Canadá e Portugal: Uma história partilhada e bem consolidada

Para muitos portugueses, o Canadá não é apenas um país estrangeiro. É um símbolo de oportuni-dade, liberdade e segurança. É um território onde milhares de emigrantes portugueses, ao longo de décadas, encontraram o espaço necessário para reconstruir vidas, erguer famílias e sonhar com um futuro mais digno. Para os canadianos, por sua vez, os portugueses representam muito mais do que uma comunidade trabalhadora: são vizinhos, colegas, amigos e elementos insubsti-tuíveis do tecido social, económico e cultural do país.
A história da emigração portuguesa para o Canadá está entrelaçada com os valores que definem a própria identidade canadiana, diversidade, inclusão, perseverança e solidariedade. E é à luz des-ses princípios que o percurso da comunidade luso-canadiana tem sido, desde os anos 50 do século passado, uma história de sucesso e de integração exemplar.
A abertura do Canadá às diferenças culturais dos diversos povos que foram compondo o seu teci-do populacional é aliás, sublinhada pelo deputado federal Peter Fonseca, luso-canadiano com uma carreira longa na política e também ex-atleta olímpico, sublinha precisamente esse papel do Canadá enquanto farol de esperança. “O Canadá continua a ser um país que inspira pessoas em todo o mundo a procurar aqui uma vida melhor. Somos reconhecidos pela nossa abertura, diversi-dade e respeito pelos direitos humanos, valores que fazem parte da nossa identidade nacional.”
Peter Fonseca fala com conhecimento de causa. Como filho de emigrantes portugueses, cresceu com os valores do trabalho árduo e da dedicação à família, valores que continua a identificar nas novas gerações luso-canadianas e que considera parte essencial da contribuição dos portugueses para o país. “O Canadá tem uma economia dinâmica, serviços públicos de qualidade, segurança e um compromisso firme com o multiculturalismo, que garante que todas as culturas possam flo-rescer e contribuir para o bem comum”, sublinha o deputado.
É precisamente nesse contexto que a emigração portuguesa encontrou terreno fértil. Os primeiros tempos da imigração portuguesa no Canadá foram marcados por sacrifício e adaptação. Apesar das dificuldades, o espírito de entreajuda e o foco na melhoria das condições de vida foram de-terminantes para o sucesso da integração. Para os emigrantes portugueses de primeira geração, o Canadá representava uma terra de promessas. Num país onde a democracia era plena, onde o trabalho era justamente recompensado e onde havia estabilidade e segurança, muitos viram uma hipótese concreta de mudar o rumo das suas vidas e das suas famílias. O Canadá significava li-berdade, de pensamento, de expressão e de escolha. Significava acesso à educação para os filhos, à habitação, à saúde pública, a uma reforma digna. Era, para muitos, a primeira vez que podiam viver sem medo, sem censura, sem pobreza extrema. Mas o Canadá também significava distân-cia. Para a geração que chegou nas décadas de 1950 a 1970, a emigração implicava uma rutura emocional profunda. Muitos deixaram pais, irmãos e filhos para trás. As comunicações eram es-cassas, as viagens a Portugal raras, e a saudade tornava-se uma presença constante no quotidia-no. Ainda assim, os emigrantes portugueses mantiveram-se ligados às suas raízes. Organizaram festas, marchas populares e procissões religiosas. E, aos poucos, passaram a fazer parte do retra-to canadiano.
Hoje, a comunidade luso-canadiana é vista como uma das mais respeitadas do país. Peter Fonse-ca não hesita em afirmar que “a comunidade portuguesa no Canadá é um exemplo brilhante des-se espírito. Ao longo de gerações, os portugueses mostraram trabalho, resiliência e dedicação à família e à comunidade, ajudando a construir este país.” e acrescenta: “Há um respeito profundo e mútuo entre o Canadá e a emigração portuguesa. É reconhecido o valor desta comunidade, não só pelo seu contributo económico, mas também pelo legado cultural e pelos laços de amizade que fortaleceram as nossas sociedades.”
Para os canadianos, os portugueses são conhecidos pela sua ética de trabalho, pelo sentido de responsabilidade e pela sua hospitalidade. As padarias portuguesas, os restaurantes, as pequenas empresas familiares, os profissionais de saúde, os engenheiros e os professores de origem portu-guesa fazem, hoje, parte do dia a dia de milhares de canadianos. Além disso, as instituições ca-nadianas reconhecem publicamente o contributo da comunidade portuguesa com homenagens, nomeações de ruas e praças, e apoio a iniciativas culturais e sociais promovidas por luso-canadianos.
Com o passar do tempo, e à medida que os filhos e netos dos primeiros imigrantes cresceram no Canadá, a comunidade portuguesa começou a transformar-se. As segundas e terceiras gerações nasceram e foram educadas em solo canadiano, com domínio perfeito da língua inglesa ou fran-cesa, com uma vivência escolar e profissional tipicamente canadiana, e com referências culturais mais híbridas. Se a primeira geração se caracterizava pela nostalgia de Portugal e pela tentativa de recriar “um pedaço da terra” no país de acolhimento, as gerações seguintes procuram afirmar-se plenamente como canadianas de origem portuguesa. Esta diferença nota-se em vários aspe-tos: no menor domínio da língua portuguesa por parte dos mais jovens; numa maior abertura ao casamento interétnico; na menor presença em instituições comunitárias tradicionais; mas tam-bém numa valorização do legado português com formas mais modernas de expressão, como a música, a literatura ou o cinema de origem lusa. Enquanto os pais e avós se mantinham ligados aos clubes e às festas religiosas, os jovens luso-canadianos procuram hoje outras formas de liga-ção à sua identidade, muitas vezes através de experiências pessoais em Portugal, de intercâm-bios, viagens, projetos artísticos ou iniciativas empreendedoras.
Peter Fonseca deixa-nos, aliás, uma mensagem clara quanto ao futuro da imigração no Canadá: “Mesmo que hoje as rotas migratórias mudem, continuamos a ser um país que acolhe de braços abertos aqueles que querem viver em liberdade, com dignidade e com a ambição de construir um futuro melhor para si e para os seus filhos.”
É certo que, atualmente, o fluxo de emigrantes portugueses para o Canadá já não é tão intenso como no passado. Muitos jovens portugueses optam hoje por destinos mais próximos, como a Alemanha, o Luxemburgo ou a Suíça. Ainda assim, o Canadá mantém-se como um destino dese-jado para quem procura estabilidade, segurança e um horizonte alargado. Além disso, os laços entre Portugal e o Canadá estão longe de se quebrar. Ao contrário: continuam a fortalecer-se através da nova vaga de lusodescendentes que, ainda que já nascido no Canadá, sentem Portugal como parte da sua identidade e procuram formas de homenagear essa herança.
Num mundo em constante mudança, o exemplo da comunidade portuguesa no Canadá mostra que é possível integrar-se sem perder a memória, contribuir sem esquecer a origem, construir futuro sem apagar o passado. Essa é, talvez, a maior lição da emigração lusa: a capacidade de transformar a saudade em força, a distância em ponte, e o estrangeiro em casa. E nesse percur-so, o Canadá foi, e continua a ser, um capítulo essencial da história portuguesa no mundo.
MB/RMA/MS
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