Temas de Capa

“Está a tornar-se mais difícil fazer o nosso trabalho e aprender” – Aluno do York Memorial C.I.

bigstock-A-Teenager-In-Jeans-And-Canvas-231317644-1024x590 violencia escola - milenio stadiu m

 

Os últimos meses evidenciam um problema crescente de violência nas escolas canadianas. Na área metropolitana de Toronto soam os alarmes sobre como a crise se está a agravar e cada mais a afetar crianças mais jovens, quer no papel de vítimas como de perpetradores dos mais variados tipos de violência.

A violência está a tornar-se uma ocorrência diária nas escolas do Ontário. Cada vez mais crianças testemunham um aumento de incidentes, num local que deveria ser um ambiente seguro.

Nesta edição quisemos ouvir os estudantes e tentar compreender o que pensam sobre a situação atual. Como lidam com a falta de segurança, auxiliares de educação e professores ausentes, e um ambiente que não lhes proporciona as condições necessárias para o seu desenvolvimento intelectual e preparação para os desafios do futuro.

O York Memorial College Institute é um exemplo das escolas que têm sido afetadas por esta onda de violência. Esta escola, anteriormente chamada George Harvey College Institute, recebeu todos os estudantes do antigo York Memorial College Institute, que foi destruído por um incêndio em 2019, albergando agora cerca de 1.300 estudantes, vindos de dois universos escolares diferentes, num edifício que não foi inicialmente construído para este número de estudantes, criando enormes desafios ao nível do relacionamento interpessoal e da segurança, não só para eles próprios, mas também para o pessoal e professores. Em novembro, o York Memorial College Institute foi subitamente encerrado devido a alegada presença de arma de fogo nas suas instalações, mas lutas, overdoses e ameaças são comuns nesta escola da região de York, levando os auxiliares de educação e professores a recusarem-se a trabalhar. Quisemos também perceber se este é um problema exclusivo das escolas públicas ou se afeta também as escolas católicas. Para o efeito, entrevistámos um dos estudantes do York Memorial College Institute e uma aluna da St. Oscar Romero Catholic Secondary School para saber mais sobre esta situação.

Por razões de segurança, os testemunhos são dados sob anonimato, optando-se por nomes fictícios.

 

Jason Silva – Aluno do 9.º ano

Escola: York Memorial C.I.

Milénio Stadium: Podes descrever o ambiente na tua escola? É amigável e achas que proporciona as melhores condições possíveis de aprendizagem?
Jason Silva: O ambiente na minha escola é muito pouco amigável. A maioria dos estudantes ignora-nos e, se pedirmos ajuda, muito provavelmente não a darão. Esta escola não é um bom local para aprender.

MS: Sentes-te seguro na escola? Porquê?
JS: Não, não me sinto seguro. As pessoas lutam constantemente e não têm noção dos limites. Os alunos fazem o que querem e não têm vergonha ou sequer mostram arrependimento de o terem feito.

MS: Devido a incidentes violentos e ameaças, várias escolas da GTA estão a enfrentar falta de professores e de pessoal auxiliar. Como é que isto está a afetar o teu processo de aprendizagem e como achas que te vai afetar no futuro?
JS: Sim, é verdade. Há falta de professores e auxiliares de educação. Isto afeta o nosso processo de aprendizagem porque em vez de termos um professor, vamos até à cafetaria. Perdemos o nosso tempo de aula e atrasamos o nosso currículo.
Está a tornar-se mais difícil fazer o nosso trabalho e aprender. Perdemos tempo de aula quando um professor não vem. Com a publicidade negativa que esta escola tem, entrar numa universidade vai ser difícil. A nossa escola é violenta, e as faculdades/universidades/empregadores nunca sabem quem contribuiu ou não para tal, e se fomos ou não uma dessas pessoas.
As condições dentro da escola são também muito más. Por exemplo, as casas de banho estão constantemente imundas e é raro haver sabão ou papel higiénico.

MS: Pesquisas e relatórios sugerem que a presença da polícia nas escolas pode ter um impacto negativo nos alunos. Qual é a tua opinião a este respeito? Deverá a polícia estar mais presente e ativa nas escolas? Porquê?
JS: A polícia não deve ir às escolas. A maioria dos estudantes não confia na polícia devido à forma como tratam as pessoas. Trazê-los para dentro das escolas faz com que as pessoas se sintam desconfiadas e inseguras.

MS: Achas que o Conselho Escolar do Distrito de Toronto (TDSB) e os diretores das escolas estão a lidar bem com este problema e estão a tentar promover um ambiente escolar saudável e positivo?
JS: Não, penso que não estão. Os diretores não se inteiram devidamente das situações e o TDSB mente sobre o que se passa na escola. Eles tornam o ambiente ainda mais negativo.

MS: Na tua opinião, o que está a causar o aumento do número de incidentes violentos nas escolas?
JS: Naquela escola o facto de se terem juntado alunos vindos de duas escolas diferentes não ajuda. Não sei, mas o facto de os professores não se importarem ou fazerem muito pouco em relação a isso é provavelmente encorajador para a criação de mais violência.

MS: Achas que as redes sociais estão a desempenhar um papel importante na deterioração da situação ou, por outro lado, a prevenir este tipo de situações?
JS: Penso que as redes sociais estão de facto a ajudar a prevenir estas situações. Os estudantes puderam planear um protesto online, o que já nos ajudou um pouco. As redes sociais estão também a sensibilizar todas as pessoas e os alunos para o que se passa na nossa escola.

MS: Que mais se pode fazer para prevenir ou pelo menos reduzir o número de incidentes violentos nas escolas na GTA?
JS: O que pode ser feito para prevenir os incidentes é não colocar escolas diferentes juntas. Provoca tensão e é aí que a violência começa. Outra coisa a ser feita é criar e implementar regras mais duras para os estudantes que causam problemas. A escola não leva os incidentes a sério. Devem aplicar suspensões/expulsões para quem causa estes incidentes, para que sirvam de lição.

 

Andreia Baltazar – Aluna do 9.º ano

Escola: St. Oscar Romero Catholic Secondary School

Milénio Stadium: Podes descrever o ambiente na tua escola? É amigável e achas que proporciona as melhores condições possíveis de aprendizagem?
Andreia Baltazar: O ambiente na minha escola é ótimo. Não há brigas, que eu tenha visto, nem ninguém se magoou.

MS: Os relatórios mostram um número recorde de incidentes violentos em escolas públicas no GTA. A tua escola alguma vez foi encerrada devido a violência ou ameaças contra o pessoal auxiliar, professores e/ou estudantes?
AB: Não. Felizmente, a minha escola nunca foi encerrada devido a esse género de problemas.

MS: Sentes-te segura na escola? Porquê?
AB: Na minha opinião, sinto-me segura na minha escola. Penso que há bastantes pessoas para proteger os alunos, auxiliares de educação e professores.

MS: Pesquisas e relatórios sugerem que a presença da polícia nas escolas pode ter um impacto negativo nos alunos. Qual é a tua opinião a este respeito? Deverá a polícia estar mais presente e ativa nas escolas? Porquê?
AB: Acho que se a polícia estiver perto da escola pode assustar as pessoas e levar a que as pessoas pensem que há problemas na escola. Acho que deveria haver uma razão para a polícia estar presente na escola e não estar presente diariamente sem que haja uma razão para que tal aconteça.

MS: Achas que o Conselho Escolar Católico do Distrito de Toronto (TCDSB) e os diretores das escolas estão a lidar bem com este problema e estão a tentar promover um ambiente escolar saudável e positivo?
AB: Tenho visto a promoção de um ambiente escolar saudável e positivo. Penso que eles estão a tentar ajudar a escola.

MS: Na tua opinião, o que está a causar o aumento do número de incidentes violentos nas escolas?
AB: Saúde mental. Penso que há problemas de saúde mental em algumas pessoas, que afetam a forma como agem e pode transformar-se em algo perigoso.

MS: Achas que as redes sociais estão a desempenhar um papel importante na deterioração da situação ou, por outro lado, a prevenir este tipo de situações?
AB: Acho que desempenha um papel importante nos dois sentidos. Há sempre coisas boas e más.

MS: Que mais se pode fazer para prevenir ou pelo menos reduzir o número de incidentes violentos nas escolas na GTA?
AB: Acho que todos na escola (alunos, professores e auxiliares de educação) se devem certificar que todos se sentem seguros e ter a certeza que ninguém está a ter problemas deste género. Passar a mensagem de que há sempre alguém disponível para ajudar e com quem podem falar caso precisem de ajuda. E, acima de tudo, que se tomem medidas para proteger os estudantes.

Pedro Caixinha/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER