Desistir, nunca!

A política é uma paixão que nasceu cedo na vida de Elizabeth Mendes. Desde muito jovem que se envolveu ativamente em causas de apoio social ou mesmo políticas. Com uma carreira iniciada ainda enquanto estudante, trabalhou ao lado de figuras como Charles Souza e, ao longo dos anos, foi ganhando experiência em várias frentes e ganhado a confiança do Partido Liberal de Ontário para ser candidata por Mississauga Lakeshore. Na conversa que teve connosco, Elizabeth partilha o seu percurso político, os desafios das suas candidaturas nas eleições de 2022 e agora no dia 27 de fevereiro passado. No final, a luso-canadiana deu-nos também a sua visão sobre a importância de termos mais representação da comunidade portuguesa nas diversas áreas de governo. Uma garantia que Elizabeth Mendes deixou, de uma forma clara, é que não vai desistir de representar a área onde nasceu e sempre viveu.
Milénio Stadium: Como é que começaste neste mundo da política?

Elizabeth Mendes: Comecei muito jovem. Comecei com 16 anos a ajudar o Charles Souza. Naquele momento, ele era empresário e ele, naquele momento, queria ser eleito. Naquele momento, só tínhamos o Mário Silva, que era vereador. O Charles estava a concorrer na zona onde eu cresci, os meus pais já estão cá há muitos anos. Então foi assim que eu comecei, ainda estudante. Depois comecei a trabalhar com o Charles quando acabei a escola, onda estava a fazer política. E foi assim. Com 12 anos na escola, eu comecei logo na política do School Council. E depois eu cresci no clube português de Mississauga e aí aprendi a estar sempre a fazer coisas para o grupo e via lá muitos políticos. E gostava daquilo tudo, de ajudar e sempre gostei daquela organização.
MS: Nas eleições de 2022 concorreste pela primeira vez a um lugar no parlamento provincial. O que é que te levou a aceitar o desafio?
EM: Eu aceitei o desafio em 2021/22 foi a primeira eleição. E sabes, o Charles perdeu o lugar dele em 2018. Eu fazia parte da equipa dele e eu passei 12 anos a trabalhar com ele e fazer muitos dos trabalhos que um político faz no escritório. Trabalhei no ministério, ou seja, eu estava sempre à volta dele. Então eu sabia como é que se fazia e eu sabia que nós podíamos fazer coisas boas, podíamos fazer coisas que não trabalhámos porque não pudemos continuar naquela altura no Ministério de Finanças e estávamos sempre a fazer coisas que estavam a ajudar a população. Então, quando o Charles disse que não queria candidatar-se e queria que fosse eu a candidata… eu claro aceitei porque queria continuar tudo o que nós tínhamos feito juntos. Foi uma eleição que foi muito diferente, muita gente estava ainda muito influenciada pela pandemia. Foi uma lição, trabalhámos muito, mas não ganhei. Agora que eu já tenho um nome aqui nesta área o partido disse “tu tens de concorrer outra vez. Tu és a pessoa mais envolvida naquela zona para o partido e tu tens que concorrer outra vez”. E eu acredito que, se nós tivéssemos mais duas semanas, nós podíamos ter ganhado, mas com o tempo muito curto e nesta altura do ano, foi muito difícil arranjar voluntários para bater às portas por causa do inverno.
MS: Portanto, consideras que o facto de estas eleições terem sido convocadas de uma forma tão rápida prejudicou a tua candidatura?
EM: Completamente. Nós sabíamos que o Ford ia querer antecipar as eleições, mas nós estávamos a planear que seria em abril ou maio. Doug Ford já tinha decidido que o Trump iria ser a razão para antecipar a eleição, como o Trump acelerou tudo, logo depois de ser eleito, os Conservadores também aceleraram tudo. E foi assim. A nossa campanha nos primeiros sete dias nem podia pôr sinais nas casas, porque eu só tinha aqueles postes de madeira e não davam para a neve. Eu passei quatro ou cinco dias da campanha a ver se arranjávamos postes de metal para por os sinais no chão. E tivemos dois dias que nós não podíamos estar a bater as portas por causa de neve.
MS: Apesar de tudo isso, nesta eleição ficaste muito perto de ganhar. Que lições é que podes retirar deste resultado?
EM: Aprendi que é muito difícil fazer coisas sem a base, sem infraestrutura. Nós, o Partido Liberal de Ontário, em 2018, perdeu o estatuto de partido oficial. Em 2012, não conseguiu ter mais que 12 lugares. Os Conservadores e Ford passaram um ano a fazer advertising em todo o lado contra a Bonnie. E nós? Nós, como partido, não tínhamos como responder. Então acho que nós fizemos tudo o que nós podíamos fazer no nível local, mas no nível da província, o partido agora tem uma oportunidade, porque eles têm 14 lugares, têm a oportunidade de construir uma base que está sempre na luta. Também agora temos dinheiro, porque nós tivemos mais de 600.000 votos, e ficámos com um subsídio maior do governo, porque o subsídio é determinado pelo número de votos. Ficamos com quase 1,6 milhões de votos. Portanto, agora temos que continuar a construir uma base sólida. Isto não é feito de um dia ao outro. E eu acho que ao nível político já aconteceu mais neste país em dois meses do que tem acontecido em muitos anos. Então eu acho que no próximo ano e meio muita coisa vai acontecer.
MS: Bonnie Crombie não conseguiu ser eleita. Tratando-se da líder do partido que significado é que isto poderá ter, na tua opinião?
EM: Ela não foi eleita, mas ela conseguiu que 30% da população votasse em nós, só 43% é que votaram no partido que está a governar e nem 50% da população votou. É uma coisa que nós só podemos fazer com um líder que tem força. Mas o Ford passou tanto tempo e gastou tanto dinheiro a destruir a imagem de Bonnie Crombie que muita gente começou a não gostar dela e nós não tivemos meios por causa de não termos o dinheiro e infraestrutura de contrariar essa campanha. Então agora vamos ter essa oportunidade de fazer com que as pessoas a conheçam mais.
MS: Por aquilo que estou a perceber, o teu futuro politicamente é voltar a candidatares-te, daqui por quatro anos.
EM: Sabes, nunca se sabe o que estes quatro anos vão fazer. A eleição foi muito difícil para a minha família em ter crianças tão pequenas. Eu adorava a oportunidade de concorrer outra vez, porque acho que podíamos ter ganhado agora com um pouco de mais tempo. Quatro anos é muito tempo, por isso até lá, vou continuar a fazer o que posso para o partido ficar numa posição melhor, para ganhar comigo como candidata.
MS: Fala-se muito de um certo afastamento da população portuguesa, em relação ao mundo da política. O que é que se pode fazer para conquistar a atenção dos portugueses para esta necessidade de termos políticos da nossa comunidade nas diversas áreas de governo?
EM: Eu acho que muita da população portuguesa nem sabe o que é que uma pessoa que fale a sua língua pode fazer na política. Temos que puxar pela geração mais nova para terem interesse nisto. Eu já estou há muitos anos a ver o que eu posso fazer para ajudar a comunidade portuguesa. Acho que é a única coisa que eu posso fazer é falar com muitos jovens e dizer que se eles quiserem entrar na política, eu estou cá como mentor, como pessoa que pode ajudar.
MB/MS
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