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Educação Luso-Canadiana: Mudando de conversa

A questão das (baixas) conquistas académicas da juventude é uma conversa difícil de se ter na nossa comunidade. No entanto, todos nós temos uma opinião sobre esse assunto e, embora tenhamos dificuldade em identificar as causas profundas, parece que todos concordamos numa questão: embora os portugueses tenham contribuído grandemente para este país, estamos cansados do discurso habitual e repetitivo, que está impregnado na comunicação social, em relação ao fraco desempenho académico dos nossos jovens.

Sentimos que há, certamente, um conjunto de estereótipos e marginalização sistemática dos portugueses. No entanto, a nossa resposta não pode ser de negação. O problema é real e há evidências estatísticas e de pesquisa para o demonstrar. Consequentemente, gracejar com o assunto não nos serviu e nem nos serve bem. Por mais difícil que seja, também devemos reconhecer que o problema existe, que existem várias e complexas razões e, talvez, várias soluções para resolvê-lo.

Não descartemos o impacto negativo da mais longa ditadura na Europa Ocidental. Portugal não só ficou entre os países mais pobres no início dos anos 70, como também mais de 80% de toda a nação era analfabeta. A escassez e a pobreza alimentaram a emigração em massa, mas não chegámos sozinhos. Trouxemos valores de humildade e simplicidade católicos, juntamente com medo e desconfiança sistemática, fatores que também devem ser considerados nessas discussões. E embora os jovens estudantes tenham somado obstáculos, por terem sido os primeiros das suas famílias imigrantes a seguir estudos pós-secundários, é improdutivo oferecer discursos de vitimização ou alegar que a comunidade e/ou os pais não se importam. Devemos também reconsiderar as nossas atitudes tradicionais e muitas vezes problemáticas em relação ao ensino superior e à riqueza. A educação superior não pode ser medida apenas dentro de um discurso capitalista de risco e lucro, mas sim dentro dos parâmetros mais amplos e muitas vezes imensuráveis de cidadania global e integrada, por exemplo. Vamos todos também reconsiderar os papéis masculinos e femininos tradicionais e como os alinhamos com a educação. O ensino superior não pode ser visto como uma prática feminina e de lazer. Há também discursos radicais que indicam que a criação de um sistema educacional separado e de base étnica seria benéfico para os estudantes luso-canadianos. Mas precisamos de mais segregação? Não contribuiria para a nossa perceção já tão guetizada? Alguns até argumentam sobre os benefícios de aprender sobre a cultura portuguesa, em particular a idade de ouro da conquista do império, a fim de promover a autoestima desde cedo. No entanto, reproduzir os argumentos coloniais habituais não é apenas arcaico, mas também insensível e inadequado. Precisamos de nos encontrar na nossa história de emigração e rejeitar todas as narrativas opressivas de segregação e grandeza colonial.

Neste pequeno artigo também não posso oferecer uma solução simples. Temo que não haja soluções simples para o problema. No entanto, tenho certeza do seguinte: que devemos remover o discurso derrotista de todos os nossos diálogos. Em vez disso, vamos mudar a conversa para incluir tanto a opinião informada quanto a celebração. Não nos esqueçamos de que nossos sucessos são um tanto miraculosos considerando os nossos humildes antecedentes. E que sucessos devemos realmente celebrar? Por um lado, devemos celebrar TODOS os caminhos para os alcançar; o caminho para uma vida feliz e realizada, muitas vezes, não é linear ou não se baseia apenas na realização académica. Por outro lado, celebremos TODAS as vitórias, grandes e pequenas; O apoio contínuo de alunos matriculados em programas de orientação, como o “On Your Mark Tutoring Program”, é um que me vem à mente.

Em última análise, não é suficiente reunir uma ou duas vezes por ano e dar bolsas de estudo com base na etnia. De facto, embora tais iniciativas mereçam mérito, elas também podem ser vistas como uma faca de dois gumes, como marcadores do nosso status de dependência. Numa comunidade que se orgulha de possuir uma elevada taxa de proprietários de casas, como os académicos notaram, talvez o mais necessário seja uma mudança na nossa conversa e em vez de falarmos de custos, impulsionarmos o diálogo sobre questões de educação.

Maria João Dodman

York Unniversity

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