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Entrevista ao Pai Natal

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Créditos: DR.

Esta é a entrevista mais exclusiva de toda a existência do Milénio Stadium. É um orgulho podermos afirmar que o Pai Natal aceitou responder às nossas perguntas. O velhinho que se eternizou à conta de um trabalho publicitário para uma bem conhecida marca de refrigerantes – a tal que, como afirmou Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se e depois entranha-se” – é uma das figuras mais solicitadas pela comunicação social mundial, mas devido à sua intensa agenda nesta altura do ano, é muito difícil conseguir que o velhinho de barbas brancas se disponibilize e, por isso, esta entrevista tem contornos históricos. Nós conseguimos! Trata-se de uma entrevista partilhada, porque nesta quadra natalícia não fazia sentido que fosse de outra forma. Afinal, vivemos um tempo de partilha.

Há declarações bombásticas, outras apenas surpreendentes, revelações… enfim, definitivamente, esta é mesmo uma entrevista a não perder.

Manuel DaCosta: Olá, Pai Natal. Você tornou-se um símbolo do comercialismo ou um curandeiro da saúde mental para crianças no Natal?

Pai Natal: Oh meu caro… eu só quero mesmo é dar as minhas voltas pelo mundo. Fica barato – não pago gasolina, nem preciso de marcar hotéis, porque durmo escondido nas chaminés (quando não fico entalado…), e como o que me deixam junto à árvore de Natal. Esta é a parte mais chata – sempre leite, sempre leite. De vez em quando podiam variar e deixar-me um copo de vinho…

Quanto a isso do comercialismo só lhe digo que se é verdade que há quem venda mais à minha custa… então vou passar a exigir uma percentagem. Sim, que isto do Natal é só uma vez por ano e uma pessoa tem que viver e a barriga de Pai Natal tem que ser mantida.  Agora as crianças podem e devem sonhar com a minha visita, desde que saibam partilhar com aquelas que não têm sequer ideia de que eu existo.

Lizandra Ongaratto: Pai Natal, você se incomoda com o fato de que mundo afora impostores estejam ganhando dinheiro com a sua imagem?

Pai Natal: Não! Penso nos pequenos comerciantes, pois esta é a hora de ganhar dinheiro. Mas que seria bom ter 0,00001% de ganho deste uso indevido, seria com certeza. Talvez poderia usá-lo nas minhas férias, durante o ano, nas Ilhas Maldivas.

Catarina Balça: Querido Pai Natal, há uma pergunta que me assombra desde pequena… Como é que as tuas renas voam?

Pai Natal: Bem, eu não deveria partilhar, porque o segredo é a alma do negócio. No entanto, como realizar o sonho das crianças é o meu dever, vou contar-te, mas guarda segredo! Não quero que esses Pais Natal de centro comercial me roubem o negócio. A verdade é que não existe uma fórmula única, fomos adaptando e melhorando as nossas capacidades à medida que a população mundial ia crescendo e era necessário oferecer cada vez mais presentes. Primeiro, a seleção das renas – passam por diversos testes, temos de escolher as que estão mais em forma e que têm a capacidade mental para lidar com um emprego tão stressante – isto é fundamental. Para as fazer voar já chegámos a utilizar um cocktail de baba de elfo, sendo que cada rena bebia 5L antes de arrancarmos em viagem no dia 24. Depois, começaram a surgir algumas contestações com o sindicato dos elfos e acabámos por optar por um chá de Linnaea – uma planta comum em áreas glaciares – mas também foi algo que só durou 100 anos porque com o aquecimento global a qualidade simplesmente não é a mesma e não surte o mesmo efeito. E depois passámos para os shots de hélio que as faz atingir cerca de 2,000km/h, claro que durante a noite precisam de recarregar energias e normalmente o açúcar resulta bem para prolongar o efeito – sim, quem come as vossas bolachas são elas, não sou eu, vá como uma ou outra. E escusas de pensar em experimentar isto em casa, infelizmente o poder de voar só é ativado no sistema das renas, talvez seja algo no sangue delas, sei lá. Acredita, eu já experimentei de tudo e o resultado foram duas semanas a vomitar, até emagreci 5kg. Agora temos outro desafio: o excesso de açúcar está a fazer com que tenha de mudar a minha equipa de renas de sete em sete anos, mas já estamos a trabalhar em algo totalmente inédito. Ainda não te posso contar, mas provavelmente este será o primeiro ano. Só te digo que vamos andar a 3,000km/h, ou seja quase o dobro do avião mais rápido do mundo.

Joana Leal: Ser Pai Natal é o teu emprego de sonho? O que é que fazes no resto do ano?

Pai Natal: De sonho não será… trabalhar no turno da noite deixa-me todo trocado, mas também é só uma vez. Se bem que, com 24 fusos horários, já viu a quantidade de noites no mesmo dia? O resto do ano descanso e trato da minha barba com óleos de amêndoas doces. De vez em quando vou ao Facebook para exercitar o cérebro.

Adriana Marques: Pai Natal, você também ganha presente no Natal? Se sim, quem o presenteia?

Pai Natal: Sim, normalmente quando distribuo os presentes tenho sempre leite e bolachas à minha espera. Primeiro foram os americanos que começaram a fazê-lo durante a Grande Depressão, mas agora praticamente todos o fazem. Algumas pessoas também deixam cenouras para as minhas renas, o que dá sempre jeito porque depois de percorrerem tantos quilómetros elas estão sempre com fome. Antigamente as pessoas deixavam prendas para o Pai Natal nas meias junto à lareira, mas com o passar dos anos a tradição acabou. Agora as meias só têm prendas para as próprias famílias, mas eu não me importo porque no Natal as crianças é que devem receber presentes. Aproveito a oportunidade para agradecer a todas as pessoas que, pelo mundo inteiro, me deixam bolachas e leite quando ando nos meus longos turnos para entregar presentes. Em Portugal, no continente deixam-me, normalmente, bolachas maria, os açorianos bolachas mulata e os madeirenses broas de mel. No Brasil é comum encontrar nas mesas bolachas de maisena e no Canadá deixam-me sempre bolachas com pepitas de chocolate. Gosto de todas porque sou muito guloso, mas as minhas preferidas são as canadianas. Mas tenho de ter cuidado com o açúcar porque estou a ficar velhinho e o meu médico já me disse para reduzir os açúcares para não ficar diabético.

Telma Pinguelo: Pai Natal, algumas pessoas dizem que és tu quem entrega os presentes e outras dizem que é o menino Jesus. Vocês têm uma parceria?

Pai Natal: Sim, fechamos uma parceria quando ele fez 18 anos e já tinha idade para comprar açōes da empresa. O menino Jesus está mais atento às rezas e ao lado espiritual e eu estou mais focado no departamento do consumidor. No próximo ano estamos a pensar aumentar a nossa sociedade investindo no mercado das criptomoedas.

David Ganhão: Como é que funciona a lista de pessoas bem e malcomportadas? Como é que o Pai Natal regista as boas e as más ações, tem um sistema de pontos?

Pai Natal: Eu tenho um computador de última geração que os humanos normais ainda desconhecem. E nele, registam-se automaticamente todas as atitudes e comportamentos de todas as pessoas do mundo. No computador, há um software que é atualizado de tempos em tempos por intermédio do Universo, porque com o aumento populacional, torna-se necessária essa atualização. Bom, nesse sistema vai-se estimando uma percentagem das boas e más atitudes de cada um. No final, o próprio sistema gera um presente, através de uma espécie de impressora 3D para aqueles que tem percentagens maiores em relação às boas atitudes. Tudo é entregue aqui na minha casa e eu saio para fazer a distribuição. Quero pedir encarecidamente a todos que não se esqueçam do meu leite morno e cookies perto das meias de presentes, hein?

Inês Carpinteiro: Como funciona a contratação dos elfos? Têm acesso a ajudas e subsídios, como de saúde por exemplo? Existe um sindicato de elfos?

Pai Natal: Os elfos são contratados pelo Pai Natal para trabalhar um dia por ano e por isso só têm direito a pertencer ao sindicato político chamado “Chega”. Os Pais Natal são realmente antigos treinadores do Benfica que perderam campeonatos, mas que Jesus quer que eles tragam um presente para o Natal. Os elfos são jogadores que ajudaram os treinadores, mas agora precisam de trabalho, mas não conseguem encontrar. Todos vestem cuecas cor de laranja com aquecimento, porque a cor é o símbolo de trabalho árduo, um dia por ano, e não querem mingar nenhuma parte do corpo. O resto do ano é usado para trabalharem como espiões do PSD formando a nova PIDE portuguesa. O Pai Natal dá subsídios aos elfos que menos trabalham durante o ano, consistindo em muitos sacos de laranjas, para não morrerem a fome.

Francisco Pegado: Pai Natal já pensaste em descansar mais e deixar o trabalho difícil para as empresas de entregas como o Canada Post ou a Amazon?

Pai Natal: Sim, já pensei no assunto, mas não é viável porque não posso correr o risco de haver atrasos. Já imaginaram se os presentes só chegassem na Passagem de Ano? Além disso, no Polo Norte os meus elfos preparam cada presente de forma muito personalizada e as crianças esperam que seja eu a entregar no Natal. Talvez um dia faça uma colaboração com essas plataformas para todos poderem acompanhar o status dos seus presentes, o que acham?

Fabiane Azevedo: Pai Natal tem alguma intenção de transformar o Natal num evento sustentável, a fim de reduzir a emissão de carbono no Natal? (Embalagens excessivas, brinquedos e embalagens de plástico, etc.).

Pai Natal: Há anos que já estamos a trabalhar nessa causa. O meu trenó já é comandado por renas justamente para evitar o uso de combustível e a poluição do ambiente com gases tóxicos. Além disso, o meu escritório agora é digitalizado.  Aposentámos as tradicionais cartinhas ao Pai Natal e trabalhamos apenas com e-mail, desse modo poupamos papel e muitas árvores ao redor do mundo.  Estamos focados no uso de embalagens recicláveis e no aproveitamento total dos presentes distribuídos. O Pai Natal faz o que pode, mas por irresponsabilidade de alguns pais as crianças continuam a pedir brinquedos de plástico e pouco sustentáveis…nós, para as deixarmos alegres, acabamos por realizar o pedido… mas a ideia é sempre ser o mais amigo do meio-ambiente possível, por isso, senhores pais, fiquem atentos aos pedidos da criançada e ajudem o bom velhinho a preservar a saúde do nosso planeta! Esse é o maior presente que podemos deixar para as futuras gerações.

Madalena Balça: Qual é o segredo da tua eterna velhice?

Pai Natal: Como é que é? Eterna velhice? Quem me dera saber! A verdade é que ser Pai Natal é mais uma coisa do tipo James Bond. Primeiro Sean Connery interpretou Bond, depois veio Roger Moore, seguido de Timothy Dalton, etc. etc. etc. O ator muda e o espectador repara na nova cara, mas nunca a questiona. É a mesma coisa aqui no Pólo Norte.  Quando um Pai Natal faz 80 anos, os elfos certificam-se de que estamos em boa forma para conduzir o trenó – precisamos de fazer exames anuais aos olhos, submeter-nos a uma revisão, participar numa sessão de 45 minutos de educação em grupo e fazer um teste de voo. Sei que é para a segurança de todos, mas é uma verdadeira chatice, e é por isso que estou a pensar numa reforma antecipada. Quando um Pai Natal fica demasiado velho, reforma-se e um novo assume o controlo, é por isso que todas as fotos do Pai Natal parecem diferentes e ninguém pergunta porquê. Provavelmente porque têm medo que eu me zangue e os ponha na lista dos malandros!

MS

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