

Catarina Balça

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