Temas de Capa

Cuidar de quem precisa

A saúde dos que já eram mais debilitados e dependentes, ficou agora ainda mais em risco. Se parte da população idosa tem possibilidade de ser institucionalizada em lares, há também uma grande percentagem que, ou porque ainda têm o mínimo de condições para estar nas suas casas ou porque simplesmente não podem suportar a despesa, permanecem nas suas residências. No entanto, muitos são os casos que precisam de apoio ao domicílio, nomeadamente para a prestação de cuidados de higiene pessoal, medicação e alimentação. Os serviços de Personal Support Worker (PSW) não podem, por isso, entrar em quarentena.

Maria Oliveira, PSW (Personal Support Worker

Nesta edição do jornal Milénio Stadium, tivemos a oportunidade de conversar com Maria Oliveira, que nos conta como é o seu dia a dia, em plena época de pandemia de Covid-19.

Milénio Stadium: Há quanto tempo trabalha nesta área? Gosta do que faz?

Maria Oliveira: Sou PSW há quatro anos e sim, gosto do que faço!

MS: Que tipo de trabalho está a desenvolver? É exatamente igual ou há algumas restrições agora?

MO: O meu trabalho é ir a casa do cliente, vejo o que ele necessita: posso ter que lhe dar de comer ou de lhe dar banho, lembrá-lo que tinha que tomar os medicamentos (ou se tiver indicações por parte dos paramédicos para dar a medicação, dou-lhe o que ele tem que tomar), e antes de ir embora vejo se o cliente está em segurança, ou se precisa de alguma coisa. Pode eventualmente não estar tudo bem e aí tenho que avisar a empresa que o cliente está em determinadas circunstâncias ou num determinado estado. Quando lhe damos banho ou mudamos a fralda, se virmos que ele/a precisa dos serviços de enfermagem, temos que comunicar com a empresa também. )Agora claro que com o coronavírus há um reforço nos cuidados, mas continuamos a fazer praticamente tudo igual. Há alguns cuidados acrescidos, claro. Por exemplo, antes de chegarmos à casa, ligamos ao cliente para perceber se há algum tipo de sintomas, se tem tosse ou febre, se alguém da família que lá esteja também está bem ou se tem sinais alarmantes, para estarmos preparados, mas independentemente disso vou sempre protegida – levo máscara, luvas… Antes já usava luvas, sempre tive que lavar as mãos ao chegar a casa de um cliente, mas agora claro que a frequência com que higienizo as mãos é superior. Tenho mais precauções.

MS: Que indicações específicas recebeu da sua empresa para o tratamento dos idosos nesta altura de pandemia?

MO: Agora temos que responder a um questionário, diariamente, onde nos perguntam se temos tosse, febre, enfim, se temos alguns dos sintomas associados à Covid-19. Disseram-nos para termos ainda mais cuidados, porque este é um trabalho que já requer atenção e higienização regular, mas agora os cuidados devem ser redobrados, lavar as mãos constantemente e usar as luvas. Outra diferença agora é que no fim do trabalho estar feito, vamos logo embora – cada cliente, supostamente, tem uma hora connosco, alguns duas horas, e antes fazíamos o que temos a fazer com ele/a, e depois o resto do tempo ficávamos ali um bocadinho a fazer-lhes companhia, porque isso também é muito importante para um idoso, ter alguém nem que seja para falar… Mas agora não, agora acabamos o serviço e vamos embora.

MS: Como se sente, diariamente, quando sai de casa para tratar de pessoas que fazem parte de um grupo de risco?

MO: Sinceramente vou sempre com o coração nas mãos. Andamos na rua, de casa em casa, não somos as únicas PSW que vamos a casa dos clientes – eu, por exemplo, vou à tarde e final de tarde, mas há quem já tenha ido à mesma casa de manhã. Estou sempre preocupada porque não sou apenas eu a entrar lá. Eu sei que eu tento cumprir ao máximo as regras, para me proteger a mim e ao cliente, mas eu não sei o que as pessoas antes de mim fazem, nem as que eventualmente visitem o cliente, ou até em alguns casos há familiares a viver na mesma casa… Eu não sei que tipo de cuidados os outros têm, apenas sei os meus, e isso claro que me preocupa.

MS: Acha que mais do que um trabalho é uma missão?

MO: Sim, é isso. Uma missão. Porque eu tenho pena deles… Se ficarmos todos em casa, se ninguém fizer o meu trabalho, quem faz? Muitos deles dependem mesmo de nós, sem nós eles não conseguem viver.

MS: Tem medo? Não só por sair de casa todos os dias, mas por entrar em casa de pessoas diferentes todos os dias?

MO: Eu faço o meu melhor, mas sim, tenho medo. É viver sempre aflita e ir trabalhar com o coração nas mãos. Ando sempre a desinfetar-me. E depois é chegar a casa e ter cuidados que antes não tinha.

MS: Que cuidados extra tem quando chega a casa depois de um dia de trabalho?

MO: Eu agora tenho muito mais precauções! Eu antes, por exemplo, chegava a casa e tirava os sapatos, agora não, antes de entrar é que os tiro, lá fora, desinfeto tudo. Antes eu não lavava sempre o meu casaco com a roupa do trabalho, agora lavo sempre tudo e faço questão de secar na máquina para estarem ali em temperaturas bastante altas.

Catarina Balça/MS

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